Maior abstenção do Estado: uma reflexão que precisa ser feita

O candidato mais votado de Santana do Livramento foi a abstenção. 17.429 pessoas deixaram de ir às urnas no ultimo domingo, dia 7, representando 24,79% dos eleitores.

Somados aos dados da abstenção os votos nulos e brancos, chegamos ao surpreendente número de 20. 732 mil eleitores que deixaram de se manifestar ou anularam seu voto no dia mais democrático que vivemos no pais a cada dois anos.

Sobre isto cabe uma seria reflexão de todos, eleitos e não eleitos. Será o desencanto com a política tão maior em Santana do Livramento e região da fronteira que levou os eleitores a desistirem de votar? Será a causa desse desencanto o sentimento de falta de perspectivas econômicas para a região e cidade? Ou o descredito dos políticos chegou ao limite máximo nesta eleição?

Não acredito na tese fácil do descredito. Penso que temos carência de compromisso de quem tem os recursos com a região da fronteira. Não houve ainda governo estadual ou federal que se preocupasse de forma sistemática e organizada com a metade Sul do RS ou com a região da fronteira. Em 2005 foi constituído um programa para a Faixa de Fronteira, pelo então ministro Ciro Gomes, que falou sobre ele aos santanenses no clube comercial. Esse programa chegou a beneficiar Livramento com alguns recursos que oportunizaram a alavancagem de duas importantes áreas de produção da cidade: o leite e a apicultura. Também com recursos oriundos do programa Faixa de Fronteira construiu-se o Centro de inclusão Digital e outros. Lamentavelmente, hoje esse programa existe no papel e deixou de ser prioridade do governo federal e pouco ou nada se fala sobre ele.

De outra parte, tampouco o governo estadual tem política especifica para a nossa região: nem de estimulo a produção, nem de estimulo a abertura de novos negócios ou captação de novos empreendimentos.

Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre as regiões mais deficitárias do Estado brasileiro aponta que a metade Sul do RS e sua região fronteiriça foram as que mais decresceram economicamente nos últimos 20 anos. Portanto, todos sabem que é preciso ter um programa de estimulo a esta parte do Brasil, que mantenha as pessoas residindo e produzindo aqui, que gere renda e emprego aqui mesmo, neste cantinho brasileiro.

O que vemos nas campanhas eleitorais, no entanto, é outro tipo de discussão. Pouco a pouco a memória vai enfraquecendo e a realidade sendo banalizada porque nesse momento o que importa mesmo e falar mal do adversário!

Todos se transformam em santos milagreiros e a promessa fácil e descompromissada fica recorrente. O buraco, a iluminação, a limpeza da cidade obviamente chegam fácil ao ouvido do eleitor. Falar da nossa triste realidade econômica não é simpático, nem dá voto. Em nome DELE então deixemos esse debate para lá!

No entanto, uma enorme abstenção bate á nossa porta, puxando os políticos da confortável área de dizer qualquer coisa para ganhar o voto do eleitor, para a desconfortável área da verdade, onde residem o endividamento da cidade, suas carências de Infraestrutura e emprego, a necessidade de capacitação de seus trabalhadores, os parcos e sacrificados investimentos dos empresários locais e a ausência de política estadual e federal para ajudar a cidade e região a reverter este quadro.

Somando-se a isso vivemos ainda sob o jugo do antigo debate farroupilha: o papel do poder central. Em Brasilia, ficam mais de 60% dos recursos arrecadados por todos os brasileiros, e lá os prefeitos tem que ir, de pires na mão, buscar de volta o dinheiro que saiu daqui, dos impostos pagos pelos cidadãos. E as cidades vão assumindo mais e mais responsabilidades…

Talvez dai advenha todo o desgosto dos eleitores que deixaram de votar neste domingo, do fato de identificarem as dificuldades que a cidade vive, e perceberem a cada pleito eleitoral que o que menos importa é a verdade e o que vale é a desconstrução política e pessoal de cada candidato. Precisamos, urgentemente, atentar para o recado das urnas, em especial este ano, em que tantas pessoas deixaram de manifestar sua opinião através do voto. Cabe a todos, eleitos e não eleitos, realizarem uma reflexão sincera sobre quais esforços são necessários para melhorar a condição de vida do povo Santanense.

Afirmo que sim, vale a pena exercer a cidadania e escolher e também participar, fiscalizar.

Os políticos eleitos neste domingo não tem uma tarefa fácil, vencer uma eleição com uma abstenção de um quarto da população é como levar meia taça ao final do campeonato. A tarefa que vem agora é governar e legislar para todos, os que nao foram e os que foram votar.

Mari Trindade Machado

Bacharel em Direito, Pedagoga e Especialista em Gestão de Pessoas

Dirigente Estadual e Nacional do PSB

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