ARMOUR F.C: 96 ANOS DE UM PASSADO GLORIOSO E UM FUTURO PROMISSOR

Clube completa, hoje, 96 anos, reverenciando os heróis do passado, mas olhando com otimismo para os desafios do futuro

Time histórico campeão de 1981 escreveu uma das páginas mais belas dos 96 anos do clube

Junho e julho são meses pródigos do futebol santanense, pois foi neste período que, nas duas primeiras décadas do século XX, nasceram três dos quatro grandes clubes do futebol local. As comemorações dos aniversários iniciaram no dia 11 de junho, com o agora centenário Grêmio de Foot-bal Santanense, e encerram no 14 de Julho, com o aniversário do Leão da Fronteira. Nesta segunda-feira, dia 17, porém, o Bairro Industrial está em festa, pois seu filho mais ilustre completa 96 anos e dá mais um passo rumo ao centenário. O Armour Futebol Clube completa, hoje, seu 96° aniversário, orgulhando-se de um passado de conquistas e de revelação de grandes craques, mas também de um presente de resgate de sua identidade rumo a um futuro promissor.

A fundação

Muitos craques do Armour ainda estão ligados ao clube

O Clube Armourista se originou no Bairro Industrial do Armour. Foi fundado no dia 17 de junho de 1917, por funcionários do Frigorífico Swift Armour, empresa norte-americana que também tinha sua sede no bairro. O frigorífico e o clube tiveram, ao longo destes quase cem anos, suas histórias interligadas, pois os primeiros, e muitos dos craques que o clube revelou para o futebol saíam do quadro funcional da empresa. Grande parte dos atletas do Armour eram, antes de mais nada, funcionários da Swift Armour.

O seu Estádio é o Miguel Copatti, com capacidade para 3 mil espectadores, que foi palco de memoráveis partidas, dentre elas um Armour x Grêmio de Porto Alegre, válido pela 1ª Divisão do Campeonato Gaúcho de 1981, cujo resultado foi um empate de 1 x 1, com gols de Leopoldo, pelo Armour, e Tarciso, pelo Grêmio. Pelo tricolor porto-alegrense, jogavam Hugo de León e Emerson Leão. Renato Portaluppi jogou a preliminar, defendendo os juniores do Grêmio.

Títulos

Quando se fala em títulos do Armour, muitos ligam o clube ao feito histórico do título invicto da Segunda Divisão de 1980, mas a história de conquistas do alvi-azul é muito mais rica e iniciou nos famosos Campeonatos Citadinos, contra 14 de Julho, Grêmio Santanense e Fluminense, e nas Copas Governador do Estado. O Armour se orgulha de feitos como a goleada de 7 x 1 contra um de seus maiores rivais, o 14 de Julho, pela Copa Governador do Estado de 1975 e as participações no Campeonato Gaúcho, em quatro oportunidades: 1942, 1974, 1976 e 1981, tendo a melhor colocação no ano de 1942, quando chegou às semifinais da competição, sendo eliminado pelo Rolo Compressor, time montado pelo Internacional, que dominou o futebol gaúcho na década, goleando seus adversários de forma impiedosa. O Armour jogou em Porto Alegre, e perdeu por 7 X 3, mas foi um dos poucos a fazer três gols no Inter.

O clube também participou do Campeonato Gaúcho 2ª Divisão: 1975, 1978, 1980 e 1982 e Campeonato Gaúcho 3ª Divisão: 1985. Em 1980, o Armour Futebol Clube se sagrou campeão da Segundona Gaúcha. No Campeonato Citadino de Sant’Ana do Livramento, o clube já levantou a taça sete vezes: 1942, 1954, 1968, 1969, 1970, 1971 e 1980. Desde a década de 1990, que o Armour F.C. está licenciado da esfera profissional. Hoje, o clube vive um processo de reestruturação com o atual presidente Aimoré, à frente do clube desde 2009, promovendo um trabalho de melhorias do patrimônio, com revitalização das instalações do estádio Miguel Copatti, e desde o ano passado promove um trabalho com a categoria de base. O próximo passo é regularizar o clube na Federação Gaúcha de Futebol, e em 2014 disputar uma competição do calendário gaúcho com a base. É o representante do Bairro Industrial buscando chegar ao seu centenário em 2017, sonhando com um retorno aos gramados do futebol profissional, uma missão árdua para os armouristas. Mas desafios sempre fizeram parte da história deste senhor de 96 anos, que segue trilhando seu caminho rumo a um futuro de conquistas. Vida longa ao Armour Futebol Clube. 

