“A falta de dados dos processos me assustou”, diz a nova administradora da Santa Casa

A médica Ester Olsson assumiu a função na última segunda-feira, e diz que reunir informação é prioriodade para entender a real situação do hospital no período pós-crise

A médica Ester Olsson Vianna assumiu o cargo de administradora da Santa Casa de Misericórdia na última segunda-feira

Um novo desafio em uma Santa Casa que se renova constantemente. Assim começou a ser escrito, na última segunda–feira, mais um capítulo no hospital centenário, com o início das atividades da nova administradora do local, a médica Ester Olsson Vianna. Ao assumir o cargo, depois da demissão, na última semana, do administrador José Milton Rosa, Ester Vianna salienta o tempo inteiro a necessidade de reorganizar o local para saber com exatidão o tamanho do desafio a ser enfrentado. A nova administradora recebeu a reportagem do jornal A Plateia em sua sala de trabalho na Santa Casa de Misericórdia, em meio a relatórios já solicitados e que irão ajudá–la a entender o funcionamento daquela estrutura.

Uruguaia, nascida na cidade de Artigas e naturalizada brasileira, Ester Olsson se formou em medicina pela Universidade de la República, em 1988, e teve seu diploma revalidado pela Universidade Federal de Pelotas em 1994.

Possui especialização em Cardiologia e concluiu o curso de Gestão de Cooperativas Médicas em 2004, MBA (Gestão em Negócio e Saúde), na Universidade Superior ESPM em 2010, Curso Básico de Planejamento em Saúde Pública, também em 2010, além dos cursos de Qualificação de Gestores SUS, 2011, Especialização em Gestão Hospitalar, 2011, e está cursando Pós-Graduação em Auditoria e Regulamentação em Saúde pela ESPM. “Acho que meu currículo me credencia a entender o funcionamento do hospital e estou disposta a ajudar da melhor maneira possível”, destacou ela no início da entrevista.

Desafio

A Plateia: A senhora já foi apresentada a este novo desafio. Tem noção do tamanho desta missão que ora se apresenta e está sob sua administração?

Ester Olsson: O desafio eu sei que é grande, mas o mais importante na minha tomada de decisão foi justamente este desafio. Estou aqui para tentar fazer a Santa Casa funcionar. Sei que a crise do hospital está hoje madura. Tenho diversos cursos de gestão hospitalar que irão me ajudar muito em todo esse processo. Com esse trabalho que fiz na Secretaria da Saúde, tive portas abertas no setor de saúde pública e por isso acho que estou em condições de assumir a administração da Santa Casa.

Tenho conhecimento de ambos os lados porque sou médica e sei como alguns processos funcionam. Me apaixonei pela saúde pública. Acho que o que me atrai é a possibilidade de colocar em prática tudo aquilo que aprendi. A Santa Casa está em um estado de maturação suficiente para conseguir alavancar. Entendo que se a casa não está organizada, e as mudanças impostas pelos ex-administradores não funcionaram, isso me serve como lição para tentar levar esse projeto adiante e mudar essa realidade.

A Plateia: A senhora acredita que é possível recuperar este hospital que ainda enfrenta uma série de problemas?

Ester Olsson: Ele ainda não está recuperado. As dívidas seguem enormes. Nesses anos, tivemos acordos de diminuição das dívidas e estamos, agora, a enfrentar o vencimento de prazos das dívidas que requerem um volume maior de dinheiro. Vamos ter que buscar receitas para isso ou renegociar. A dívida continua e não houve, nesses últimos três anos, uma diferença no passivo. O que temos que fazer é cuidar do ativo atual, pagar o passivo atrasado, para poder pensar no futuro. Mas não é essa dívida que hoje nos preocupa, porque com dívida ou sem, a Santa Casa vai ter que funcionar. O que me preocupa é que funcione, já que um hospital para funcionar precisa de pacientes, médicos, enfermeiros, etc. Sem esses atores, nenhum hospital funciona. O meu maior desafio, na verdade, é o funcionamento da Santa Casa, ou seja, que os poucos recursos que conseguimos ter hoje, pagando os passivos atrasados, possam ser utilizados na cura e recuperação dos pacientes. Meu foco vai ser esse na reorganização.

Vamos ter muito trabalho, mas quem já tem experiência em gestão, como eu já tenho, precisa colocar em prática. Hoje, os dados na Santa Casa não estão organizados porque não foram registrados, se perderam e agora estamos correndo atrás disso. Não estão organizados administrativamente.

Vamos mapear os processos, já que hoje não temos isso. Organizar e melhorar os processos, pois somente com esses passos em dia é que vamos poder melhorar a situação do hospital.

A Plateia: Um dos fatos que veio à tona em uma das últimas entrevistas do seu antecessor, foi o fato de que alguns médicos haviam solicitado uma revisão na remuneração e, diante da sua negativa, esse seria um dos motivos da demissão. A sua administração teria hoje como reajustar salários?

Ester Olsson: Na primeira reunião que tive com os médicos, isso foi negado. Pelo que entendi essa negociação não houve. Para os médicos plantonistas do Pronto-Socorro, o cálculo parece que não está certo, e isso tenho que ver. Não tenho nem ideia de como foi feito esse cálculo que eles alegam que estaria errado. De início, pelo que sei, ele não estaria pagando as horas noturnas, foi isso o que eu entendi. Mas em nenhum momento houve esse impasse, de que os médicos pediram aumento que tivesse sido negado. Eu ainda não tenho nem ideia das receitas e despesas. Já pedi para me apresentarem todos os contratos para que possamos rever, e avaliar, a nossa real situação. O Estado, pelo que tenho entendido, tem ajudado muito a Santa Casa e acho que vai continuar ajudando. Se soubermos a real situação, fica mais fácil, se algum cálculo estiver errado, se algum funcionário estiver recebendo valores equivocados.

Se tivermos que fazer algum reajuste, nós vamos fazer, mas com clareza, depois que tivermos todos os dados. Mais para a frente eu vou poder ter um panorama real da situação financeira e econômica e somente aí analisar se esta demanda é justa e necessária. Essa queixa foi feita, mas somente com relação ao cálculo que vamos rever. Outra situação que vamos rever é a dos traumatologistas. Vamos ver de perto essa situação e ver qual a real necessidade.

A Plateia: O que mais lhe assustou quando a senhora entrou para o hospital como Administradora?

Ester Olsson: A falta de organização. Como já haviam passado dois administradores antes, eu pensei que a coisa estivesse mais organizada e na verdade não está. Eu não entendi como as gestões estavam organizadas e agora os números podem ser modificados. Precisamos fazer esse amplo levantamento para saber com exatidão a situação do hospital.

 

Por Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

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2 Comentários

  1. Eva Gladis Villagrand

    Muita luz, Que a Dra. tenha êxito em sua empreitada.

  2. izabel peres

    Que Deus abençoe a dr Ester, o povo agradece   pois precisamos   muito da  santa casa!!!!!!!

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