Meu caro livro

Comprei um livro de história da arte na Itália em 2009 que correspondia na época a R$ 30,00. Voltando ao Brasil, pesquisei livro semelhante: em seleção de cor, fotos em todas as páginas, papel couchet e edição com acabamento bom, custava em torno de R$ 145,00. Hoje, não custa menos que uns R$ 170,00 – nessa qualidade gráfica.

Quando fui em abril passado em Buenos Aires, na 37 a. Feira do Livro, encontrei Galeano, em torno de R$ 25,00; Shakespeare a R$ 6,00. Mesmo considerando que nas feiras os preços são promocionais, pois a venda é direta das editoras, nas livrarias havia oportunidades parecidas.

Agora pergunto, por que os livros são tão caros aqui no Brasil?

Neste país, onde a relação: nível intelectual/nível econômico, na maioria das vezes é inversamente proporcional. Profissionais como os designers gráficos, no que me incluo, necessitamos ver e rever com frequência as publicações de tendências estéticas (novos conceitos, escolas, referências), quando nem sempre recorrer à internet se faz caminho acertado, já que a própria tela do computador limita uma análise da informação, do estímulo imaginético. Como adquirir livros para fonte de pesquisa?

Brasil, país onde as pessoas preferem comprar roupas a livros, deixar a televisão ligada na sala, ao invés de conversar com as visitas que estão no sofá. Ler parece que não está nos planos da maioria. E ainda com esses preços, onde o problema pode estar na cadeia: gráfica – editora – distribuidora – livraria – consumidor final. Que de forma “mágica” o preço vai engordando como se frequentasse um buffet livre a cada parte do processo.

Causa-me indignação o preço dos livros. Causa-me indignação supor que mesmo que esse custo baixasse, o brasileiro, em geral, não o colocaria na sua lista de compras. Causa-me indignação escrever e escrever num país que não lê.

Os espaços virtuais mostram-se alternativa poderosa, é fato. Atalho para encontrar esse leitor ainda ávido por um complemento de vida. E para quem escreve, uma oportunidade de publicação, de alongar as fronteiras do pensamento e da interação, num mundo cada vez mais restrito entre o que não se lê e o que pensa que se lê. Assim ficamos, como prenúncio de um futuro bem próximo. Uma continuação das letras que nos formam, nos fazem mais humanos na ânsia de transcrever um universo ou na pretensão de ser um deles.

*Ana Cecília Romeu
*Publicitária e escritora

 

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