Pequeno balanço de esperança

É tempo de rememorações.
Sempre quando chega dezembro, fazemos balanços, a começar pelos pessoais, com fervorosas promessas de que, no ano seguinte, seremos melhores, pelo menos para nós mesmos. E há os levantamentos coletivos, quase sempre patrocinados por veículos de comunicação.
Coube-me muitas vezes, na redação do Diário de Notícias, onde iniciei minha caminhada jornalística, cuidar dessa retrospectiva anual, dos acontecimentos do Brasil e do mundo.
2013 foi um ano de grandes acontecimentos, alguns lastimáveis, outros exemplares.

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Para o Rio Grande do Sul, janeiro trouxe consigo uma das maiores tragédias da história do país: o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, misto de irresponsabilidades de empresários e incompetência de administradores públicos.
Passado quase um ano daquele início de ano profundamente triste para os gaúchos, é fantástico que mais uma vez grasse a impunidade absoluta. Foram 242 mortos, a quase totalidade constituída de jovens acadêmicos e, apesar dessa enormidade de perdas, ninguém foi responsabilizado, não há um preso sequer.

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Multidões foram às ruas das principais cidades do país para protestar, no meio do ano, contra políticas públicas de saúde, educação e transporte, além de condenar a corrupção e o desrespeito no trato do dinheiro público.
Foi um fato incomum.
O governo federal e a grande maioria dos governos estaduais foram apanhados de surpresa com essa demonstração de cidadania e demoraram a reagir. Ficaram aturdidos. Até que hordas de black blocs – organizações que não são primárias, ao contrário do que podem muitos pensar – conspurcaram os movimento iniciais, transformando a luta legítima em selvageria.
A lamentar, ainda, neste caso, o pronunciamento, em cadeia nacional, do presidente do Congresso, Renan Calheiros, na última segunda-feira, reportando-se aos episódios de junho para falar em “decência e transparência”.
Na semana anterior, ele fez uso de um jato da FAB para viajar a Pernambuco, onde realizou um implante capilar.

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Se me coubesse escolher uma instituição e um personagem de 2013, no Brasil, que signifiquem confiança no futuro, não teria dúvida em apontá-los: o Supremo Tribunal Federal e o ministro Joaquim Barbosa.
O presidente do STF foi autor de um trabalho gigantesco: relatar um processo com 38 réus e mais de 700 testemunhas. Os autos tem quase 50 mil páginas, 234 volumes e 500 apensos, com vários crimes e diferentes imputações.
Fez bem mais que isso: teve a coragem de enfrentar poderosos e, muitas vezes opondo-se com vigor a alguns de seus colegas, fazer com que a lei fosse cumprida.
Com a decisão de mandar para a prisão os mensaleiros, responsáveis por um dos maiores escândalos políticos do país, o STF devolveu ao Brasil e aos brasileiros a esperança.

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