Legislativo: em busca da paz
Por trás do clima “aparentemente normal” que está instalado – e muitos fazem questão de insistir na existência – a briga entre vereadores da oposição e o Executivo continua repercutindo. O ambiente de calmaria, de “paz e amor” como muitos apelidaram, transcorrido de janeiro até a sessão que rejeitou o projeto 133/13 – que autorizava o Executivo a pedir empréstimo de até R$ 3 milhões ao BNDES via Banrisul – está extinto.
Exceto pelas sessões de terça e quarta – em que homenagens foram realizadas – os pronunciamentos dos vereadores continuam contundentes. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Dagberto Reis (PT), toma para si a missão de buscar a retomada da harmonia entre opositores, Prefeito e vice. Reis não pode deixar de ser base do governo, ao mesmo tempo em que procura ser imparcial como presidente do Legislativo. A síntese das opiniões, ao longo da semana estão a seguir dispostas, com a expectativa de como será a semana que inicia nesta segunda-feira, dia de sessão ordinária. O clima não está dos melhores entre os legisladores.
Danúbio Barcellos (PP) até que tentou, pelo menos até agora em vão, que os rumos mudassem. Fez um discurso de conciliação. “Eu erro e vou continuar assim, acho que o governo errou e acho que todos erraram até aqui, talvez pela falta de diálogo e articulação. Justamente aqui no parlamento… Faltou o diálogo. Quero propor que aprendamos essa lição; é meu coração que fala aqui. Que tal darmos início a um novo ciclo, do PS, o Partido por Sant’ Ana; pois dá tempo de recuperar esses dias de desgastes, quando quem mais perdeu foi o povo santanense. Falo isso de coração aberto, porque sempre sonhei o melhor para minha cidade, assim como os colegas. Não pensem que estou aqui por salário. Aceitei o desafio de contribuir de forma mais efetiva por Livramento e também para conhecer um pouco o mundo da política. Tenho me dedicado muito, portanto fiquem certos de que jamais viria a tomar uma atitude que prejudicasse meus conterrâneos. Embora eu tenha sido abordado de maneira deselegante pelo vice-prefeito Edu Olivera, na frente desta Casa, na última quarta-feira, quando saia do plenário, acompanhado da minha filha e da minha esposa, e também de não concordar com a aspereza com que o prefeito Glauber Lima se manifestou sobre este Legislativo, tentando colocar a opinião pública contra os vereadores, acredito que agora é virar a página e aprender com os erros” – disse Danúbio Barcellos.
Lídio Mendes, líder do PTB, disse: “Acabou-se a paz que os vereadores diziam que iam fazer. Eu sentado ali, disse: ‘falar é fácil, é bem fácil, quero ver quando olhar na cara e ver quem é quem’. O grosso tinha razão no que estava dizendo. Está aí. Falo por experiência e ainda digo que vou morrer e não ver tudo. Cada vez que passa, para mim não é supresa. No fim, nós, vereadores da situação, precisamos dar resposta do motivo de muitos não estarem aqui, à comunidade. Na minha opinião, era matéria passiva, pensei que plantava-se Sant’Ana do Livramento, PS, como falou o vereador que me antecedeu (Danúbio Barcellos). Tenho um chefe de gabinete, dois assessores, eles me representam em qualquer lugar. A eles cabia, quando veio a matéria, auxiliar seu vereador, ler e mostrar o que era. Acho que devemos usar nossos assessores para nos orientar, agora dizer não tive tempo de ler, é uma vergonha. Iam me perguntar: que tu faz lá? Que não teve tempo de ler” – disse Melado, citando que o PS também vai precisar engolir sapos.
Gilbert Gisler, Xepa (PDT) disse que toda a tramitação do projeto foi normal. “Não houve afogadilho nenhum. Ficou provado” – disse. “Falaram em cheque em branco, ora, a população já deu um cheque em branco para o prefeito Glauber e o vice Edu administrarem a cidade” – afirmou. Xepa foi contundente ao nominar a peemedebista Carine Frassoni.
