O vexame de um acordo ilegítimo

A reunião da CPI do empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como bicheiro Carlinhos Cachoeira, neste último 22 de maio, foi um retrato acabado das mazelas da política brasileira.

Indiferente às acusações de “bandido”, “marginal”, “criminoso”, “múmia”, o acusado manteve-se impassível, obedecendo à orientação do seu advogado, que é nada menos do que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos e reconhecido como um dos mais talentosos profissionais do Direito.

A cada pergunta, de um deputado ou de um senador, Cachoeira limitava-se a invocar o direito constitucional de ficar calado para não se incriminar.

E assim se passaram pouco mais de duas horas, até a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) protestar pela inutilidade daquela sessão e propor o seu encerramento, o que efetivamente aconteceu. Estava mesmo um circo.

Também o relator da Comissão, Odair Cunha (PT-MG) agiu, a meu juízo, de forma correta. Depois de fazer três ou quatro perguntas, das mais de cem que havia preparado, e ouvir de Cachoeira sua negativa sistemática de não falar, ele se negou a continuar fazendo um papel ridículo.

Mais importante que tudo isso foi o discurso do senador gaúcho Pedro Simon, poucos minutos antes, denunciando da tribuna do Senado o “acordão” feito na noite anterior: os líderes dos principais partidos do país (PSDB, PMDB e PT) decidiram blindar seus governadores e eles não serão convocados para explicar a troca de favores com a empresa DELTA, detentora de um fantástico número de obras públicas.

O esquema dessa gigante da construção era simples: para vencer as concorrências, propunha preços abaixo do mercado. Depois, através de aditivos obtidos com o pagamento de viagens e propinas a agentes públicos, os custos das obras chegavam às alturas.

Provas existem e não são poucas.

Conversas interceptadas, fotos e filmes de viagens entre governador e o dono da Delta, o sr. Fernando Cavendish, mostram claramente amizades e conluios absolutamente suspeitos.

Mas podem ficar tranqüilos Sérgio Cabral (PMDB do Rio de Janeiro), Marconi Perillo (PSDB de Goiânia) e Agnelo Queiroz (PT do Distrito Federal). Esses senhores não vão ser incomodados. E não precisam explicar nada.

A preocupação agora é proteger também o dono da DELTA, porque se ele decidir contar tudo – e prestaria com isso um enorme serviço ao país – a casa pode cair.

É muita gente e muito dinheiro envolvidos nesse esquema corrupto e corruptor.

Pode não haver concordância verbal na mensagem enviada pelo líder do PT, Cândido Vaccarezza ao governador Sérgio Cabral:

- A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu.

Mas, na essência, a concordância é total e absoluta.

Tem razão o senador Pedro Simon ao bradar da tribuna:

- É um vexame.

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