A disciplina como virtude e o exemplo nas Olimpíadas

Certa pedagogia, nas últimas décadas, passou a tratar a disciplina como desvirtude. Era previsível e compreensível que isso ocorresse. A nova tendência foi um contrafluxo ao tempo da repressão cultural e política que o país enfrentou durante anos. Porém, parece que fomos longe demais no desapego a certos princípios de comportamento. E isso nada tem a ver com ditadura, conservadorismo ou algo do gênero. Tem a ver com postura pessoal e profissional. Tem a ver até mesmo com o tipo de país que queremos construir.

O esporte é um dos indicativos mais visíveis dessa situação, a começar pelo futebol. O Brasil, reconhecidamente, é uma terra de grandes craques. Porém, muitos se perdem pelo comportamento fora de campo. Tratam o treinamento como uma inutilidade diante do espetáculo e da fama. Mas não é só nos gramados que isso se revela. Nas Olimpíadas de Londres, já há sinais de que alguns atletas brasileiros podem ter prejudicado seus desempenhos pela falta de uma maior disciplina. Já, por de trás das medalhas de Sarah Menezes, Thiago Pereira e Felipe Kitadai, teve muita determinação, disciplina e renúncias.

Claro que os resultados insatisfatórios do nosso país diante de outras nações, em competições desse gênero, se explicam também pela estrutura inferior de que dispomos. A preparação e o apoio ao esporte profissional é maior em países mais desenvolvidos. Porém, em termos de talento, temos disponibilidade em praticamente todas as modalidades, sendo que muitos sequer foram descobertos. Falta-nos cuidar mais dessas potencialidades e dotá-las do espírito de superação de que depende um verdadeiro campeão.

Esse pressuposto vale para o esporte assim como para a profissão e a própria vida: temos nossos dons pessoais, mas sem esforço nada acontece. Mesmo os gênios, sem alguma gota de suor, pouco conseguem fazer. São geniais apenas em potência, não em ação, não no mundo dos fatos. Isso faz uma grande diferença no tipo de cultura que as pessoas, as famílias e as nações vão construindo. Ou ficamos acomodados num suposto berço esplêndido, ou transformamos tudo isso em muito mais. Ou nossos atletas percebem que só talento não os leva muito longe, ou continuarão tendo desempenho apenas mediano na maioria das competições internacionais.

A experiência mostra que o talento, por si só, sem disciplina, no máximo conduz a vitórias esparsas, sem continuidade. Já a disciplina, mesmo sem tanto talento, costuma levar a grandes e repetidas conquistas. E as Olimpíadas deflagram essa evidência. Os países que mais ganham medalhas não chegam a tal condição por mera dádiva da natureza para com seus atletas. Além de terem estrutura, quem é esportista sabe: as metas só são atingidas com muito esforço, repetição, seriedade, estrutura e entrega pessoal. E isso só a disciplina – como virtude, na dose certa – é capaz de oferecer.

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