Um Jogo Inesquecível

Gostaria de ter mais tempo para ler revistas e jornais do passado, que me façam relembrar fatos dos quais já estou esquecido. Mas ao menos quando esses jornais e revistas chegam às minhas mãos não me passa pela cabeça jogá-los no lixo. Deixo num canto da casa a espera de um tempinho para consultar suas páginas, tardiamente. Até porque o hábito da leitura é tão arraigado ao meu cotidiano, que se não aparecer nada melhor para satisfazer minha curiosidade até bula de remédio serve. Há sempre algo novo para se aprender.Mas, esta semana chegou às minhas mãos uma edição da revista Placar, dos anos 80, da época em que era dirigida elo jornalista Juca Kfouri, que me fez recordar um dos jogos de futebol mais sensacionais que assisti até hoje. Mais precisamente: Barcelona e Internacional em disputa do Troféu Joan Gamper, no mês de agosto de 1982. O time do Inter, comandado pelo conterrâneo Ernesto Guedes, inscreveu seu nome em letras de ouro na história do torneio. E não só porque ficou com o título, após vencer o Manchester United, da Inglaterra, na final, mas porque antes de disputá-la eliminou o poderoso Barcelona, em pleno Nou Camp, lotado de espanhóis empolgados com a possibilidade de verem seu time aplicar uma goleada num tal de Internacional. Pobre ilusão. O jogo, que abriu o torneio, terminou empatado no tempo regulamentar e, nos pênaltis, o Internacional venceu com grande atuação do goleiro paraguaio Benitez. Quando terminou a partida, os jogadores colorados explodiram numa alegria incontida diante do silêncio constrangido de milhares de torcedores do Barcelona. E, então, tive a oportunidade de assistir a um fato inédito para os meus olhos num campo de futebol. Subitamente, todos os torcedores presentes nas arquibancadas do Nou Camp se levantaram aplaudindo os vencedores, em admirável demonstração de grandeza humana. Já dentro do campo, ao lado do Ernesto Guedes, vivi uma emoção indescritível, como se estivesse sonhando. E também corri alguns metros na pista do estádio, numa emoção indescritível, como se estivesse sonhando. Queria compartilhar dos aplausos que, naquela hora, eram para o povo do Rio Grande do Sul, representado pelo Internacional.
A passagem dos anos só aumentou o significado do título do torneio Joan Gamper pelo Internacional que, além dos aplausos e das manchetes em jornais do mundo inteiro, recebeu uma taça revestida ouro. O Barcelona era, até mais do que hoje, uma máquina de jogar futebol e, naquele dia do jogo com o Inter, comemorava um fato especial:a estreia de Diego Maradona para fazer companhia, no ataque, ao extraordinário Schuster, da seleção alemã. Maradona reforçava um time que já contava com sete jogadores da seleção espanhola.Mas quem brilhou mesmo no jogo não foi ele, nem Schuster, mas, sim, Cléo Inácio Hickmann, nascido na cidade de Venâncio Aires que, na época, tinha apenas 23 anos.Azar do técnico do Barcelona que, meses antes, não aproveitou Cléo no time por simples birra pessoal. Cléo escolheu aquele jogo do torneio para mostrar ao técnico do Barcelona que ele teria sido muito útil a equipe catalã se continuasse lá após vencer seu contrato de empréstimo. Após o torneio, vencido pelo Inter, fiquei ainda mais convencido de que o meu clube do coração é realmente orgulho do Brasil. E coloquei o Ernesto Guedes num patamar superior da minha admiração.

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