“Há, sim, irregularidades na Santa Casa”, diz a ex-administradora Ester Olsson

A médica recebeu a reportagem de A Plateia, na manhã de ontem, para falar sobre os motivos que a levaram a entregar a carta de renúncia do cargo que ocupava desde dezembro

Cleizer Maciel

A médica Ester Olsson foi a quarta administradora a passar pela Santa Casa, desde sua reabertura em março de 2010

Um novo capítulo começa a ser escrito na história da Santa Casa de Misericórdia de Sant’Ana do Livramento, a partir do pedido de demissão da administradora do hospital centenário, a médica Ester Olsson. Na carta de demissão do cargo que ocupava desde o dia 19 de dezembro de 2011, Ester Olsson diz que seu desligamento foi solicitado, uma vez que, segundo ela, tornou-se impossível administrar uma instituição onde um serviço terceirizado influencia diretamente nos departamentos financeiros e de controladoria, determinando e priorizando seus interesses próprios acima dos interesses da Santa Casa de Misericórdia.

Sobre a carta

Na manhã de ontem, a médica recebeu a reportagem do Jornal A Plateia para comentar os termos usados na sua carta de demissão e deixou claro, a todo instante, que não daria nomes envolvidos no que ela considera como situações irregulares, que vieram à tona no interior da Santa Casa de Misericórdia. “O real motivo da minha tomada de decisão, que não foi planejada nem pensada, foi devido a um fato que iniciou na segunda-feira passada, em uma reunião ocorrida na minha sala, na administração, e que originou outra reunião na terça-feira, com algumas prestadoras de serviços. Por sua vez, a reunião da terça-feira motivou a realização de uma nova reunião na quinta. Eu recebi uma ordem que eu devo acatar, no sentido de quem ordenou teria esse poder. Mas, como eu digo, eu não poderia acatar tal ordem. Por essa razão, (sem especificar que ordem dada foi essa e nem por quem), eu pedi a minha renúncia. Acho que quem tem a minha carta de renúncia tem que dar mais explicações. A entrevista que foi publicada na sexta- -feira gerou uma confusão, tanto é assim que fui cobrada pelo presidente do Conselho Municipal de Saúde. Por essa razão, eu tive que fazer pública e apresentar a minha carta de renúncia. Na verdade, o entendimento com relação à contratualização, cada um tem o seu, mas eu acatei e não seria contra. Quando a gente não tem o controle, administrando uma instituição que é 80% SUS, que é dinheiro público, e não tem o controle total do que é a controladoria e o financeiro, porque há alguém que dá ordens lá dentro. Depois de cinco meses lá dentro, eu descobri fatos dos quais não tinha ideia. Então, por isso, e pelos fatos ocorridos na semana passada, eu tomei a decisão de renunciar. Infelizmente, eu não posso dar nomes, mas isto estará sob investigação do gestor municipal, no caso o secretário de Saúde, que irá verificar esses fatos e, posteriormente, irá apresentar o desenvolvimento dos mesmos”, afirmou Ester Olsson.

ENTREVISTA

A Plateia: Em entrevista ao jornal A Plateia, o atual provedor da Santa Casa disse que queria seguir o que determina o Conselho Municipal de Saúde, e que a senhora contrariava esse interesse.

Ester Olsson: Justamente isso ficou claro com o presidente, de que não tem nada a ver a minha renúncia. Isso não é a minha renúncia. Isso foi algo que foi desencadeado no momento das discussões. A contratualização já está na Secretaria do Estado para ser assinada. O Conselho decidiu que a contratualização indica que esta fosse rateada entre as empresas. Foi isso que eu cumpri, só que o senhor provedor não está de acordo. Eu repito, a minha tomada de decisão é outro motivo. O que eu não posso é fazer uma administração tendo influência da controladoria e do financeiro da Santa Casa que sejam de terceiros.

A Plateia: Essa influência de terceiros indica a necessidade de fazer pagamentos diferenciados para pelo menos uma empresa que presta serviços para a Santa Casa?

Ester Olsson: Eu não quero dizer se é uma, dez, vinte ou duas. Eu não quero afirmar, mas isso vai estar na investigação que o gestor vai fazer. Eu não tive tempo, porque eu pedi determinada informação na terça-feira e na quinta-feira ainda não tinha.

A Plateia: Há irregularidades na Santa Casa?

Ester Olsson: Na verdade, há irregularidade sim.

A Plateia: Essas irregularidades podem comprometer a saúde financeira do hospital?

Ester Olsson: Sem dúvida nenhuma. Estou convencida disso.

A Plateia: É um fato recente ou é costumeiro?

Ester Olsson: Eu acho que já vinha acontecendo. Agora, imagina que eu estou administrando há cinco meses e não sabia disso. Eu começo a mexer em algumas peças e salta isso. Eu não consigo conceber isso em uma administração pública.

A Plateia: O atual provedor afirmou que há um certo descompasso e um desentendimento entre vocês dois.

Ester Olsson: Não. Não é assim, eu sou muito profissional. Nós não tivemos, em nenhum momento, desacertos. O desacerto que tive foi com outra colega, que não o provedor, e nada que gerasse outra coisa.

A Plateia: Quando falamos em interferência de terceiros, estamos falando em valores. Que valor é esse?

Ester Olsson: Eu não tenho ideia, porque essa informação não chegou até mim. Isso só chegou através de um fato que se precipitou. Tem coisas que não vou dizer agora, mas lamento ter saído da Santa Casa e lamento por todas as pessoas que confiaram em mim e que me apoiaram. A Santa Casa, em algum momento, vai mudar essa forma de administração que ela tem. Essa mesa e o provedor ficam até dezembro, e espero que tudo isso mude.

 

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1 Comentário

  1. gilmar

    Infelizmente hoje em dia no Brasil como um todo, quem tenta trabalhar correta e honestamente é tratado como diferente, como o errado, isso em qualquer setor, seja ele público ou privado, simplesmente os valores se inverteram!!!

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