VALÉRIO E DELÚBIO
Marcos Valério e Delúbio Soares são personagens importantes no caso do mensalão. Ambos eram operadores da corrupção institucionalizada na política brasileira e sempre apostaram na impunidade e na proteção que teriam de seus superiores. Até agora, no entanto, só quem experimentou como é estar atrás das grades foi o publicitário mineiro.
Delúbio Soares, ao contrário, sempre tratou as denúncias e uma possível punição com um explícito sorriso nos lábios, mais cínico impossível, além de prever que o mensalão acabaria como “uma piada de salão”. Quando o caso teve denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República (PGR) e aceita pelo STF, Marcos Valério sentiu o mesmo arrepio da sua primeira prisão, mas Delúbio ficou na sua, isto é, na mesma confiança de um piadista de salão.
Agora que o cerco se fecha, Valério mandou recados bem claros aos verdadeiros mentores do mensalão e fala-se em vídeos produzidos por ele mesmo contando tudo sobre a corrupção política. Não se descarta também que já tenha feito, em rigoroso segredo de justiça, delação premiada, ou que irá fazê-la no momento exato, mesmo que não possa mais ser incluída no atual processo em julgamento no STF.
Com Delúbio Soares o quadro é diferente. Ele estaria dizendo a amigos próximos que vai se manter em silêncio e se pegar uma cadeia vai encará-la como uma “missão partidária” A isso cabe classificar como uma militância comparável a de um homem-bomba que se imola em nome de uma causa.
O ex-tesoureiro do PT é, de fato e virtualmente falando, um homem-bomba e poderia fazer explodir o seu partido se resolvesse falar tudo o que sabe e o que fez pela causa “revolucionária” de seu partido. Algo assim como os fins (a vitória final da revolução socialista do PT) justificam os meios (o mensalão).
A ser verdade o que teria dito a amigos comuns – vai encarar uma possível prisão como uma missão partidária, mas jamais falará sobre o mensalão – estamos diante de uma singela conclusão, comparando Marcos Valério com Delúbio Soares.
Os dois têm muita coisa a ser contada. Valério, com medo de mais uma prisão vai falar ou já falou nos vídeos guardados em cofres bancários. Delúbio vai matar no osso do peito todas as broncas, mas ficará em silêncio.
Isso tudo significa apenas que Valério não vê missão alguma em ir para a cadeia e que Delúbio tem, realmente, muita informação guardada em sua memória sobre o mensalão. Não fala por que prefere ir sozinho para o sacrifício. A lei do silêncio não deixa de ser um pacto ético, entre cavalheiros e entre bandidos.
ARGUMENTO DUVIDOSO (1)
Os advogados de defesa de alguns réus do mensalão admitem que o dinheiro não contabilizado do valerioduto – aqueles empréstimos bancários sem garantia real – foi usado para o pagamento de dívidas de campanhas eleitorais do PT e de seus aliados.
ARGUMENTO DUVIDOSO (2)
Dinheiro não contabilizado é o conhecido caixa dois dos partidos. Mesmo sendo um crime eleitoral, ele está prescrito por que assim diz a legislação específica. Logo, pela lei, a falcatrua existiu, a lei foi burlada, mas não denunciada no prazo, caducou.
ARGUMENTO DUVIDOSO (3)
Numa comparação bem brasileira, a tese para enquadrar o mensalão em crime eleitoral de caixa dois lembra o assassino que matou friamente um desafeto sem que a polícia conseguisse esclarecer o crime. Como o homicídio tem um prazo prescricional de 20 anos, passado esse tempo, o assassino está livre da punição. Nem por isso, no entanto, ele deixa de ser um assassino.
GRANA RESPEITÁVEL
O Diretório Nacional do PT já repassou mais de 14,8 milhões de reais a onze dos seus candidatos a prefeito em capitais conforme levantamento feito com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral. O PT é partido mais rico do Brasil nesta eleição, mas mesmo como toda essa verba eleitoral, em 17 capitais, o partido lidera as pesquisas apenas em Rio Branco (AC) e Goiânia (Goiás).
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