Estação Futuro

Em muitas cidades do interior gaúcho existem estações ferroviárias bem conservadas, ou bem restauradas, que fazem parte do Patrimônio Histórico e são utilizadas como museus e espaços culturais, numa louvável preocupação com a memória nacional. Ainda assim, ficaram meio estranhas essas estações ferroviárias sem trilhos e sem trens.

Depois que se vai o fio da meada é apenas poético, e de mérito exclusivamente folclórico, esse lembrar pela metade. Lá no bolicho da nossa memória existem histórias de trens fantasmas das priscas eras da RFFSA, porém, hoje, estão surgindo as “estações fantasmas”; que são meros retratos de uma época cujas raízes se esvaem pouco a pouco.

Decisões imediatistas e insensíveis acabaram com alguns povoados, incharam as grandes cidades, evaporaram o dinheiro das privatizações, degradaram, poluíram, e hoje suscitam apenas perguntas: Porque os maus políticos se venderam por trinta moedas? Por que existe o caos nas rodovias? Por que não se implementa mais o transporte coletivo? Qual a causa da insegurança pública? Cadê a boa instrução? Qual o norte a ser seguido?

As respostas a tantas perguntas vão além do simples exercício de meditação contido numa crônica; recaem nas vaidades humanas, na sobrecarga de trabalho da justiça, na ganância desmedida; e nas muitas ofertas do polvo da corrupção.

Nos países desenvolvidos as ferrovias se multiplicam, juntamente com as rodovias, sem se excluírem mutuamente. Enquanto isso, para nós, os trens de passageiros se tornaram passado e o nosso preservacionismo se limita a fachadas que se enquadrem esteticamente no contexto urbano, mas que suscitam pouca cogitação a respeito do seu exemplo histórico; ou de estratégica função econômica e social.

No Brasil não se conserva uma coisa paralela à outra, basta um grito de modernidade para excluir, sem ponderação, tudo o que não esteja no contexto da ocasião. Quem não se lembra de alguma coisa de que gostava e que foi substituída, cancelada, riscada do mapa?

O trem da nossa história anda sobre frágeis dormentes, envereda por túneis obscuros e às vezes trilha por sítios de muita corrupção. Porém, se quisermos chegar com dignidade na Estação Futuro precisamos reconstruir as pontes, reavaliar o passado e assentarmos poderosas bases no presente. Ações inteligentes podem fornecer a passagem, a locomotiva, e o salvo-conduto que nos afastem das máculas da sociedade especulativa e poluente. Um grande futuro começa ao valorizarmos, de verdade, e sem hipocrisia, todas as estações, todos os trens, todas as paisagens, e todas as pessoas dos nossos caminhos.

 

Vilnei Maria Ribeiro de Moraes - engenheiro civil
vilneimaria@bol.com.br

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