Sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

Se ficar, o bicho pega; se correr…

Ninguém disse que seria fácil, mas tampouco se imaginava tão complicada a situação do hospital Santa Casa de Misericordia em relação a uma alternativa para a crise que se prolonga e renova já há tantos anos. A sociedade vem tentando ajudar, mas fica muito difícil de faze-lo, quando não se sabe direito o que fazer. O hospital, como instituição, pede ajuda – e tem eco nessas reivindicações. Prefeitura, Câmara, entidades como ACIL, CDL, Rotarys, Lions, Associação Rural, Sindilojas, Cremers, imprensa, sindicatos de trabalhadores, enfim, se dispõem historicamente a ajudar. Várias campanhas já ajudaram no processo de salvamento quando a situação chega a pontos críticos. Foi assim no processo de reabertura, em 2010. Quem não lembra da grande campanha promovida pelas entidades empresariais e capitaneada pela ACIL, que mobilizou a sociedade e promoveu importantes reformas e melhorias físicas no hospital? Tudo, óbvio, com contribuições da comunidade, dos empresários, das empresas, dos trabalhadores – como agora, com a promoção “troco solidário”, iniciada pela rede de supermercados Righi, que recolhe doações da comunidade. O problema é que, apesar de todos os esforços sociais, a crise parece não ter fim. Toda ajuda parece tornar-se um mero paliativo, porque as dificuldades do hospital se renovam e parecem perpetuar-se. Qual é o problema, afinal? Só dinheiro? O presidente da Câmara de Vereadores, Dagberto Reis, pediu na manhã de quarta-feira, ao secretário de Saúde do Estado, Ciro Simoni, a liberação de cerca de R$ 800 mil que o Estado deve à Santa Casa, por conta de serviços prestados na UTI. Simoni imediatamente chamou para a conversa o diretor de Assistência Hospitalar e Ambulatorial do Rio Grande do Sul, Marcos Lobato, que confirmou a pendência, mas deixou claro: não é possível – e não será possível – liberar o pagamento enquanto o hospital não apresentar as negativas necessárias. Isso é lei, e será responsabilizado por má gestão o administrador público que liberar recursos sem a observação das exigências legais. É como estar entre a cruz e a espada. A Santa Casa precisa de dinheiro para pagar contas e conseguir as negativas, mas enquanto não tiver as negativas, não pode receber o dinheiro. “O que se pode fazer, Secretário, para resolver esse impasse?”, foi a pergunta seguinte. “Só se alguém emprestar o dinheiro para que o hospital consiga as negativas “, foi a sugestão. Alguém tem para “emprestar”? O Município pode “emprestar” dinheiro?

Defensor
As críticas à situação do hospital têm rendido no jogo de forças político da cidade, também, e em alguns casos acabam descambando para a seara jurídica. O vereador Lídio Mendes, do PTB, chegou a afirmar que já sabe que está sendo processado. “É que eles consideram o SUS como sendo só dos pobres, e chamam de lixo, e eu defendo o SUS, então eu estou sendo processado porque eu defendo o lixo”, brincou ele.

Tamo junto
Mesmo recebendo tratamento VIP do Governo do Estado, que condicionou o apoio à doação do prédio da antiga JCJ de Livramento, na rua Rivadavia Correa, para o Município, à reserva de um espaço para instalação de microempreendedoras da chamada economia solidária, o grupo beneficiado não quer muita conversa com a Administração Municipal, pelo jeito. Como a coordenadora do grupo é funcionária pública, foi designada esta semana para prestar serviços na Biblioteca Pública. Imediatamente, houve uma reação surpreendente: as integrantes do grupo instalado no antigo prédio da Justiça do Trabalho moveram céu e terra para mostrar sua indignação. Queriam a coordenadora à disposição em tempo integral. O Prefeito teve que garantir que, como servidora pública, ela tem que cumprir expediente pelo menos até as 13h, mas que depois do expediente estará liberada para coordenar o grupo, ou fazer o que quiser. Pelo jeito, o grupo está bem solidário, mesmo.

Vergonha
Depois de conversar com Ciro Simoni e com Marcos Lobato, na Secretaria de Saúde do Estado, o presidente da Câmara de Vereadores de Livramento disse que os problemas não resolvidos da administração da Santa Casa fazem com que, muitas vezes, os representantes políticos que vão pedir pelo hospital acabem sentindo “vergonha” diante das autoridades estaduais ou federais. “Eu lembro que há dez anos, quando vice-prefeito do professor (Guilherme) Bassedas, o professor Angelo Santanna, disse em entrevista que foi pedir pela Santa Casa e ouviu do então secretário estadual da Saude, Osmar Terra, que o problema do hospital era de má gestão. Hoje, passado tanto tempo, eu também acabo ouvindo a mesma coisa do diretor Lobato. Ele me disse com todas as letras que a Santa Casa tem é que resolver seus problemas de má administração. É triste”, afirmou.

Caixa preta
A grande questão é saber por que a Santa Casa continua sempre enfrentando os mesmos problemas. Mesmo as entidades que costumam se envolver mais diretamente nas ações de ajuda ao hospital têm dificuldades para afirmar, com certeza, detalhes sobre a gestão da instituição. Infelizmente, quando são realizadas prestações de contas de forma pública, como aconteceu recentemente, poucas pessoas comparecem. Talvez a realização da audiência pública sobre a proposta de adesão ao sistema 100% SUS, a ser realizada hoje, na Câmara Municipal, ajude a descortinar mais um pouco essas questões.

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