Algo além do nosso bioma pampa

Walden; “A Vida nos Bosques” é uma autobiografia do afamado escritor naturalista Henry David Thoreau. Publicado em 1854, Walden é um manifesto poético contra a civilização industrial. A obra contém tanto uma declaração de independência pessoal, como uma experiência social e uma viagem de descoberta espiritual, como também um manual para a autossuficiência. Walden tornou-se um dos livros mais célebres do autor e foi utilizado como referência tanto para a Ecologia, como também para o movimento beat, hippie e claro, eu. Ele transcreveu para essa obra, sua fascinante experiência, sob a tutela da natureza. Leitura fascinante para os alicerces da mente humana, é a pura liberdade pelas letras. É a obra que inspirou os ambientalistas do Greenpeace.

Feito minha introdução, o que quero dizer, é que vejo no gaucho do pampa este comportamento do Henry Thoreau. Veio para estas coxilhas viver por livre vontade, para sugar todo o tutano da vida… Para aniquilar tudo o que não era vida, e para, quando morrer, não descobrir se viveu ou não!

Da imensidão do Pampa veio o jeito de ser do gaúcho e a vocação para criar rebanhos, graças a um pasto natural, cheio de ervas, arbustos e 450 tipos diferentes de gramas num Bioma que se estende por 750 mil quilômetros quadrados. Ocupa todo o Uruguai, parte da Argentina e mais da metade do Rio Grande do Sul. Uma terra disputada durante séculos. Antes de se tornar território brasileiro era uma fronteira flutuante muito questionada, foi da Espanha, foi de Portugal. Até que definitivamente ficou uma fração para o Rio Grande do Sul.

Lembro que o Bioma Pampa é o conjunto de seres vivos de uma região – a ligação entre a fauna, a flora e o ambiente físico. A vida nestas planícies de gramínea no Sul do Brasil são montes e campos cobertos de verde. Do alto, tudo se manifesta ao olhar do gavião caboclo: campos de marias-moles, banhados apinhados de flores, marrecos, rochas que formam esculturas naturais, gaúchos que trabalham no manejo do gado emoldurando uma belíssima planície verde com mais de mil espécies de plantas rasteiras.

Na variedade da paisagem há colinas, ondulações que no Rio Grande do Sul recebem o nome de coxilhas, cerros chatos, vales, e um horizonte que se perde na distância até se encontrar com o céu. As árvores nativas recomendam o caminho das águas, elas formam galerias ao longo dos rios que acasalam com o Pampa para abrigar mais de 400 espécies de animais, como o veado campeiro, o graxaim e incontáveis pássaros. As emas, maiores aves das Américas, já com risco de extinção, aconselham cuidado devido aos bichos que já desapareceram. Pesquisadores não registram a ocorrência de uma espécie bem característica desta região, que é o lobo-guará há muitos anos.

Hoje, o nosso Pampa está desprotegido. Ele foi mapeado por uma equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e os dados são alarmantes: dos 40% da área que ainda restam da vegetação original, menos de 1% está em reservas. Espécies são atacadas por plantas invasoras, como o capim anoni – que não deixam as pastagens nativas se desenvolverem e são menos nutritivos para o gado. A agricultura também já tomou grande parte do bioma. Há 600 mil hectares ocupados por pinhos e eucaliptos, usados pela indústria de celulose. “Todas as espécies, tanto vegetais quanto animais nativos e silvestres que viveriam ali vão perder aquele espaço. Espécies que são adaptadas a áreas abertas, que recebam bastante sol, não conseguem se adaptar em áreas florestadas”.

Na terra do Minuano, o vento que traz o frio do Sul, o trabalho do peão tocando o rebanho é algo além de um Bioma poetizado numa imagem: É a nossa canção do coração.

 

Carlos Alberto Potoko

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.