O coração dividido de Clenir

Aos 16 anos, o diretor Ruben Bicca descobriu, no Bairro Carolina, um jovem zagueiro que se destacava. Clenir Gomes foi, então, levado para o Armour, e seis meses depois o técnico Antonio Fierro o chamou para o time principal. Começava ali a a trajetória do zagueiro no alvi-azul de Miguel Copatti. “Estreei em 1970 contra a Seleção de Taquarembó e entre idas e vindas fiquei no Armour até 1981, e fiz parte daquela equipe fantástica, campeã gaúcha daquele ano”. Clenir, que além do Armour, orgulha-se de ter subido outros três clubes (14 de Julho, em 1979, e Riograndense, em 1984) é muito grato ao Armour, embora em 1974 tenha saído e só voltando ao Miguel Copatti no time de 1980. “Naquele período vivemos um momento mágico com um time de operários da bola. Era um grupo sensacional que tinha qualidade, mas tinha união e era muito bem comandado pelo Luis Carlos Martins”, diz ele. “Tenho muito orgulho de ter sido revelado e sido campeão no Armour, e hoje torço muito pelo grupo que está lá reavivando o clube”.

Paixão do atleta que virou presidente

Eleito para o terceiro mandato no clube, Aimoré Belmonte tem devolvido ao armourista o direito de sonhar. O sonho de um garoto de oito anos também aumentou quando se mudou com a família para a Rua Guilherme Bond, nos fundos do Estádio Miguel Copatti. Logo o menino já dava seus primeiros passos na escolinha do Armour F.C., trazido pelo treinador da época, Gelci Nascimento, um dos homens históricos do clube. Do Metropol (nome com o qual se denominava a base na época), Aimoré virou jogador do clube, e em 1974, virou profissional, defendendo o alvi-azul por quatro temporadas. Hoje, ele é o presidente, mantendo a mesma paixão dos tempos de guri, mas com a responsabilidade triplicada de comandar os destinos do seu clube do coração.

A Plateia: Qual momento da sua trajetória o marcou no clube?
Aimoré: Foram dois. Como atleta, foi um jogo entre Armour e São Paulo de Rio Grande, em 1974, em que eu tive que marcar o centroavante Pinguela, considerado o melhor jogador do futebol gaucho na época. Vencemos o jogo por 4 X 0 e ele mal tocou na bola naquele jogo. E como torcedor, foi o Armour 1 x 1 Grêmio, pelo Campeonato Gaúcho de 1981.

A Plateia: Como o atleta virou presidente?
Aimoré: Foi um convite do Dr. Carlos Simas, jurídico do clube, mas por muita influência do meu irmão Sergio Belmonte. Ele sempre me dizia que o Armour tinha que voltar a ser administrado por armouristas e eu deveria assumir o clube e erguê-lo. Confesso que o desafio era grande, mas aceitamos e já estamos no terceiro mandato, conseguindo fazer muita coisa na recuperação do clube e também na retomada do futebol.

Quais são os próximos passos a serem dados?
Aimoré: Vamos continuar as reformas, com a campanha de doação de tintas para revitalizar o estádio. Desejamos para breve regularizar o clube na FGF, para nos candidatarmos a jogar uma competição na base.

Como o senhor espera ver o Armour no futuro, em 2017, por exemplo, ano do centenário?
Aimoré: Sonhamos com a volta ao profissional, é claro, mas precisamos avançar muito até atingir este patamar. É um processo que passa por melhorias no estádio, na área física do clube e na mobilização de todos os armouristas. Estamos dando um passo de cada vez.

