Tempos de Liquidez

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês contemporâneo nos faz refletir quando fala da “vida líquida”, uma realidade com fluidez onde o homem moderno levado pelo imediatismo e pluralidade de idéias consegue tornar permanente a insatisfação, uma crise em tensão continua, uma fragmentação anunciada da capacidade de questionar, inconsistência e volatilidade do pensamento. Numa sociedade “líquido-moderna” seus membros assumem posições onde a viscosidade das coisas molda o julgamento e a avaliação dos que focalizam seus desejos imediatos. É por isso que o advento da sociedade líquido-moderna leva a resultados inadequados e condutas indesejáveis.

Em tempos de liquidez é preciso estar atento aos valores éticos permanentes. Lembro, na velocidade das mudanças, o tempo em que fundamos a Academia Santanense de Letras. Inspirados na filosofia Aristotélica que prega a força da estética, da imaginação criadora da forma e da sensibilidade artística e nos modelos consagrados das tradicionais academias buscamos como lema “A arte pela Arte”, empolgados que estávamos ao cultivo das letras, na febre das academias, no século atual. Procuramos ser atualizados no conhecimento, no pensamento lógico, no estilo lírico, mas não deixamos de ser eruditos pela veneração à arte literária.

Éramos vinte, os fundadores, sentados à mesa improvisada, bem mais modesta do que os sonhos que acalentavam nossas aspirações. Vivíamos “tempos de solidez”. Sólidos foram os nossos propósitos. Sólido foi o nosso juramento na disposição de propugnar e fortalecer a cultura em nossa terra. A Academia Santanense de Letras alheia ao tempo, aos opositores, aos descrentes, cumpre o seu desiderato sem fechar as portas aos cultores das belas letras.

Hoje não há mais lugar para o absolutismo da erudição em “solidez permanente”, mas uma compreensão da “realidade líquida” forjada pela modernidade das redes sociais. Em Bauman, estamos conscientes da transitoriedade dos “tempos de liquidez” onde a fluidez das palavras não mais espera para serem ditas e escorregam soltas na fragmentação do espírito dissipando, às vezes, o maior bem que possuímos: as relações humanas.

Bem-aventurados são, os que encontram na solidez da fé a continuidade dos valores éticos, sólidos como a base de uma formação humanística. É compreensível, então, pela filosofia acadêmica “que nos suscita a palavra e a relevância que damos a ela”, a razão pela qual tantos foram preteridos e poucos os escolhidos. Sejamos, pois, o que fomos e o que seremos, a Deus pertence.

 

*Nylza Osório Jorgens Bertoldi
Cad. nº 2 da Academia Santanense de Letras

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