Conselheiros pedem vistas e aumento não sai, pelo menos até fim deste ano

Intensos debates e farto rol de reclamações sobre horários, condições, entre muitos outros fatos, marcam reunião do Comut

Reunião dos conselheiros de trânsito debateu, por mais de 100 minutos a realidade do
transporte coletivo e o pedido de aumento das passagens

O Conselho Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana (Comut) realizou reunião extraordinária ontem pela manhã. O foco: abrir o envelope com o pedido das empresas do transporte coletivo, de reajuste das passagens de ônibus para R$ 2,40, a partir de janeiro de 2013. Por uma hora e 43 minutos, os conselheiros e convidados expuseram situações, narraram acontecimentos, especificaram detalhes e relataram fatos, debatendo a questão. Ao término do encontro, o presidente Marcos Sória fez o encaminhamento, colocando quatro possibilidades: a primeira, que o pedido fosse retirado de pauta – alternativa que não foi aceita pelo representante das empresas; a segunda, que fosse acolhido um pedido de vistas para análise; a terceira, que houvesse o arquivamento do pedido e, por último, a realização de votação.

Os oito conselheiros presentes manifestaram-se, sendo cinco para acatar o pedido de vistas e três foram votos vencidos. O empresário João Pedro Clavijo, da Sosal, que é conselheiro do Comut, terá muito a repassar a seus colegas das empresas após a reunião de ontem, a respeito das reclamações apresentadas pelos convidados.

O pedido de vistas para análise foi feito por José Luiz Souza Rubim, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Rodoviário de Livramento, corroborado pelo presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista, João Carlos Pereira Gonsales, ambos conselheiros. Este último solicitou que a prefeitura municipal providenciasse uma planilha – que não a mesma apresentada pelo Sindicato dos Transportadores Urbanos (STU) – discriminando a composição de custos, bem como uma pesquisa de campo e dados técnicos de valores para efeito comparativo.

O resultado da reunião do Comut será encaminhado ao Executivo municipal, após ter sido lavrada um ata, a qual conterá a narrativa dos fatos conforme a sequência da reunião e a assinatura dos conselheiros.

Argumentos expostos

Cada um dos conselheiros, assim como alguns dos convidados, expôs questões pertinentes ao transporte coletivo durante a reunião.

Marcos Sória, presidente do Comut, ponderou que se há uma empresa que poderia merecer a aprovação do pedido de aumento das passagens é a Sosal, haja vista a constante contrapartida social que oferece. “Porém, não podemos fazer essa diferenciação. Lamentavelmente, as outras empresas fizeram quase nada do que haviam se comprometido para melhorar frota, horários, atendimento” – disse, confirmando posição contrária ao reajuste.

 

Renato Machado, conselheiro, representante da Acil e engenheiro mecânico, manifestou a decepção quando, com José Rubim, acompanhou a vistoria dos veículos nas garagens. “Constatamos vários problemas, inclusive com a segurança da frota. Entrei debaixo de alguns carros e saí apavorado: não tinham as mínimas condições de trafegar. Dissemos isso claramente e, já no fim de semana, os veículos estavam rodando” – acusa.

 

 

 

José Luiz Rubim, conselheiro, representante dos trabalhadores no setor rodoviário, disse que não é possível comparar a qualidade do transporte coletivo e o que os funcionários recebem em cidades de maior porte que Livramento. “As condições dos carros e dos salários são completamente diferentes” – afirma.

 

 

Adroaldo Barreto, conselheiro, ex-diretor da Secretaria de Trânsito, foi favorável ao aumento. “Considerando a contrapartida que as empresas emprestam ao município, oferecendo serviços, não podemos penalizar a São Jorge e a Sosal pela precariedade da Vaucher” – sintetiza.

 

 

João Carlos Gonsales, conselheiro, representante dos comerciários, considerou que o índice de 20% é muito alto para um aumento. “Discutimos há pouco tempo, aqui no conselho, a necessidade de melhorias por parte das empresas, a fim de oferecerem condições dignas para os usuários e praticamente nada foi feito. Não concordo com esse reajuste desta forma” – disse.

 

 

Antonio Pereira, conselheiro, representante da ADeVi, mencionou, na condição de vice-presidente do Conselho das Pessoas Portadoras de Deficiências, promessas anteriores de veículos com acessibilidade e melhores condições. “Nada foi cumprido. Não atenderam a comunidade. Não deve haver reajuste” – mencionou.

