Ruas dos dias que voam

Por entre as casa das ruas Dos Andradas e Rivadavia Corrêa eram apenas 100 passos que levava os passeios ao outro lado da linha divisória. Hoje, de um céu pesado ou ensolarado, as ruas se entrelaçaram entre “ormigon” e asfalto que cortam as duas cidades feito um delicioso bolo de sujar dedos numa festa de compras e é no ritmo nas compras que se mede o progresso desta fronteira. Quem se lembra da Casa América ou das finas “telas” do Siñeriz, fundada pelo asturiano, José Siñeriz, em 1920, para por essas ruas sempre desfilarem produtos da mais fina originalidade?
Eram tempos em que comerciantes experimentavam contar e pensar em quantas vezes passavam em frente de suas vitrines tão ilustres visitantes, cada qual com seu sonho de consumo, mesmo quando ainda não se sabia como tudo terminaria: se em lucro ou em prejuízo. Quando as luzes já anunciavam o final do dia, com os punhos dentro dos bolsos, em frente de suas casas, se pudessem, perguntariam aos turistas: Quando o senhor voltará a nos visitar?… Conformavam-se pensando em como era fácil sonhar nos confins desta maravilhosa fronteira…
O maior símbolo da luta contra a rotina que aqui passeou por muitos anos, foi a criança rebelde de teimosos comerciantes, ainda adolescentes que romperam com o medo e iniciaram uma luta contra o falso poder do grande mercado econômico, esta máfia intrusa do desemprego, que só acabou na sua própria morte. Foi assassinada pelos mafiosos deste próprio mercado, o do consumo. Aqui colocados sobre uma linha de trilhos para parecer suicídio, a locomotiva free shops os feriram criando um novo mercado, o turismo de compras. E agora, estão chegando os shoppings em comboio, um inaugurado agora e outro em andamento, para esmagar de vez o atraso econômico desta fronteira.
E assim, neste paralelo 30, os shoppings estão se erguendo do chão que nem erva daninha. Lembro-me do meu saudoso irmão, o inesquecível Miguel, que bradava profeticamente por um centro comercial “neste fim do mundo”, dizia ele. Penso que é uma pena ele não estar aqui para ver seu desejo e a se enlambuzar desse bolo de sonhos com produtos fabricados por mãos de todo o mundo.
Com os shoppings, Rivera já não é mais o “pueblito Ceballos”, assim como nós, com o projeto de Free Shops do lado brasileiro aprovado, já não somos mais uma cidadezinha de fronteira. Juntos, somos um centro comercial do MERCOSUL, algo mais do que um templo de consumo, como denominam alguns. Shopping, atualmente, é mais que consumo, é um Prozac para o humor de uma população, é o símbolo da fuga do roubo das ruas à nossa segurança. Ali se encontra amigos para um bate-papo sem se preocupar com o carro, por exemplo. Malandrinhos, flanelinhas, pedintes, etc. nos roubaram as ruas. No shopping, pelo menos, se pode caminhar descontraidamente sem consumir ou estar desconfiado, pode-se apenas caminhar à toa e até largar os filhos para esbaldarem-se de guloseimas em matinês, como deveria ser nas ruas. Por isso, estas mesmas “calles” de tão rica história, tendem a viver para sempre ruas de dias que voam, tempo presente com ventos do passado.

Carlos Alberto Potoko

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