“Respeito o trabalho de cada um, elogio e posso criticar, mas não venham ser pai ou mãe de criança que não geraram. Vereadora Carine Frassoni, para a senhora.O que a senhora fizer de bom para Livramento vou aplaudir e lhe elogiar, agora, não se meta naquilo que a senhora não fez, não trabalhou. Vereador Hanney foi o primeiro a falar em arco cirúrgico aqui, em janeiro trouxe à baila algo que a administração e os vereadores não conheciam. Parabéns, vereador Hanney. Se perdeu o dinheiro. Se perdeu o convênio pelo prazo decorrido. Imediatamente, como vereador do PDT, pela amizade que tenho com Ciro Simoni, liguei, agendamos, ele mexeu na sua agenda; tinha 16 municípios para atender naquele dia, na terça-feira, 8h estávamos lá em Porto Alegre e ele reviu e atendeu nosso pedido, do PDT, ao contrário do que a vereadora veio falar na quarta-feira aqui: eu já sabia, fui eu que fiz, fui eu que pedi. Eu tenho a gravação, Carine. Faça seu trabalho e não use o trabalho dos outros para se promover” – disse.
Carine Frassoni respondeu. “Em nenhum momento, vereador. Nós apenas dissemos que, na segunda-feira, o senhor estava presente na reunião, que tínhamos falado com técnicos da Secretaria de Saúde que haviam nos dito que existiria a possibilidade de reaver o recurso do arco. Isso o senhor estava presente aqui, antes de viajar na quarta-feira. E o senhor ouviu eu falar em uma questão de ordem ao senhor presidente, que nós estávamos tristes por um lado, que havia a notícia da perda do arco, mas que o vereador Nogueira havia nos solicitado que na nossa viagem a Porto Alegre fizéssemos uma visita à Secretaria de Saúde, e quando o fizemos tivemos essa resposta. Foi que colocamos para os nobres colegas” – respondeu Carine Frassoni (PMDB).
O pedetista tornou. “A senhora falou quarta-feira, tenho a gravação aqui. Falou: eu sabia, eu já tinha estado lá, já resolvi. Então, eu fui de trouxa a Porto Alegre? O prefeito e eu fomos passear? Ganhar diária? Faça seu trabalho vereadora, respeite. Não estou aqui para fazer guerra com ninguém, mas respeito o trabalho dos demais vereadores. Se não quiser respeitar o dos outros, o meu a senhora vai respeitar. Já foi feito um novo projeto e aumentamos em R$ 60 mil a verba para aquisição do arco cirúrgico, já foi aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, já passou pelo conselho regional e já está sendo encaminhado em mãos para o secretário Ciro, visando à assinatura de novo convênio para adquirir o bloco cirúrgico”- tornou Xepa.
Aquiles Pires (PT) – “Eu, quando me propus ser vereador, refleti muito. Tomamos decisões que afetam a vida das pessoas, o que é muito sensível. Os poderes são independentes e harmônicos entre si” – disse. “Até agora, os vereadores não entenderam. O projeto era uma autorização para celebrar um convênio. Os bens e os valores viriam depois. Houve um equívoco em não fazer a discussão, mas a responsabilidade é de cada um” – disse.
Situação retira quórum para evitar voto de repúdio ao prefeito
Hanney Cavalheiro (PMDB) fez um pronunciamento irônico. “Sou evangélico e também oro pelo prefeito, vice, todos os veradores. Depois disso tudo que aconteceu fica uma reflexão: o prefeito tem a responsabilidade de conversar com a oposição. Porque em seis meses nunca nos chamou para dialogarmos, conversarmos, nos entendermos? Sou uma pessoa que desde o começo digo que quero ajudar, me chamem, não estou aqui para ser contra A, B, ou C, quero o melhor para minha cidade. Não se enclausurem. Não venham nos criticar… Essa viagem que o prefeito fez para a Palestina, para Israel, poderia ter nos chamado e estar mais articulado. Essa viagem só vai trazer despesa, essa viagem não vai trazer benefício nenhum para a cidade, como até agora não trouxe. Fiz parte dessa Casa quando o prefeito fez com uma cidade argentina como irmã de Livramento. E aí? Alguém se lembra disso? Algum recurso veio para Livramento? Não, só despesas, gastos. Espero que o prefeito desça do altar, seja mais humilde, converse conosco e a gente possa fazer com que Livramento se desenvolva. Terminou a novela Salve Jorge da rede Globo, e começou outra novela aqui em Livramento, a novela Salve, Xepa. Essa novela que está agora no Ibope. Faltou ambulância? Salve, Xepa! O Xepa é que vai lá falar com o secretário para arrumar uma nova ambulância. Perdemos arco traumatológico? Salve, Xepa! O Xepa é que vai lá resolver o problema. Agora, perdemos esse dinheiro dos R$ 3 milhões, taí o Xepa novamente. Salve, Xepa! E eu tenho certeza que ele vai arrumar. Não estou ironizando e sim elogiando o vereador Xepa pela amizade e relação com o secretário de Saúde. É um elogio ao vereador por se virar e ir lá recuperar aquilo que o governo está perdendo aqui. Que dêem pro PDT administrar a cidade. Pro PTB, tenho certeza que estará mais administrado” – disse.