 

 

João Pedro Clavijo, conselheiro, empresário do setor, representante das empresas, disse que o STU protocolou na prefeitura municipal um pedido de indenização, na ordem de R$ 36 milhões, valor esse que consiste no cálculo atualizado dos valores projetados a título de reajuste de tarifas que não ocorreram, com as devidas correções. “Em 12 anos, ocorreram 3 aumentos. O valor de R$ 2,00 não supre as necessidades precárias, pois há um passivo trabalhista e um passivo tributário enorme nas empresas. Desde 2008, pedimos licitação. Haveria licitação em julho, foi postergado o prazo e não ocorreu. O atual prefeito disse que faria em setembro, depois em novembro e não fez” – disse. Expôs também que há uma enorme gratuidade no transporte coletivo local. “Há mais gente entrando pela porta da frente do que passando pela roleta. Além disso, há uma diferença muito grande entre a tarifa pública, política e a técnica. Em 20 anos, as perdas são de considerável monta. Quando se pedia aumento de R$ 0,50, era dado R$ 0,30” – refere. Manifesta ainda que nenhum empresário do transporte coletivo faria investimento em frota, comprando ônibus de R$ 300.000,00 ou R$ 450.000,00 cada, sem ter a garantia de que poderia pagar esse investimento com a prestação de serviço como concessionário do transporte coletivo. O empresário disse que há disposição de firmar compromisso, desde que devidamente assinado, contratado em cartório, de investimento na compra de 11 ônibus com acessibilidade universal em 6 meses mais 30 dias. “Caso isso não seja cumprido, a tarifa reverte para os R$ 2,00, mas ninguém vai investir pesado, perde uma licitação, acaba corrido e depois como é que paga as aquisições?” – disse Clavijo. “A prefeitura vai ter que indenizar as perdas que existem e as que vierem a se registrar” – sintetiza.

A palavra da comunidade dos bairros

Débora Cinara Pires

Durante os pouco mais de 100 minutos de reunião, na quinta-feira, estiveram presentes, assistindo e também se manifestando, oferecendo informações, lideranças das associações de moradores ligadas à Unamos. Foi possível construir uma listagem básica de problemas constatados diariamente pelos usuários.
Entre as manifestações, a presidente da Associação de Moradores da Vila Nova Livramento, Débora Cinara Pires, disse que os cidadãos que utilizam o transporte coletivo estão vendo, ao longo dos últimos anos, apenas promessas de melhorias, feitas pelas empresas, sem efetividade. “Muitas pessoas pagam as passagens do seu próprio bolso, a liderança dos comerciários sabe que isso existe, e muito. Tiram do salário que recebem no comércio para pagar a passagem e se sujeitam porque precisam” – disse ela. Complementou salientando que concorda com a possibilidade de revisão do número de usuários que têm a chamada carteirinha, os quais não pagam passagens.
A conselheira tutelar Alcina da Rosa também ponderou sobre os problemas, como encerramento de trajetos que eram realizados sem que a população fosse sequer comunicada, veículos que não têm vedação. “Chove dentro do ônibus. Não vejo nenhuma melhora, mas nenhuma mesmo. Até seria do acordo com o aumento, mas desde que houvesse uma mudança muito grande. Tenho moto e tenho carro, mas uso, às vezes, o ônibus. Tem que melhorar antes de aumentar” – refere.

Principais problemas apontados no geral

Alcida da Rosa

No âmbito geral, os conselheiros discorreram sobre problemas comuns a muitas regiões da cidade, não entrando nas peculiaridades que também são registradas de deficiências específicas de algumas linhas.

• Carros em péssimas condições de trafegabilidade, com pneus carecas, motores que pifam seguidamente, portas e janelas que apresentam defeitos, deficiências de manutenção, como em freios; falta de conforto, ausência de comodidade; inexistência sequer de cortinas para evitar o sol abrasador; janelas que não funcionam, permitindo que chova dentro do veículo; falta total de acessibilidade; problemas no sistema elétrico de alguns carros;

• Veículos lotados nos horários de pique, por vezes deixando pessoas nas paradas em função de não terem condições de suportar mais gente em seu interior;

• Paradas sem condições de abrigar as pessoas do sol ou da chuva; depredadas, sem conforto e até mesmo, na grande maioria, sem bancos para que as pessoas possam sentar e esperar;

• Linhas em alguns bairros que simplesmente deixaram de ser realizadas sem comunicação aos usuários, como na Vila Real, Queirolo e Nova Livramento;

• Linhas que ingressam em determinados bairros somente até determinado horário, à noite, forçando pessoas que saem mais tarde do trabalho ou do estudo a dirigirem-se a pé para suas casas;

• Atrasos constantes de alguns carros em função de problemas mecânicos e eventuais troca de carros, sobretudo nas linhas São Paulo, Povinho, etc…

• Indisponibilidade de horários em algumas linhas nos sábados, domingos e feriados.

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