Tendência correta

O Comitê de Política Monetária [Copom] decidiu, por unanimidade, cortar a taxa Selic em meio ponto porcentual, fixando-a em 11,5% ao ano. Com isso, acelerou o ritmo de queda do juro básico da economia iniciado em agosto. Em seu comunicado oficial, o Banco Central apontou o ambiente global mais restritivo e a convergência da inflação para a meta de 2012 como principais justificas da medida.

De fato, as duas leituras estão coerentes com a realidade. A economia americana mostra sérias dificuldades de sustentar sua recuperação. A crise fiscal da Europa, por sua vez, permanece despontando com novos fatos cotidianos. Tudo isso transmite efeitos à economia doméstica de diversas formas, como a redução da corrente de comércio e do fluxo de investimentos, a restrição de crédito e a queda de confiança de consumidores e empresários. A desaceleração já pode ser sentida em diversos setores.

Quanto à inflação, as autoridades monetárias já vinham dizendo que o aumento de preços deveria chegar a seu pico no final do mês de setembro e começo de outubro. Logo, as últimas elevações inflacionárias, e as que porventura ainda poderão ser apontadas nos próximos dias, não decorrem da diminuição da taxa básica de juros. Elas já compunham um cenário previsível e haverão de arrefecer, ao natural, com a ampliação dos efeitos da crise – o que já é possível notar.

O importante é que o Copom não reflua dessa tendência. Até os financistas ligados ao capital especulativo, que apontaram supostos riscos no primeiro sinal de afrouxamento monetário, já arrefeceram suas críticas diante da falta de argumentos reais. Essa é uma ferramenta disponível para o Brasil enfrentar a crise, da qual pode e deve lançar mão em momentos de turbulência. O meio ponto percentual de diminuição vai representar, só de economia com a rolagem da dívida, cerca de R$ 8,5 bilhões. É mais dinheiro que sobra para investir em educação, saúde, segurança e infraestrutura.

Nem isso, porém, nos tira da incômoda posição de líderes mundiais no ranking dos países com maiores juros reais do planeta, segundo recente estudo elaborado pela Cruzeiro do Sul Corretora. Conforme esse levantamento, para que o Brasil deixe a primeira colocação, seria necessário um corte de quatro pontos percentuais na taxa Selic. Assim, chegaria a um juro real de 2,2%, ocupando a segunda posição, atrás da Hungria.

Portanto, a decisão de reduzir a taxa Selic está absolutamente associada ao contexto brasileiro e mundial e conectada às novas necessidades do país. Depois de tantos anos de conservadorismo, ela sinaliza que o Banco Central adotou uma tendência que, bem longe de ser irresponsável, é madura, coerente e calcada na realidade. É uma evolução que precisa ser mantida e aprofundada.

 

 

*Presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários
e ex-governador do Rio Grande do Sul (www.germanorigotto.com.br)

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