Saudade do Brizola

Vi, esta semana,num programa de televisão,cenas deprimentes do abandono em que se encontra parte do prédio do Instituto de Educação Flores da Cunha, educandário tradicional de Porto Alegre. A escola continua funcionando mais por esforço dos seus professores e interesse dos alunos do que por vontade dos responsáveis pela educação no Estado. O Instituto, situado na avenida Osvaldo Aranha,próxima ao Parque Farroupilha, sofre com infiltrações de água no teto, nas paredes e apresenta salas sem as mínimas condições de acomodarem dignamente os alunos.Incrivelmente, a sala destinada à biblioteca da escola está exposta a goteiras nos dias de chuva. Já perdeu dezenas de livros, que não foram recuperados após a água atingí-los nas estantes. A biblioteca,portanto, tem pouca serventia para os alunos. Mas parece que nada vai mudar tão cedo no instituto educacional com o nome do nosso ilustre conterrâneo, José Antonio Flores da Cunha. Um burocrata da Secretaria de Educação informa que não há prazo para que as reformas indispensáveis sejam realizadas. Provavelmente vão começar quando já não existirem mais livros em condições de leitura e as paredes da escola estejam no chão. Pode existir absurdo maior num país que esbanja dinheiro na construção de novos estádios,atendendo as exigências da FIFA para a realização da Copa? Duvido que um país consciente da sua importância aceite com naturalidade uma escola caindo aos pedaços, degradada pela passagem dos anos e sem qualquer reforma.

Diante de tamanho desleixo com a educação no Brasil, me sinto tentado a escrever um livro, em linguagem acessível, para ser fartamente distribuído, rememorando o trabalho realizado pelo líder Leonel de Moura Brizola, que se transformou no maior fazedor de escolas no Brasil desde o Descobrimento. Na condição de prefeito de Porto Alegre,governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Brizola foi obsessivo no trabalho em favor da educação,que ele considerava corretamente o único caminho para emancipar o homem. Quando elegeu-se governador do Rio Grande do Sul,em 1958, com 36 anos,o Rio Grande do Sul amargava índices negativos na educação: tinha somente 1.795 escolas e 300 mil alunos. Mas, de 1959 a 1962, Brizola transformou completamente esses números insatisfatórios. Construiu 5.900 escolas primárias,272 escolas técnicas urbanas e rurais e 131 ginásios,colégios e escolas normais,num total de 6.302 estabelecimentos de ensino. Foram abertas 688 mil novas matrículas e admitidos 42 mil novos professores. Uma revolução no ensino gaúcho,que se repetiria na administração de Brizola como governador do Rio de Janeiro.Brizola,portanto,não se limitava a fazer discursos favoráveis à educação, objetivando a valorização de cada brasileiro. Ele plantava escolas onde o povo necessitava ,cabendo a Secretaria de Obras a missão de construí-las e não permitir a sua deterioração. Hoje, só nos resta a saudade do Brizola e a recordação das suas escolas de madeira ajudando decisivamente na formação de milhares de adolescentes gaúchos. Os tempos mudaram para pior no Rio Grande do Sul. Os alunos que se danem e as escolas que esperem as reformas prometidas para um mês qualquer, de um ano qualquer.

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