Mãe de taxista morto fala pela primeira vez

Maria Ana, mãe de Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, recebeu a reportagem de A Plateia para falar sobre a prisão do suspeito de ter matado seu filho

Maria Ana Gonzales, mãe do taxista Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, falou pela primeira vez desde a morte do filho, no dia 28 de março

Sant’Ana do Livramento tem vivido dias de incertezas, dúvidas, respostas e reações a cerca do caso que intrigou a polícia gaúcha e que culminou com a prisão, no último sábado, em Porto Alegre, do jovem Luan Barcelos da Silva, de 21 anos, suspeito de ter matado seis taxistas – três na Fronteira e outros três na capital do Rio Grande do Sul. Depois de dois depoimentos, um em Porto Alegre e outro em Livramento, Luan foi levado, ainda na madrugada de ontem, para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas – PASC, porque as autoridades entenderam que o jovem deveria ficar preso, aguardando o julgamento, em um local de maior segurança.

Após prestar depoimento por mais de três horas na 1ª Delegacia de Polícia Civil de Sant’Ana do Livramento, na tarde de segunda-feira, o jovem foi encaminhado para a Penitenciária Estadual, de onde saiu no fim do dia, rumo a Charqueadas. Luan foi em um carro escoltado e chegou ao presídio por volta da 1h. Ainda não há informações sobre o setor em que ele ficará. 

Coração de mãe 

A vida tentava voltar ao seu rumo normal, um dia depois de Luan ter sido levado para longe de Sant’Ana do Livramento, apenas algumas horas depois de relatar aos policiais da cidade os passos dados durante a execução de cada um dos três taxistas. Enquanto isso, em uma rua de pouco movimento e de silêncio, vez por outra rompido pela passagem de algum automóvel, em uma casa simples, as tarefas do cotidiano vão se desdobrando e precisam ser realizadas, embora a dor da perda ainda permaneça. Nos fundos da casa simples, está uma mulher com alma ferida, espírito machucado, depois que a vida de seu filho foi abruptamente interrompida, na madrugada do dia 28 de março. Em pelo menos uma das casas da rua Romagueira de Oliveira, na vila Santa Isabel, a vida nunca mais será a mesma. O local de onde saiu para trabalhar, pouco antes das 19h do dia 27 de março, sem saber que não voltaria, era também a morada do taxista Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, 33 anos, o filho mais velho da dona de casa Maria Ana.

Ontem pela manhã, algumas horas depois de mais um depoimento de Luan, em que novamente confessou a autoria dos crimes, a reportagem de A Plateia conversou com a mãe de Márcio, que fez um relato emocionado de como tem sido os dias sem a presença física do seu filho.

 “Meu filho estava contente, antes de sair para trabalhar…”, diz a mãe

“Recebi a notícia de uma forma terrível. Ele estava bem, sorridente, antes de sair. Esse jovem que fez isso com o meu filho não merece perdão. Meu outro filho não me deixou ir até a delegacia, ontem (segunda), para ver o assassino do meu filho de perto. Eu não estou aliviada, porque agora ele tem que pagar pelo que fez. Fazer o que foi feito, de sangue frio, como ele diz que fez? Meu filho era só tamanho, era uma criança. Minhas filhas não dormem há uma semana. Ele brincava muito com as irmãs”, relatou a mãe de Márcio, entre inevitáveis lágrimas, que insistiam em percorrer o rosto visivelmente cansado.

“…Sinto a presença dele e, para mim, essa dor não vai passar nunca…”

“Essa sensação é terrível, principalmente às 17h30, quando o chuveiro se abre sozinho e sei que ele está aqui. É horrível, e o pior é a gente perceber que alguns estão defendendo o bandido que matou meu filho (lágrimas). Acho que a mãe não soube criar o assassino do meu filho. Ela não soube criar. Eu me separei do meu marido quando o Márcio tinha 5 anos. Criei meus filhos sozinha e, muitas vezes, vinha para casa apenas com um punhado de guisado em uma das mãos para fazer a refeição e, nem por isso, meus filhos se criaram bandidos. Será que a avó que o criou não viu? O que dói mais é matar por dinheiro. Por que ele não pegou tudo e simplesmente foi embora? Meu filho não tinha muito dinheiro e ele matou só por matar”, disse Maria Ana. Ela conta que os dias têm sido terríveis, sem a presença do filho, vendo pelas reportagens que aparecem na televisão o sangue frio do algoz do seu primogênito. Eu não acredito que ele vá morrer de velhice, ou de doença. Ele vai ter o fim dele”, disse ela.

“Na hora de ele ir para o trabalho, por volta das 17h30, o chuveiro aqui em casa liga sozinho, sai água. A gente vê ele mexer no guarda-roupa e sinto a presença dele…”

O táxi em que Márcio trabalhava foi encontrado abandonado na Avenida Paul Harris

Emocionada, a mãe revela também a sua indignação com as hipóteses que foram aventadas sobre a eventual participação e envolvimento do seu filho com o tráfico de drogas. “Ele era um trabalhador que batalhava para dar o que podia de melhor para cada um dos filhos. Isso é horrível. Se um de nós mata uma pessoa, tenho certeza que nos agridem. Agora, esse monstro estava protegido para que ninguém o agredisse”, desabafou ela, inconformada. Ao falar dos últimos dias de vida de Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, a mãe diz que não notou nenhum comportamento anormal no cotidiano do filho. “Ele estava absolutamente normal. Sempre a mesma coisa. Brincando com as irmãs, que às vezes saiam pelo portão da casa rindo e se divertindo. Meu filho era só tamanho… era uma criança grande (choro). Ele pensava em ir morar em outro lugar com a segunda esposa e deixou tudo comprado aqui. Agora, no sábado, os filhos gêmeos dele estão de aniversário e completam 4 anos. Parece que toda a hora que vejo o portão da minha casa ele já vai chegar. Era um filho amoroso, brincalhão e eu criei meu filho sabendo que ele não andava metido em coisa errada”, disse ela.

O último diálogo com a mãe

Maria Ana repetiu, ao longo da entrevista, que o filho mais velho passava o tempo inteiro, quando estava de folga, em casa, brincando com as irmãs e com os filhos.
“Eu disse para ele ‘Para Márcio, para de correria, tu parece criança, sem modos’. Ele me incomodava… (sorriso amarelo e lágrimas)”.
“Ele disse, no dia que saiu de casa para não voltar: ‘Olha, minha velha, capricha na comida, porque amanhã é feriado e temos que ir todos ao Batuva’”
“Só que eu não sabia que era o último dia que eu iria ver o meu filho… é muito triste (desabafou)”.

Quem é o assassino confesso?

Luan Barcelos Silva é um jovem de classe média, de 21 anos, nascido em Sant’Ana do Livramento e morador da Capital. Ele foi preso pela Polícia Civil em Porto Alegre, na tarde do último sábado, no bairro Santa Cecília. O depoimento dele, tomado pela polícia, surpreendeu delegados e a cúpula da Segurança Pública no Estado. Frio e calculista, o jovem revelou detalhes, ao longo de três horas e 30 minutos, de como executava as vítimas com tiros na cabeça. No interrogatório, sempre de forma fria, segundo os policiais, ele contou que mandava parar o carro, dava dois tiros na cabeça do taxista, retirava o corpo e só então pegava o dinheiro e o celular.

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