Falhas estruturais por trás da crise

Desde o estouro da grande crise financeira, há pouco mais de dois anos, o cenário econômico global apresenta um paradoxo: enquanto as nações em desenvolvimento passam por um período de bonança, as desenvolvidas sofrem com altos índices de desemprego e déficit descontrolado. Por tratar-se de um quadro aparentemente anômalo, há uma crença de que o problema vivido por Estados Unidos e Europa é apenas cíclico e não estrutural.

Acontece que, ao longo das duas últimas décadas, tal situação tem se repetido com certa frequência. Ora, se os transtornos vão e voltam, a falha não pode ser considerada atípica – ela, na verdade, indica uma deficiência muito mais profunda. Tal panorama derruba a suposição de que os países ricos estarão para sempre alçados à condição de potência mundial. E mais: deflagra a necessidade de uma série de políticas para que seu nível de desenvolvimento não decresça de maneira irreversível. 

Sem concentrar a culpa nas causas mais imediatas da crise – como a ganância de parte dos bancos e de seus gestores –, essa necessária agenda de mudanças deve lidar com os fundamentos da economia. Ou seja: medidas para encorajar a poupança entre a população e manter a estabilidade, bem como ações que garantam acesso a informações sobre riscos inerentes ao sistema financeiro. Isso passa por uma nova regulamentação do sistema bancário e pelo reforço da responsabilidade micro e macroeconômica.

Por óbvio, o receituário destina-se sobretudo aos países ricos; no entanto, o mundo emergente deve estar igualmente atento às movimentações ao redor do globo. Cada vez mais protagonista na conjuntura internacional, países como o Brasil não estão resguardados da instabilidade advinda de fatores externos. Se os americanos e europeus seguirem com dificuldades e puxando o freio, também nossa economia vai – por motivos diretos ou indiretos – gradativamente desacelerar.

Saber lidar corretamente com essa questão é um dos principais desafios impostos ao futuro do País. Para o ano e a década que se iniciam agora, a economia brasileira precisa tornar-se mais competitiva e moderna, investindo em seus setores-chave, reduzindo a carga tributária, diminuindo a burocracia e estimulando a geração de emprego e renda. São mudanças tão árduas quanto as que se apresentam às nações desenvolvidas, mas que sinalizam com resultados ainda mais recompensadores.

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