PESQUISA, ATÉ QUE PONTO ELA DEFINE UMA ELEIÇÃO?
Até que ponto uma pesquisa eleitoral pode determinar o desfecho de uma eleição municipal? Esse é um questionamento que ainda não teve respostas. Considerada importante, a pesquisa não é mais fundamental – como em épocas anteriores – desde as eleições para o governo gaúcho em que Germano Rigotto, uma terceira via, venceu os dois polarizadores de votos, ao passo que todas as pesquisas que circularam no Estado Gaúcho apontavam um ou outro dos tidos como preferidos. O fenômeno se repetiria quatro anos depois, quando Rigotto, favorito, acabou perdendo o governo para Yeda Crusius. Foram episódios que povoaram a semente da dúvida sobre as pesquisas, entretanto, é preciso separar bem. Uma coisa é pesquisa científica, outra é levantamento. A primeira tem sempre metodologia científica e a segunda é completamente amadora e para consumo interno dos partidos.
CONCEITOS
Pesquisa nada mais é do que o processo de juntar informações sobre um determinado assunto e analisá-las, utilizando o método científico com a intenção de aumentar o conhecimento de tal assunto.
Pesquisa eleitoral é o método utilizado pelos institutos de pesquisa para sondarem, por amostragem, a intenção de voto dos eleitores, trazendo em seu bojo a função de informação de um quadro diagnosticado em um determinado momento definido de espaço-tempo, bem como a função de propaganda eleitoral, por parte dos partidos. São consultas feitas junto a determinadas faixas da população com a objetividade de restarem aferidas as preferências, as escolhas, as opiniões, enfim, o pensamento a respeito de determinado ponto ou aspecto.
Para a divulgação de uma pesquisa, o primeiro passo é aplicar a metodologia correta, com pesquisadores isentos. A seguir, registrar na Justiça Eleitoral e informar claramente todos os dados referentes às condições em que foram obtidos. No infográfico ao lado, algumas informações que precisam chegar à população associadas a dados que esclarecem sobre o que foi pesquisado, como foi, etc…
Se pode ocorrer erro?
Não só pode, como ocorre. Há cálculo da margem de erro. São inúmeras as situações causadoras dos erros, desde uma anotação equivocada por distração até uma resposta imprecisa do entrevistado, passando também pelo preparo de alguns pesquisadores, que, em algumas situações deixam a desejar.
O fato é que não são precisas.
Quanto à pergunta: são definidoras? Há controvérsias, pois existem aqueles que defendem que o eleitor só vota em quem está “ganhando”, enquanto outros entendem que o eleitor não leva tanto em conta quanto os candidatos pensam que ocorre. É possível concluir que há importância em cada pesquisa, porque reflete o momento, ou seja, o sentimento que parte da população em relação ao candidato e a seus concorrentes naquela fração de tempo – que pode mudar? É muito possível.
A Plateia ouviu, durante esta semana, os seis candidatos à prefeitura de Livramento, podendo concluir, pelas manifestações que todos utilizam, de uma ou outra forma, as informações que as pesquisas trazem. Em outras ocasiões, em pleitos de Sant’Ana, houve candidatos que “fabricavam” (inventavam) pesquisas todas as semanas, com a finalidade de “vender” sua candidatura. A maioria dos que utilizavam essa prática – posterior tema de piadas no folclore político local – não conseguiu manter-se em funções de poder por muito tempo.
Os candidatos locais, segundo informaram, acompanham as divulgações e informações, muitos realizam levantamentos para consumo interno nas coligações e partidos, porém, mantêm o entendimento de que tanto no que tange a quem está embaixo, quanto no que se refere ao candidato que obtém a maior preferência, as pesquisas constituem indicativo e são levadas em consideração na definição das estratégias de campanha, seja consolidando-as ou fazendo com que sejam modificadas.
Pesquisando o que eles pensam…
Foram ouvidos os seis candidatos à Prefeitura de Livramento, a respeito de seus pensamentos no que tange a pesquisas eleitorais, seus impactos e efeitos no cidadão, nas campanhas em desenvolvimento e, enfim, nos próprios postulantes à sucessão de Wainer Machado. As opiniões, naturalmente, divergem em vários aspectos.
Para o petista Glauber Lima, as pesquisas servem de referência para analisar um determinado momento do processo eleitoral e potencializar ou reorientar linhas políticas e formas de ação na conjuntura. “Muitas pessoas gostam de votar ‘em quem vai ganhar’. Nesse sentido, uma pesquisa pode desequilibrar favoravelmente em relação a um candidato que esteja em um momento circunstancial na frente. Contudo, isso não é absoluto. Se fosse, Olívio não teria ido para o segundo turno em 1998, Rigotto jamais teria sido eleito em 2002 e isso serve para várias outras situações. Portanto, elas não são definidoras, embora causem um impacto positivo na base social de quem está bem num determinado momento e o contrário em quem se encontra em uma situação desfavorável” – comenta o candidato.
A respeito dos chamados “levantamentos ou pesquisas de consumo interno” (sem metodologia científica), Glauber Lima afirma: “Se não possuem metodologia científica, não possuem valor algum. Talvez ajudem, para o bem e para o mal a enganar uns e outros. Contudo, cada partido ou coligação tem o direito, na forma da lei, de buscar captar a sensibilidade do eleitor em relação às suas propostas e posicionamentos para servirem de objeto de reflexão das coordenações de campanha”.
Perguntado se uma pesquisa pode mudar o rumo de uma eleição, Lima é pontual: elas não são definidoras, absolutas. Mas – adverte – em algumas circunstâncias, ajudam a embalar ou desinflar uma determinada candidatura. “Até mesmo as pesquisas científicas, registradas na forma da lei, já cometeram erros absurdos, prejudicando este ou aquele candidato. Mas o importante mesmo é que os eleitores se definam por aquelas que consideram as melhores propostas para o seu país, estado ou município, conforme a eleição. Na minha opinião, elas são um elemento a mais no jogo da disputa eleitoral e não o fator definidor” – diz.
