Eu sou do pampa

Estava em Gramado para apresentar um artigo aprovado para o encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Em Gramado, bons restaurantes, gente simpática, cidade bonita. Gramado é bonita. Voltei de ônibus, torto por dentro de tanta curva. Em Porto Alegre, a situação começou a ficar plana. E como o plano me faz bem, gosto do plano. De Porto Alegre para Santana do Livramento, sempre menos curvas, o plano do pampa, e como esse plano me faz bem, me acalma por dentro, coloca em equilíbrio, ajusta… Um encontro de geografias, a de fora com a da minha alma. Mais do que do sul, eu sou do pampa. Gosto da serra, mas não sou da serra, eu sou do plano, eu sou do pampa. Gosto do mar, mas não sou do mar, eu sou do plano, eu sou do pampa. O mar é bonito, mas prefiro o mar do pampa, de ondas verdes pelas quais posso caminhar sem que precise fazer milagres para isso. As linhas distantes dos horizontes verdes do pampa sempre me emocionam… Meu olhar se perde nessas linhas enquanto minha alma, capturada por elas, voa verde livre, encantada de amor. Mais do que do sul, eu sou do pampa, dessa geografia verde plana que vive fora e dentro de mim. Tenho a alma de pampa, não de serra nem de mar. No pampa, encontro o pampa que está dentro de mim, e assim suspiro, respiro aliviado, descansado. O mundo é grande e bonito. Cada um tem o seu pedaço de mundo dentro de si, geografia da alma. O deserto é bonito, o mar, a serra… Eu gosto de tudo isso, viajo, visito, mas eu sou do pampa e o pampa é de mim, linda mulher, verde oliva, com suas breves curvas que me abraçam, acariciam sempre que volto sorrindo e contente para ela, sobre a qual me deito e mordo suas graminhas enquanto me embarro no seu borbulhante cheiro de terra. Eu sou do pampa, o pampa é de mim. Eu sou do pampa desta fronteira, com cheiro de Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, com o cheiro da água dos Andes, com o sal do Atlântico e do Pacífico trazido pelos ventos do sul, América do Sul, para refrescar e realçar o perfume e o encanto do nosso pampa, amada terra que não espera nossa morte para nos abraçar, já nos descansa e acaricia em vida. Eu sou do pampa, terra eterna, paterna, materna, fraterna, desde ontem e para sempre. 

Fábio Régio Bento – sociólogo

 

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.