“O tempo são as rugas da eternidade.” Getúlio Neves.

Escrever poesia requer sensibilidade. Esta talvez seja a condição essencial para um poeta. Mas não a única. Necessário ainda saber criar, recriar e inventar atmosferas que nos façam navegar pelo próprio mundo interior. Ser poeta é isso: um visionário das palavras, uma espécie de feiticeiro do amor e das esperas, das fantasias e dos sortilégios.

Sem incorrer em nenhum sofisma pode-se afirmar que Getúlio Neves já nasceu poeta. Toda sua trajetória literária não nos deixa dúvidas de que a poesia caminhou sempre ao seu lado. Por isso torna-se difícil falar do autor de “Águas Siladas” e de a “Ira do Silêncio”. Fiel às suas convicções éticas é capaz de levar o leitor a entrar em seu mundo poético através de versos bem estruturados, sem afetação, de forma simples e leve. Descreve com maestria situações do cotidiano de qualquer mortal: “Toma teu mate sem nenhuma pressa,\respira a brisa morna em largo hausto,\sente os silêncios embelezando a tarde”.

Discorre o autor de “Resteva” sobre temas regionais, telúricos, acentuando o amor pela terra, pelo chão em que nasceu. “Num pedaço do meu pago\ vivo em tudo,\ moro em nada.\ Nestas sombras que se somem,\ quando chega a madrugada!” Traz, assim, versejando o gosto do pampa, do meio em que vive, como continua em o “Pago”: “Sou branquilho retorcido\ que em ponta de sanga vês,\ sou trilho de cancha reta\ que o alecrim já desfez”. Getúlio Neves espelha a vida como a sente com suas idiossincrasias e anseios com a propriedade de um observador arguto do mundo e das coisas à sua volta. O lirismo é uma constante em seus poemas, em estilo elegante como quem murmura exprime: Beijar é trocar de cicatrizes,\ recolher o Deus que mora em ti\ e umedece\ a minha boca quando oro e te vejo”.

Autor ainda de ” Quadras e Quadros”, do CD ” Anéis do Tempo” e do livro de contos “O Tapa Furado”.

É sempre uma imensa satisfação sermos contemplados com um novo livro de um de nossos melhores poetas riograndenses. O livro, ora a ser lançado, se apresenta como uma possibilidade de mergulharmos nos mais variados temas abordados que nele constam e que confirmam, sobremaneira, a vocação poética do autor.

Que “Resteva” não seja seu último livro, que não tenha no sentido literário o mesmo significado do vocábulo. Que seja apenas mais um a enriquecer a literatura de nossa fronteira e de nosso Estado.

Por Maria Regina Prado Alves.

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