O prefeiturável Nelmo Oliveira disse ver a pesquisa como importante em vários tipos de situações. “Eu, por exemplo, como estudante de Gestão Pública, entendo que a pesquisa deve servir para orientar as ações da Administração Pública, para auxiliar na definição daquilo que se quer fazer, ou do projeto que se quer realizar, de modo que se possa antever um resultado aproximado de um futuro próximo” – refere o candidato.
Para Nelmo Oliveira, nesse sentido, a pesquisa é muito importante como uma espécie de etapa do planejamento de uma ação ou programa.
“No que se refere às pesquisas eleitorais, também entendemos que elas sejam importantes. Porém, as pesquisas eleitorais atendem a uma lógica diferente da maioria das pesquisas comuns de outras áreas. No período eleitoral, como uma campanha política é muito dinâmica, uma decisão errada de um candidato bem colocado numa pesquisa, e muitas vezes até uma fala sua mal colocada ou mal interpretada pela população pode colocá-lo entre os últimos colocados numa pesquisa feita dias ou mesmo poucas horas depois” – afirma.
Para o candidato, a pesquisa eleitoral é importante se for feita por institutos sérios e idôneos e pode contribuir muito para uma eleição, inclusive no convencimento do eleitor. “Mas somente as pesquisas não têm o poder de definir uma eleição e determinar a vitória ou derrota. O que ganha uma eleição é a qualidade das propostas, o perfil do candidato, a credibilidade do seu nome e das pessoas que o cercam, enfim, um conjunto de fatores que a população leva em conta na hora de decidir seu voto” – afirma.
Para o candidato Sérgio Oliveira, todo o tipo de investigação que apresenta metodologia formatada cientificamente, se bem aplicada, é válida. Ele cita o exemplo das apurações realizadas pelo Instituto Methodus, que realizam medições em períodos específicos, apontando uma direção com base em determinado lapso de tempo, no qual o pensamento das pessoas ouvidas, naquele momento, está sendo requerido.
“Percebe-se que ainda existe uma indecisão muito significativa, e como ferramenta aplicada da forma correta e isenta, é confiável” – ressalta. Mas, há situações em que ela induz a erros e isso já ocorreu significativamente em eleições anteriores. “É uma questão e não resta dúvidas de que pode induzir a erros quando apresenta valores diferenciais estratosféricos. Mas quando a opção é fidedigna, é uma ferramenta aplicável que até pode ser utilizada nos mecanismos traçados pela estratégia de campanha. Nós entendemos que não são definidoras de uma eleição, pois medem o pensamento, mutável, em determinado período, de um grupo de pessoas em situação específica” – afirma o candidato, salientando que é o trabalho digno e sério, com propostas de soluções concretas e factíveis, que definem o voto e, consequentemente, uma eleição.
O candidato Solimar Ico Charopen afirma acreditar que é um instrumento interessante, tem influência no eleitor, na militância e no contexto total, se utilizada adequadamente. “Lógico que a gente observa e até utililiza, mas eu próprio paguei um preço alto, na última eleição, pelos dados apontados nas pesquisas. Hoje, olho, mas não levo como elemento único, pois só o trabalho pode ganhar uma eleição. A pesquisa pode gerar uma acomodação da militância, em um clima equivocado de já ganhou e pode também impulsionar o trabalho” – refere ele. Destaca que sua candidatura contratou uma pesquisa para medir por bairros. “Estamos pagando uma empresa para, cientificamente, apontar o que as pessoas, bairro a bairro, estão pensando em termos de eleições e, sobretudo, de nossas propostas” – refere.
O prefeiturável Cesar Maciel refere que as pesquisas estão direcionando algumas das ações de campanha. “Servem, sim, cientificamente realizadas, para nos dar uma ideia clara de alguns dados. Estamos trabalhando e se houver pesquisa para saber a rejeição que está nas pessoas e nós tivermos acesso a essa informação, poderemos ajustar o trabalho” – afirma o candidato. Ressalta que são instrumentos que podem, e devem, ser usados como estratégias de informação a partir de determinada comunidade, sobre aquilo que é demanda e os nomes que têm mais possibilidade de obter o apoio desses votantes. “Embora saibamos que há um conflito entre dados, conflagrados nas margens de erros, entendemos que as informações podem determinar os ajustes para remontar a atuação na campanha” – refere.
O candidato Claudio Coronel entende que a idoneidade dos números apresentados está diretamente ligada à credibilidade da pesquisa. Acredita que a influência exercida está sobre o eleitor, como a realidade dos dados está para o candidato, porém, as estratégias de alcançar os eleitores com as propostas são várias e devem ser aplicadas. Considera que a busca do voto deve se dar justamente com o trabalho de militância, no dia a dia de campanha. “É esse trabalho que traz o resultado, pois se as pessoas querem a mudança e as propostas de trabalho que apresentamos estão de acordo com esse desejo, a melhor forma é o contato direto, embora a pesquisa seja uma ferramenta que pode, se bem aplicada, trazer alguns acréscimos ao trabalho estratégico” – afirma. Coronel refere que as propostas, a disposição em concretizá-las e a convicção em promover as necessárias modificações administrativas, com qualidade técnica, devem ser os principais elementos que os eleitores precisam pesar quando estão na fase de definição de sua convicção de voto. Refere a eleição de Germano Rigotto governador, em que este estava em terceiro lugar e enquanto dois candidatos polarizavam a disputa, ele trabalhava tendo conseguido a vitória.