Carine Frassoni (PMDB) – “Com certeza, na próxima quarta-feira, vai seguir o tema, até porque ele não se esgotou ainda, mas quando o senhor falou em garantir que essa casa não seja enxovalhada. Quando se diz que a política praticada pela casa ou por vereadores da Casa deve-se jogar na lata de lixo, o Executivo municipal está enxovalhando a casa como um todo. Gostaria e tenho certeza de que o senhor tem essa capacidade, de se colocar acima das questões políticas e como presidente fazer valer a honra do poder legislativo. Foi agredida a casa como um todo e não os vereadores da oposição. Queremos que o senhor entenda. Votar não é crime” – disse. “É crime dizer que 7 vereadores são traidores do povo. É crime dizer que votam contra os interesses do povo. Nós entendemos que o interesse é cuidar do patrimônio do povo e aquele projeto lesava os interesses do povo. O Executivou praticou um crime contra o Legislativo e queremos que o senhor aja, presidente. Foi contra o poder” – disse.
Maurício Galo Del Fabro (PSDB) – “Vereador Danúbio, estou aderindo ao pedido de paz. Hanney já nos falou sobre o Salve Xepa. Tem também o matem o Galo. Na rede social querem depenar o Galo. E ali, quem elenca é Fabrício, secretário municipal de Administração. Diz: “Galo é culpado disso, Galo é culpado daquilo”. Tem o Salve Xepa e o Matem o Galo. Sabem quem perdeu? Primeiro, William Shakeaspeare. Lembra do Romeu e Julieta, vereador Itacir? Esse homem foi um ícone em teatro, poema. Ele perdeu para vocês do governo, do Executivo, porque peça de teatro realizada foi sensacional. Esse homem perdeu” – disse o tucano, apontando para o petista Itacir Soares, que tentou um aparte, negado por Galo. “Vocês tem a maioria, querem que a oposição contraia uma dívida que no futuro poderá gerar aumento de impostos? É o resultado de empréstimo. Falharam, é um projeto amador” – ressalta.
Ao fim da sessão, Galo encaminhou oralmente um voto de repúdio ao prefeito Glauber Lima por “denegrir a imagem do Poder Legislativo e dos 7 vereadores de oposição” Pediu que fosse colocado em votação. Lídio Mendes pediu a retirada dos vereadores de situação. Jason Flores pediu que permanecessem.
A sessão foi encerrada por falta de quórum.
Carlos Nilo Pintos (PP) – “Pedi para o colega Helio Benia o espaço para que a justificativa que não pude dar, por erro meu. Estudei o projeto e votei contra convictamente e se voltar no mesmo molde voto contra. A lei 8666 obriga que esse tipo de projeto venha com uma minuta do contrato ou o plano de trabalho a ser executado. Obriga.Portanto, quem votou a favor, votou errado. E não sou contra a ideia. Ter máquinas é bárbaro, é muito bom. Agora, vamos querer a máquina pelo endividamento público ou por projetos aos ministérios? Acho que todo mundo quer. Se for por endividamento, vamos nos endividar para resolver a saúde do município, façamos empréstimo também. Podemos fazer para resolver vários problemas.Convênio não é empréstimo. Que fique bem claro, não houve a tentativa de fazer convênio, o projeto dizia que era um empréstimo, que o município teria que pagar. “Dos 132 projetos nesta casa fui contra dois, o do DAE e este e posso explicar claramente, pois empréstimo não é convênio” – concluiu.
Germano Camacho (PTB) – “Diante desse impasse com relação à não aprovação do projeto, queria dizer que mais uma vez, à comunidade santanense, que a nossa participação no atual governo se deu somente por acreditar nas pessoas que estão à frente da atual administração municipal. Conheço o prefeito Glauber. Fui seu colega 8 anos convivendo dentro deste poder. O plenário é soberano, em sua votação. Faz parte da democracia aceitar o resultado. O que advém da votação, o que será lá fora, a maneira como os partidos vão agir, faz parte do processo político. Toda vez que se vota, atinge e prejudica interesses políticos. É notório. Não precisa explicar” – afirma. “Defendo o Legislativo e o Executivo e queremos fazer com que as coisas melhorem, para que as coisas em nosso do município de Livramento comecem a evoluir e o desenvolvimento em todos os segmentos seja pleno. Para isso sou governo e nunca fomos obrigados a votar a não ser com a nossa consciência. Quero deixar isso claro” – disse o legislador.
