Uma bela lição uruguaia

Políbio Braga: “Depois que o Mujica e seus sequazes no Senado e na Câmara transformarem o Uruguai num entreposto de drogas para os gaúchos, vocês concordarão comigo que a invenção territorial espanhola só serviu para isso. Eu conheço bem o Uruguai, sim, um paiseco que se transformou num enorme asilo de velhos que se aboletam até na presidência.”

Muitas pessoas estão indignadas com o jornalista Políbio Braga em declaração preconceituosa aos uruguaios, e por tal declaração, eis minha resposta ao desinformado jornalista:

O Uruguay, com o equivalente a dois terços do Rio Grande do Sul, 180.000 quilômetros quadrados, parece um desses milagres pouco explicáveis da geopolítica. O fato de haver resistido às pretensões expansionistas de dois vizinhos poderosos – Argentina e Brasil – exige algo mais que meras explicações casuísticas. Privilegiado por águas profundas do seu porto, enquanto a Argentina e o Rio Grande eram um cemitério de navios pelo baixo calado, eles concentraram no porto deles os negócios da navegação marítima para toda a região do prata, além do mais, interessava a diplomacia britânica, sua madrinha da independência, a existência de um Estado-tampão entre Brasil Argentina. Porém, o fato de terem atravessado 181 anos de vida independente sem submeter-se à gula e às ambições de seus vizinhos, como hoje na guerra diplomática Argentina sob o mau silêncio do Brasil contra las papeleras (fabricas de celulose) as margens do rio Uruguai. E nesse exemplo, este povo nos revela uma nação de personalidade e aspirações autônomas.

Fugindo um pouquinho da história, mas o que me levou mesmo a me interessar pelos uruguaios, não foi só por sua fábula ou minha convivência com eles na área da literatura, mas principalmente pelas viagens que fiz pelo interior desse país. Nele encontrei a maioria das estradas vicinais asfaltadas, bem como bucólicas paisagens nos amanheceres a pintar as janelas do meu carro com escolinhas bem caiadas ao longe e enfrente delas, alunos perfilados uniformizados sob sua linda bandeira alvi-celeste a cantar. Pois é nesse detalhe, o que mais me chama a atenção nos uruguaios: Sua admirável devoção à educação popular.

Foi a partir da reforma escolar em 1876 por José Pedro Varela, adotando os princípios da gratuidade, da obrigatoriedade e da laicidade da escola pública, o jovem Varela, que faleceu aos 34 anos de idade, iniciou em seu país uma verdadeira revolução, responsável por maiúscula transformação na vida cultural daquele país. Em sua exposição de motivos, Varela registrava que, nos últimos 45 anos, houvera 19 revoluções no país, e que, desde a independência, nem 10 livros tinham sido editados. Revoluções e maus governos, segundo ele, seriam corolários da ignorância popular. Apesar da reação do clero, do bispo de Montevidéu, dos políticos que perdiam a faculdade de nomear e desnomear professores, a reforma foi implantada com pulso firme pelo presidente Latorre, um autoritário de visão reformista e modernizante. O fato é, que por longos anos esse ensino foi modelar e é causa de uma pequena inveja de nós fronteiriços por nunca termos tido um programa eficiente de educação e nem mesmo termos atingindo os índices de escolaridade e alfabetização alcançados na pátria de Artigas.

Carlos Alberto Potoko

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