Lupicínio Rodrigues

Já escrevi aqui mesmo, nesteespaço, uma crônica incluída no meu livro “Perdas e Gratificações” lamentando a morte da vários amigos. Principalmente jornalistas e escritores que tive a sorte de conhecer em bares e redações de jornais.Foram tantos que me esqueci de incluir nomes que só mais tarde me ocorreram, como de Lupicínio Rodrigues,que conheci pessoalmente na primeira metade dos anos de 1970,em Porto Alegre.As composições musicais de sua autoria já gozavam da minha intimidade,mas o compositor,em carne e osso,postado diante de mim,não era sequer cogitado.Não lembro exatamente o primeiro encontro que tive com ele,possivelmente numa roda de boêmios.Mas lembro que minha amizade com o Lupicínio se consolidou no Bar da Adelaide,situado no centro de Porto Alegre,na rua Marechal Floriano,quase no cruzamento com a Duque de Caxias.As noites do Bar da Adelaide começavam cedo,principalmente no inverno. Às 19, 20 horas começavam a chegar músicos,cantores e frequentadores assíduos,que também se tornaram meus amigos.OLupicinio era um cara cem por cento tranquilo.Jamaisdemonstrou,ao menos no convívio diário,a menor reação de contrariedade.E na sua mesa todos se juntavam sem que ele discriminasse quem o procurava para ganhar um autógrafo ou uma palavra do célebre compositor de “Loucura”, “Esses Moços”, “Cadeira Vazia”, “Maria Rosa” e tantas outras composições de sucesso.O Lupicínio nunca deixou de ser um boêmio incorrigível,que não voltava para casa, aos braços da esposa Cerenita, antes das seis horas da manhã. Lástima que nunca me passasse pela cabeça gravar um entrevista completa com o Lupicínio. Se tivesse gravado,seria um documento precioso entre outros que virão à tona no decorrer do ano em que se comemora o seu centenário de nascimento.

A verdade é que o Lupicínio foi um vencedor na vida.Superou todas as dificuldades do caminho, desde o seu nascimento na Ilhota,vila situada próxima a atual avenida Ipiranga,até se tornar um compositor com musicas gravadas pelos melhores intérpretes brasileiros.E nas quais expressou o seu mais profundo sentimento em relação ao amor, à mulher amada,sem importar-se com modismos que poderiam desviá- lo da sua forma de ser e de viver.Incrivelmente,o Lupicínio se transformou num dos maiores compositores brasileiros sem saber tocar nenhum instrumento musical.Mas tinha ouvido,sensibilidade e notável capacidade de observação do comportamento humano,principalmente quando matizado por sentimentos menores, como a in veja e o ciume.Vou acompanhar todas as homenagens póstumas para Lupicínio Rodrigues e contribuir,talvez,com outros depoimentos sobre sua vida e obra.Ah,antes que eu esqueça:na condição de gremista, Lupicínio Rodrigues compôs o hino do seu clube, num tempo em que os torcedores iam a pé para os estádios assistir partidas de futebol.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.