CPI ou mais uma novela? (II)

Há pouco mais de um mês, na instalação da CPI de Carlinhos Cachoeira, dei ao comentário o título de CPI ou mais uma novela?

Não me enganei.

A cada novo rol de inquirições e depoimentos, acontece um capítulo novelesco.

O depoimento do próprio Carlinhos Cachoeira foi uma ópera bufa, se é que pode se chamar de depoimento a repetição, a cada pergunta, de uma só resposta: reservo-me o direito constitucional de permanecer calado.

Terça-feira e ontem, dois novos capítulos: primeiro, o depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Ontem, a vez do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz (PT).

A menos que ocorra alguma surpresa no final da sua manifestação (escrevo este texto no meio da tarde), o testemunho dos jornalistas presentes na sala onde funciona a CMPI de Carlinhos Cachoeira é um só: houve “acordão” entre PSDB e PT para não fustigar em demasia os dois governadores, pelos parlamentares partidários de um e de outro.

Tanto Marconi Perillo quanto Agnelo Queiróz mostraram-se seguros em suas falas iniciais. Os analistas políticos especulam que Perillo deixou a CMPI, depois de oito horas, engrandecido em relação ao momento em que lá chegou.

Foi convincente, respondeu a perguntas com segurança, estava sem dúvida muito bem preparado, e o mesmo se pode dizer de Agnelo Queiróz.

Ambos se dizem perseguidos políticos.

É sabido que, no caso de Perillo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não o perdoa por ter ele dito publicamente que alertou Lula da existência do “mensalão”, antes mesmo que este fosse denunciado pela imprensa.

Nada deve acontecer aos dois governadores. Ambos têm sólida maioria nas respectivas Assembléias Legislativas e qualquer iniciativa no sentido de puni-los seria facilmente derrotada.

Mas restou uma casa no meio do caminho, tanto para um quanto para o outro. Perillo vendeu uma, Agnelo comprou outra.

Soa muito estranho o que foi dito por ambos.

Perillo pôs à venda uma casa de sua propriedade, a casa onde mora hoje Carlinhos Cachoeira, comprada inicialmente por outro empresário. O governador informa que fechou o negócio por um millhão e 400 mil reais, tendo recebido três cheques do comprador. E garante que sequer teve curiosidade de ver quem havia assinado os cheques. Ora, convenhamos que isso é uma coisa pouco explicável.

Já Agnelo Queiróz comprou a casa onde reside hoje por R$ 400 mil reais, um número bem abaixo do valor de mercado. E ontem, declarou à CPMI que não sabe dizer quanto vale a casa de sua propriedade. Isso também é coisa difícil de entender.

Eu não deixaria nunca de examinar com cuidado os cheques de uma eventual venda de meu apartamento. E tenho dimensão exata do valor dos meus imóveis.

Ou será que governadores têm outra forma de fazer negócios?

Sim ou não, tudo está mais para novela do que para CPI.

 

 

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