Espiritualidade Junina

Junho, metade do ano civil, motiva-nos a uma maravilhosa espiritualidade: primeiro, por ser o mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, cujadevoção dos fiéis católicos está fundamentada no mistério do Amor divino manifestado à humanidade na pessoa de Jesus Cristo, que se fez “Filho do Homem“, na expressão vétero – testamentária e confirmada pelo próprio Cristo. Cristo Jesus veio até nós como modelo perfeitíssimo no seguimento à Palavra do Pai. Nele, formam-seos santos e santas, aqueles homens e aquelas mulheres que deixam as coisas deste mundo, para servir ao Supremo Senhor, tal qual Jesus ensinou e viveu a práxis do amor integral (divino e humano).

No contexto devocional ao Senhor, o calendário litúrgico da Igreja nos apresenta vários santos muito populares, isto é, conhecidos e zelosamentevenerados, como São Luiz Gonzaga, protetor da juventude por altas virtudes , sobretudo, da castidade; Santo Antônio de Pádua, protetor das famílias, dos pobres e das coisas perdidas; São João Batista, o precursor de Cristo, no seu dia natalício homenageado, através de celebrações litúrgicas;São Pedro e São Paulo,considerados príncipes e colunas da Igreja, com especiais menções de orações, reverências e obediência ao Santo Padre por ser o DIA DO PAPA, sucessor do primeiro Papa da Igreja, são Pedro, martirizado por crucificação a 29 de junho do ano 67.

Além dos santos citados, outros ficaram na obscuridade. Entretanto, quero ressaltar um dos bemaventurados que tiveram importantes atuações no anúncio da boa Nova de Jesus Cristo: São Vigílio, venerado no dia 26 de junho, o qual foi mártir da fé cristã, no ano 405. Estesanto foi o fundador e o primeiro bispo da diocese de Trento, cidade das mais antigas do norte da Itália. No subsolo da igreja, existem os restos da antiquíssima cripta, onde foi sepultado o corpo do mártir Vigílio, o grande missionário daquela região, chamada Trentino.

Tendo a Igreja recuperada a liberdade de culto e da pregação do Evangelho, com o Edito de Milão, em 313, surgiu um esplendoroso zelo missionário. Então, as comunidades eclesiais formavam e enviavam seus missionários às regiões circunvizinhas. As cidades eram o alvo mais fácil para a evangelização, devido às estruturas culturais, enquanto que nos vales, nas aldeias chamadas “pagos”, que pelo atraso cultural, estavam mais agarrados à idolatria; desta resistência dos pagos veio a palavra “pagãos” aplicada aos que rejeitam a mensagem do Evangelho. Vigílio foi formado e enviado por Santo Ambrósio, célebre bispo de Milão, para evangelizar o Trentino, onde, após uma organização eclesial bem estruturada, criou a diocese de Trento com grande zelo que se estendeu às regiões de Vêneto, extirpando os resquícios da heresia ariana. Mas, quem opunha maior resistência ao Evangelho eram os pajés, que temiam perder seus poderes junto ao povo. O destemido bispo Vigilio, enquanto evangelizava o vale de Sarca, inclusive, destruindo a última estátua do deus Saturno, foi morto pelos pajés armados de grandes pedras. O santo bispo caiu morto sob as pedras, mas, como diz São Paulo “a palavra de Deus não pode ficar presa, nem sufocada” .A pregação do Cristianismo nos vales do Trentino continuou, pois o sangue do mártir Vigilio regou e fez frutificar a semente do Evangelho. Diz Dom Servílio Conti IMC, que ”a diocese de Trento, fundada por São Vigílio, é uma das mais fervorosas e ricas de movimentos apostólicos: basta pensar no Movimento Focolarino, que o organizaMariápolis em todo o mundo: ele nasceu à sombra da catedral São Vigílio por Chiara Lubich”. Foi em Trento que teve lugar o Concilio Ecumênico, que leva este nome convocado pelo papa para dirimir as grandes questões doutrinárias da fé católica, após a Reforma Protestante de Martinho Lutero, em 1517, surgindo os vários anátemas, inclusive, o da supressão dos sete livros dêutero – canônicos das Sagradas Escrituras.

Se pesquisarmos mais profundamente os meandros da história religiosa da região Trentino, perceberemos os frutos colhidos da generosa árvore plantada pelos antigos heróis da Fé, tendo como protagonista o valoroso São Vigílio e outros fiéis que marcaram, com os sacrifícios de suas vidas, a tradição católica não só em Trento, mas, também, influenciaram toda a Itália no contexto da espiritualidade formada, primordialmente, pelos inúmeros mártires de três séculos, apartir dos fundadores da comunidade eclesial de Roma, os apóstolos, São Pedro e São Paulo.

Como Consequência escatológica, ou seja, a força vital da “comunhão dos santos”, o mundo inteiro foi beneficiado, inclusive o Brasil, através dos missionários italianos padres e religiosos, vindos e permanecidos muitos deles até à morte, Em nossa Diocese bageense, temos dois sacerdotes tridentinos, Pe. Mauricio Gottardi, Pároco de Rosário do Sul, ePe. ÉzioBerteotti, Pároco da Matriz de Sant’Ana em nossa cidade: ambos atuam na Diocese já há décadas.

No conjunto do relato supracitado vemos com clareza a validade da antiga e piedosa expressão:”uma alma que se leva, eleva o mundo”.

 

Pe. Hermes da Silva Ignácio

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