Enigmas da saúde

Diante da opinião de “tantos especialistas”, estes sequer nunca deram uma injeção nem ao menos num familiar, teimam com soluções e diagnóstico para tamanha gravidade deste flagelo nacional, o acesso à saúde. Precisamos, neste sentido, ver o que está em jogo no descaso atual com a nossa Saúde. Certamente ela nasce de um descaso geral com o outro que é próprio de nossa cultura e da política profissional que dela faz parte. O tema do “outro” é muito importante em nossas vidas sobrecarregadas de narcisismo, egoísmo e toda a crença na identidade que erige as instituições voltadas apenas à sua própria autoconservação. Ora, o que se faz com a Saúde pública tem a ver com o que fazemos uns com os outros.

Na questão dos médicos cubanos, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. Em geral, nossos médicos se formaram numa escola que transmitiu a medicina como herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora sejam muito capazes profissionalmente e têm grande intimidade com Londres e Nova York com base numa escola de medicina científica especializada, mas estão muito distantes dos pacientes por estes não terem condições de pagá-los. Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro sendo que o nosso interior brasileiro ainda vive na época do Zeca Tatu (personagem de Monteiro Lobato em sua obra Urupês).

Não encontro justificativo para a hostilização aos médicos cubanos por parte de alguns seguimentos da nossa sociedade e até por alguns médicos, isso até porque nossos problemas são tão graves, que tal medida do Ministério da Saúde não vai ser suficiente para sanar tamanha demanda por assistência médica. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel, gosto é do legado do Che Guevara. É claro que há falhas e imperfeições no regime da ilha, mas sei reconhecer que sua vitória na saúde e educação marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina. Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos. Lembro que paciente e médico são uma obra divina em amadurecimento, nunca um enigma ideológico. 

Carlos Alberto Potoko

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