Clube Farroupilha luta para não desaparecer

O Clube completa 79 anos em setembro e aguarda uma solução rápida para as crises financeiras que o levaram a Leilão judicial

Entrada do Clube Farroupilha, foto cedida pelos arquivos da Diretoria

O Clube Farroupilha, referência da cidade, está passando por uma situação bem delicada. Nesta semana, o prédio sede do Clube foi levado a leilão por uma ação trabalhista ajuizada em 1996. O valor da dívida está em aproximadamente 30 mil reais. Como não houve arrematação, o segundo leilão foi agendado para o próximo dia 27 de fevereiro.

Festa de Debutantes realizada no Clube Farroupilha

A Plateia procurou antigos presidentes do clube para falar um pouco a respeito de sua história. João Batista da Conceição, hoje professor e advogado, foi presidente do Clube entre os anos de 94 e 97, seu pai, um homem apaixonado pelo clube, também exerceu a presidência por 16 anos.

João Batista comenta que o Clube surgiu diante do racismo acentuado na região e da oposição dos Clubes tradicionais em permitir a entrada de negros. A comunidade negra se reuniu e fundou o Clube Farroupilha como um lugar para festas e reuniões e já possuí as denominações de Entidade Recreativa Farroupilha, Clube beneficiente Farroupilha e desde 79 passou a chamar-se Clube Farroupilha.

O clube foi fundado em 20 de setembro de 1935 por Alipio Pereira, Oreste Silva, João Jorge Silva, Alfredo Jobair da Silva, Marciano Isidro e Anatálio Silveira Leal. E tinha como propósito inicial tornar-se uma sede social onde não houvesse distinção de cor, sexo, nacionalidade, credo religioso, estado civil ou classe social com eventos e encontros voltados preferencialmente para o povo negro. As cores do Clube são vermelho, amarelo e verde.

Festas tradicionais de Carnaval no Clube Farroupilha

Batista diz que o espaço se tornou um lugar de festas tradicionais e chegou a sediar os carnavais mais badalados da época. Foi no ano de 1979 que o Clube tinha uma de suas frequentadoras eleita como primeira negra Miss santanense e mais adiante primeira rainha negra do Carnaval da cidade.

No início, o Clube era muito forte e recebia muito apoio de seus associados, com o tempo, os demais Clubes da cidade começaram a aceitar sócios negros “eles tinham muitos atrativos, como sede campestre, piscinas, salas de jogos e isso atraiu toda a comunidade, assim, os negros migraram para esses clubes”, diz Batista. A partir dos anos 90, o Clube Farroupilha não conseguiu mais se manter só com festas e eventos.

Batista comenta que muitos sócios antigos do Farroupilha estão hoje no Clube Cruzeiro, um Clube que há 25 anos não permitia a entrada de negros em suas atividades, como o Farroupilha é apenas um Clube urbano, apesar de possuir um espaço nobre, não pode competir com toda a estrutura dos demais clubes da cidade e não realizou o sonho de construir uma sede campestre, o que seria um atrativo.

Há 15 anos o Clube vem como uma série de dificuldades, não conseguindo se manter apenas com eventos e aluguel de espaço e com isso não cumpriu a série de obrigações tributárias e trabalhistas, gerando um endividamento.

João Batista Conceição, ex-presidente do Clube Farroupilha entre 94 e 97

O ex-presidente argumenta que o jovem de hoje não faz distinção de clube, ele se interessa pela atividade, atualmente não há mais segregação e por isso está mais difícil atrair os jovens para atividades no Clube.

O clube conta com uma diretoria que tem a frente Marques Taborda, e precisa de apoio geral da comunidade para não deixar desfalecer uma figura histórica de Livramento. Dentre os poucos clubes negros no Brasil, Livramento teve a honra de construir o seu, essa é uma história que não se pode perder.

O Clube Farroupilha integra a lista dos Clubes Sociais Negros do Brasil, instituição que mantém viva a história de luta e conquista do povo negro brasileiro.

Atualmente o Clube está fechado para reuniões por determinação do Ministério Público e aguarda avaliação técnica do Corpo de Bombeiros para abrir as portas para a população e voltar a fazer eventos.

A comunidade juntamente com a diretoria do Clube tentou realizar um terceiro acordo trabalhista, cedendo parte do terreno do Clube como forma de pagamento, mas esbarrou na burocracia. O Plano Diretor do Município não permite o desmembramento do terreno sob determinada área o que inviabilizou a concretização do acordo.

A redação do jornal A Plateia procurou o presidente da atual diretoria, Marques Taborda comentando por telefone que a situação é crítica, “estamos preocupados com o leilão e em resgatar as atividades do Clube, mas precisamos de muita ajuda. Esperamos o apoio da Câmara com o projeto para viabilizar o acordo”. A Diretoria entrou com projeto na Câmara propondo a mudança da regra e espera que ele seja votado antes do dia 27, data do segundo leilão, para que em fim possa quitar a sua maior dívida e continuar a levar alegria e festas para o povo santanense.

 

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