Santanenses que estavam presentes na boate contam os momentos de terror que passaram durante a madrugada

Comanda é uma triste lembrança da estudante Sharom Lopes

Frequentadores do local relatam que havia muitas pessoas nessa noite, o que aumentou a confusão e prejudicou a saída emergencial

CAMILA MACARI mora em Santa Maria desde julho do ano passado. Cursando tecnologia em alimentos na UFSM, ela conta que não era frequentadora da boate Kiss, mas sempre que saía para a balada, ia para esse local.

Segundo a estudante, ela e a amiga Simone Nicolini, também santanense, estavam a uns quatro ou cinco metros de distância do palco e, talvez por isso, Camila não notou o início das chamas. “Eu não vi fogo nem nada, vi apenas que umas pessoas começaram a passar rápido por nós, em direção à porta. Quando me dei conta, estava todo mundo correndo e fui arrastada até o lado de fora da boate. Se eu não corresse, o pessoal passaria por cima de mim”, contou Camila, acrescentando que ao sair da boate, olhou para o outro lado da rua, encontrando a amiga Simone chorando, e virando-se para a porta de entrada da boate, viu uma forte fumaça saindo do local, além de pessoas sem roupa e queimadas.

Camila relatou que perdeu três colegas de curso e mais alguns conhecidos da universidade, mas que a cada minuto ficava sabendo que mais conhecidos estavam entre os mortos.

Residindo em Santa Maria com a irmã, ela conta que só teve coragem de avisar os pais, residentes em Livramento, às 7h. “Não quis acordar ninguém lá em casa para deixá-los apavorados. Mas liguei antes que eles acordassem e soubessem de tudo”, concluiu. 

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SIMONE NICOLINI, que cursa Fonoaudiologia na UFSM, contou que tudo aconteceu mais ou menos às 3h30 da madrugada deste domingo e, após o ocorrido, ela não pensou duas vezes e pegou o primeiro ônibus para Sant’Ana do Livramento. “O ônibus saiu de lá às 6h e cheguei a Livramento ao meio-dia, em estado de choque. Perto de mim, tinham dois santanenses: a Camila Macari e o Rafael Gusmão, que conseguiram se salvar. Mas é algo que me marcou muito. Na hora, não pensamos em nada, só em nos salvar”, relatou.

De acordo com a estudante, tudo aconteceu muito rápido: “Tudo estava tomado por fumaça, era um empurra-empurra, desespero, gritaria…”, completou.

Simone estava junto com Camila, e chamou a atenção dela o fato da apresentação ser com sinalizador, que emitia luzes brilhantes. Quando ela avistou a fumaça, acreditou que fazia parte do show, mas quando o teto pegou fogo, ela virou para trás e saiu em direção à porta. “Cheguei à porta e os seguranças me barraram, gritaram com todo mundo, dizendo que teríamos que pagar a comanda para poder sair”, revelou a universitária.

Segundo Simone, há duas pistas na boate, motivo pelo qual muitas pessoas não visualizam o palco e não perceberam o fogo. Ela também contou que já estava com a garganta irritada e com o nariz “fechado”, devido à forte fumaça que já se encontrava no local. Quando saiu, a universitária percebeu que a rua da frente e da lateral da boate também estavam tomadas pela fumaça. “Foram momentos horríveis”, resumiu. 

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RAFAEL GUSMÃO, que estava com Camila Macari e Simone Nicolini na boate, contou que avistou poucos santanenses no local, pois a maioria do pessoal encontra-se em Livramento, por ser época de férias. “Vi poucos santanenses lá, acho que uns sete. Fui comemorar meu aniversário e convidei várias pessoas, mas alguns não foram, justamente por não estarem na cidade”, destacou. Quando viu o início das chamas, Rafael disse que pensou rápido, e em questão de um minuto saiu correndo, se jogou no chão para não inalar a fumaça e procurou se deslocar para fora do prédio. “Me joguei no chão, fui pisoteado e puxado para fora. Se eu não acompanhasse o fluxo, seria derrubado”, disse. Rafael reside há três anos em Santa Maria, onde cursa Farmácia. 

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De acordo com a santanense SHAROM LOPES, havia cerca de duas mil pessoas na boate. Encontrando-se próximo à porta, Sharom percebeu os frequentadores correndo e dizendo que era briga. “Logo após, percebemos que estava incendiando, vi pessoas feridas, carbonizadas. Como moro a duas quadras da boate, fui para casa buscar água para ajudar as pessoas”, relatou.

Segundo ela, as últimas informações que recebeu davam conta de que seus amigos e conhecidos estavam bem.

Apesar dos relatos de que os seguranças estavam exigindo o pagamento da comanda da festa para liberar a saída aos frequentadores, Sharom acabou levando a sua comanda dentro da bolsa, uma triste lembrança, de uma noite que todos preferem esquecer.

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