Adeus querido poeta das linhas

Não se diga que o entusiasmo é só próprio da juventude. Não. O entusiasmo é próprio dos que têm uma causa para defender. É imprescindível a causa para se poder viver. E nisso Oscar Niemayer (1907/2012) nos deixa uma lição, era idealista e até ajudava os amigos menos afortunados, como Carlos Prestes, o qual até deu uma casa para o seu companheiro que no final da vida não tinha onde morar. Quero dizer, não sobre seu altruísmo/emprego/família/status/idade/credo/nada do que você sabe até agora dele, mas quero dizer sobre sua existência “simples” em todos os planos da prancheta da vida de Niemayer. Frases dele do tipo: “As ideias marxistas continuam perfeitas, os homens é que deveriam ser mais fraternos”, revelam a transcendentalidade das palavras às linhas numa compreensão para os não íntimos da literatura marxista, tão questionada pelos defensores do capitalismo, como meramente mercantil. É aí que reside a monumental diferença de sua arquitetura para a dos outros arquitetos. O inusitado da linha é poesia, perpassa o homem material para se diluir ao meio que ele habita.
Penso que a cultura é construída através do diálogo entre as pessoas no dia a dia que o Niemeyer soube fazer como nenhum outro brasileiro. Nessa interação social foi construído gradativamente símbolos e significados (Brasília e seu prédios) que deram sentido aos brasileiros, e são compartilhados entre nós e o resto do mundo até hoje. A construção de uma cultura está repleta de elementos e significados que vão identificar um povo como pertencente a uma determinada comunidade ou região, diferenciando-o de outras comunidades, surge assim, a identidade cultural, no caso as linhas do Niemeyer transcendendo qualquer conceito porque costuraram definitivamente nossa identidade cultural em um belo poema de curvas e retas com fundações sólidas no coração dos brasileiros.
Carlos Alberto Potoko

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