A dor da partida

Partir sempre deixa algum tipo de dor, seja de pessoas, de lugares, de situações, de hábitos, de sentimentos…

Qualquer tipo de partida, além da dor, pode deixar saudade ou o que é pior, nos deixar “mancos”, “sem chão”. Estranho isso, verdade? há coisas que não deveríamos sentir falta, afinal, se partem, é porque não são mais necessárias. Isso se dá tanto com pessoas como com qualquer coisa que faça parte de nossas vidas. Por um fato muito simples, nossas vidas são regidas por “Afinidades”. O que é “afim” comigo, se mantém em minha vida e o que não é, de uma forma ou de outra, acaba saindo dela. O que de uma forma ou de outra eu posso perfeitamente dizer que é por escolha, por livre-arbítrio.

Já que afinidade quer dizer: conformidade, conexão, relação, semelhança, segundo o dicionário, posso optar por querer que continue comigo ou não. Só que as questões de escolha em nossas vidas ainda tem uma conotação muito dificil de serem entendidas, pois somos criados para conceber que tudo que nos acontece é alheio às nossas vontades. E a coisa toda não é bem por aí, haja vista que até a Física quântica hoje em dia, com seus estudos científicos, está demonstrando que na verdade, somos os únicos especiais protagonistas de nossas vidas e que tudo é um grande emaranhado de possibilidades que se concretizam à medida que eu entro em ação com minha decisão de fazer ou isto ou aquilo.

E afinal, o que quer dizer o tão falado livre-arbítrio? é bem simples, segundo o dicionário quer dizer: faculdade do homem de determinar-se a si mesmo. Ou seja, eu, como ser humano tenho a capacidade de decidir o que é melhor ou não e agir conforme essa decisão. E o que tem isso a ver com o começo do texto que eu falo sobre partidas? É que muitas e muitas vezes, por uma simples questão de livre-arbítrio nosso não deixamos partir de nossas vidas nem pessoas, nem lugares, nem situações, nem hábitos, nem sentimentos…

Há muitas coisas que podem estar nos envenenando, nos retirando a vida, nos martirizando, nos fazendo infelizes e não encontramos a força dentro de nós para exercer a nossa capacidade de decidir por terminar com a situação que não nos é mais favorável. Mais estranho ainda: que grande vontade é essa de ficar sofrendo? sabendo que uma situação qualquer não é mais adequada e permanecendo nela? Lembram que eu disse que partir sempre deixa algum tipo de dor? E quem gosta de sentir dor? quem gosta de sofrer?

Mesmo que seja para uma melhoria de vida em geral, se vai nos fazer sentir algum tipo de dor, por mais breves momentos que sejam, nossa tendência é ficar prorrogando a decisão de mudança. Justamente porque temos a impressão que a dor de deixar partir a situação que não nos serve mais, trará mais dor e desconforto que a atual situação que já nos é desconfortável. Também temos essa impressão por um motivo bem simples: essa situação já conhecemos e a nova… ainda nos é desconhecida, por melhor que ela nos pareça vir a ser. Ai, ai… que complicado o ser humano: temos medo da dor e do desconhecido… duas coisas que de certa forma, entre si, parecem incompatíveis e de difícil coexistência.

Mas que se formos observar bem, em nossa própria vida diária, são dois fatores que regem direto nossas decisões. Seja em um relacionamento amoroso, profissional, social, de estudos, enfim…. tudo à nossa volta passa por escolhas que muitas vezes parecem difíceis por vários motivos: financeiros, estruturais, familiares, sociais. Mas se começarmos a fazer da tomada de decisões em nossas vidas um hábito consciente de mudanças, veremos que o que nos parecia tão complicado e difícil se torna mais fácil, embora não menos importante e necessário. Até a simples decisão de levantar de manhã cedo para ir trabalhar pode se tornar algo muito prazeroso e que deixe partir de nós algum tipo de sentimento ruim como por exemplo a necessidade de ir realizar um trabalho com o qual não se tem afinidade mas que se precisa por questões financeiras.

Posso deixar partir o sentimento de desgosto por levantar para ir realizar essa tarefa e transformar meu dia em algo mais agradável o que, de modo geral, já vai modificar a estrutura do meu dia de vida. Deixar partir de nossas vidas situações, pessoas, hábitos que não fazem mais parte de nossas necessidades de crescimento é um exercício constante que requer a nossa inteireza e consciência de atitudes. Devemos saber muito bem o porque estarmos realizando determinada tarefa em nosso próprio benefício o que já vai nos trazer um conforto muito grande em relação à dor que essa mudança pode vir a causar e que, com certeza, será tanto mais passageira quanto mais conscientes estivermos de nossa escolha e ação. Afinal, se formos observar em nossas vidas: quantas situações, pessoas, hábitos já vieram e se foram? quando se foram pode parecer ter sido o fim, mas ainda estamos vivos… isso quer dizer que partidas, mesmo com dores e desconfortos, por si só não nos “matam” e ainda por cima, se estivermos conscientes delas, nos ajudam a viver melhor.

 

Leatrice Coli Ribeiro Pedroso 
cadeira nº 24 - Academia Santanense de Letras
Permitida a reprodução desde que mantida a autoria

 

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