Jansen Nogueira (PT) – O vereador começou sua manifestação de forma descontraída, a fim de reduzir a tensão no ambiente.“Tchê, Galo… Imagino um puaço desse homem velho, Deus o livre. Vir falar depois de toda essa pressão psicológica, que me levou, na quarta-feira, ao hospital pela primeira vez, com problema de pressão. Não pude viajar. Mas vai aprendendo. É nas adversidades que a vida apresenta que se aprende. Semana passada, chorei por ti, Sant’ Ana; cidade diferente do Livramento. Sant’Ana padroeira te abençoou, pois a fraternidade e a liberdade brotaram nos teus campos com mais vigor. Ó meu torrão querido, recanto leal gentil – eu vim para apaziguar, viu pessoal – por todos reconhecidos cartão postal do Brasil. As várzeas e canhadas e tuas coxilhas, repetem maravilhas dos teus heróis. A um povo que te canta alegremente, cidade diferente de amor e paz” – disse Nogueira, lendo o Hino de Sant’Ana. “A situação e a oposição, Galo Del Fabro, os dois convencem o povo, que ironia. Existem dois tipos de lágrimas, a da alegria e a da tristeza. A última nossa foi da tristeza” – concluiu.
Itacir Soares (PT)- “Fico muito sentido, jamais perguntei sequer para algum vereador o dia que não estava presente e o que estava fazendo. Sinceramente, levo o mandato com seriedade e não aceito mentira. Não estava presente na sessão, mas não estava brincando, porque era o último prazo que se tinha do programa Água para Todos, que incluia 29 assentamentos e nós tinhamos que cadastrar” – disse. “Podia ter pegado diária, mas não peguei. Companheiros, sinceramente, pedi e peço que refletissem. Eu não uso sair de sessão quando é tema importante. Gostaria de deixar claro que com problema da estrada nenhum município se desenvolve” – refere.
Dagberto Reis (PT) dizendo falar como vereador do governo, afirma que tem sido alguém que elogia a oposição por considerar importante. “Fui oposição que não teve nada atendido e aprendi. Tive postura crítica, mas respeitosa em todos os projetos quando tratava de recursos nunca deixei de votar” – refere. “Tudo o que aconteceu deixa lições para o governo, para a base aliada e temos que assumir responsabilidades, erros e acertos, bônus e ônus e discutir para resolver e melhorar o que erramos. Mas, temos que preservar a boa imagem desta Câmara. Vamos nos digladiar, sim, aqui se disputam projetos e ideias. Mas espero que venhamos a nos respeitar. Espero que esse momento de alguns vereadores que não estão em paz politicamente com o prefeito, que passe logo e me proponho a ser o interlocutor para que possamos discutir, aprovar e não aprovar – que é um direito da oposição” – referiu.
Ivan Garcia (PSB) – “O vereador Nei, que me substituiu, adotou uma posição, com os demais que votaram contra, posição sensata e correta. A parte mais lógica que ouvi aqui foi do vereador Nilo e lhe faço essa referência. Temos visto posição radical e botando goela abaixo o que vem fazendo o PT. Seria obrigação – se soubesse que não estavam os demais vereadores – não colocar em pauta. Deixar que a oposição prevalescesse, sem ter essa força toda, pois o governo é maioria aqui. Foi incompetência do Executivo. Não adianta trazer tropa de secretários aqui para colocar pressão. “Retirassem o quórum, não chegando a essa humilhação e depois querer colocar a população contra os vereadores” – manifesta.
Jason Flores (PMDB) – “Falei em terrorismo, sim. O presidente fala em preservar imagem do poder e alguém preservou minha imagem quando colocou meu rosto no jornal com um xis? Eu não tenho mulher, não tenho filho, não pertenço a uma igreja, não pertenço à sociedade de Livramento?” – questiona. “Me chamam de lixo, de praga, me xingam no Facebook e tenho que vir aqui escutar o senhor dizendo: olha, vamos preservar a imagem do Legislativo. Tinham que pensar antes de fazer terrorismo com os 7 vereadores. Eu sempre respeitei a todos, nunca ofendi, nunca fui para a rádio xingar secretário. Como diz o vereador Lídio todos são responsáveis, mas digam isso nas rádios, coloquem nos jornais”- disse, afirmando que foi feito terrorismo.