 

Odilon Coimbra: 64 anos – ex-jogador

O pelotense foi um dos craques dos melhores momentos do Armour. Seu Odilon, aliás, ainda mora no casarão que era a concentração Copatti. Ele chegou ao Armour com 22 anos, em 1972, emprestado do Pelotas, para ser o lateral direito do Armour. “Vim eu e o ponteiro Enio Rodrigues e no ano seguinte jogamos a Copa Governador do Estado. Com todos os jogadores, eu jogava no clube e trabalhava na fábrica”. Em 1974, a convite de Silvio Scherer, Odilon foi jogar no Aimoré por empréstimo, já que o clube fechou o departamento de futebol. Voltou em 1975, quando em um jogo com o 14 de Julho, fraturou a perna. Depois de quase dois anos parado e muitas cirurgias, Odilon voltou ao Armour e foi um dos craques do time que encantou o Estado em 1980, sendo campeão da Segunda Divisão. “Aquele era um grupo de operários que se uniu em torno de um ideal, que se dedicou de corpo e alma ao clube e à fábrica, pois jogávamos no clube, mas não deixávamos de cumprir com nossas obrigações de funcionários. Não tinha vaidade, ninguém queria ser mais que o outro e nos ajudávamos dentro e fora de campo. Por isso deu tão certo”, lembra. Odilon não acredita que volte a se repetir o que ocorreu com aquele grupo. Sobre o atual momento, o experiente jogador vê as melhorias como importantes, mas acha muito difícil a volta ao futebol profissional, pois hoje o futebol é muito caro, o jogador já tem outra cabeça.

Ramão Vargas, 83 anos: 18 anos dedicados ao Armour

Aos 83 anos, Ramão Vargas ainda reside no Bairro a poucas quadras do estádio. Ele foi um dos grandes nomes do clube, mas fora dos gramados. Foram 18 anos ocupando cargos de diretoria, indo de presidente a outros cargos. O primeiro mandato foi em 1964, mas a primeira lembrança do Armour vem de menino. Em 1942, ele soube da façanha do Armour, que fez três gols no grande Rolo Compressor do Interacional, em Porto Alegre, um feito para a época. Ele também destaca o penta campeonato citadino de 1968 a 1971. Na vice-presidência, em 1979, fazendo dupla com o então presidente Luis Pedro Vigil, ele ajudou a montar aquele time que encantaria o Estado um ano depois, sendo campeão em 1980. “Montamos um grupo com jogadores da cidade, alguns experiente, outros jovens, mas todos identificados com a cidade e o clube. Não sabíamos que daria tão certo, mas tudo se encaixou”. O ex-dirigente vê com muito bons olhos a reestruturação do Armour, no momento. “Acho uma boa o trabalho da turma do Aimoré na reestruturação do clube e melhora do patrimônio, mesmo com poucos recursos, mantém o clube bem cuidado”.

João Carlos Bitencourt- ex jogador

Por pouco, mas muito pouco, João Carlos Bitencourt, o caçador, não entrou para a história do time campeão em 1980. Ele optou, um ano antes, em ir estudar em Bagé e teve que deixar o Armour. João Carlos surgiu no juvenil do clube em 1973 e dois anos depois já era profissional. Ele ficou no clube até 1997, quando foi obrigado a optar entre o futebol e a faculdade, pois havia passado no vestibular. A razão falou mais alto e a viagem para Bagé, para estudar, tirou-o do grupo que um ano depois viria a ser campeão da Segunda Divisão. “Me sinto feliz por ter jogado no clube e muito especialmente, hoje, ver o trabalho da nova administração. O Armour está no caminho certo de investir na base. É claro que todos querem ver a volta do profissional, mas tudo começa pela base, e a atual direção acerta em dar continuidade a esse projeto, para colher os frutos no futuro”, completou.

 

 

 

Enio Silva, 73 anos, torcedor

Aos 73 anos, seu Enio Silva faz sempre o mesmo trajeto, que acaba no Estádio Miguel Copatti. A ligação com o clube é eterna e toda a vez que cruza o portão é como se entrasse em um livro da história do clube do coração. “Tenho muitas lembranças daqui. Dos quadrangulares dos clubes da cidade com jogos memoráveis”. Saudosista sim, mas seu Enio também louva o momento atual do clube. “O clube está revivendo, graças ao trabalho desse pessoal comandado pelo Aimoré. Isso é positivo e mantém o clube ativo”.

 

 

 

 

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