O céu sustenta a terra

“Temos consciência de que aqui não é o lugar para nos instalarmos cada vez melhor, numa existência o mais possível sem transtornos, mas que cada instante de nossa vida é um novo passo em direção a um outro reino, a uma outra terra, rumo a uma pátria onde possuiremos para sempre a felicidade puríssima e plena, que tanto desejamos?” (Chiara Lubich). O transtorno é aborrecedor, dói na alma. Instalados e sem transtornos, quando os transtornos chegam, reclamamos, ficamos azedos por dentro e por fora. Grudamos em nossas pequenas conquistas, como se fossem boias de salvação… Mas é uma ilusão…Grudados, não vamos a lugar nenhum. Os transtornos, então, servem para desinstalar o cristão de seus apegos. Desapego, pobreza, desgrudar-se do que passa pelo que não passa, Deus, sua cidade eterna, já, de forma relativa, nesta cidade. “Quero viver uma vida tranquila, em paz, aposentado, sem preocupações, viajando pelo mundo ou descansando no conforto de minha casa, no aconchego dos familiares e amigos”, disse-me um amigo. Sei lá, talvez isso seja difícil. Bem, penso que a felicidade consiste em reconhecer o transtorno, imprevisto, como útil, até necessário, para sacudir a alma por dentro e livrá-la de tantos apegos, até coisas boas, mas que, aos poucos, vão sufocando-a com o peso dos penduricalhos do comodismo. Aprender a reconhecer a utilidade espiritual do transtorno, acolhê-lo com alegria, como dom de Deus, expressão do seu amor, não é punição. “Algo deu errado, estou com este problema”. Ninguém gosta de ser batido por dentro, como um grão… Mas as crostas da alma podem ser eliminadas também com pancadas de amor. Transtornos trampolins, cotidianos, da alma para o céu, que sustenta a terra, nós, você, eu, nossos amigos e amigas… Sim, é o céu que sustenta a terra, bola gigantesca que suavemente paira girando no ar. Não há fios, o céu sustenta a terra. Então, confiar no céu. Estamos hoje na América, Europa, Ásia, África, ou na Oceania. O sexto continente é o céu, que sustenta a terra. De lá saímos e para lá voltaremos. A vida bem vivida, aqui, é a que já vai preparando para a última viagem, a mais significativa, e definitiva…

Fábio Régio Bento – sociólogo e teólogo

 

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