Antes, escuridão e falta de perspectiva. Agora, energia elétrica, rádio, televisão, e uma nova vida

Elvira Rodrigues teve sua história contada no mês de fevereiro, quando foi encontrada pela reportagem em uma residência sem luz, água, e em condições profundamente insalubres.

Elvira Rodrigues não esconde o sorriso de satisfação com a possibilidade de assistir aos programas de televisão favoritos e ouvir o rádio

Cleizer Maciel

Ela não é mãe, nunca foi, mas, como toda mulher, chegou a acalentar durante muito tempo o desejo da gestação, esquecido no tempo e pelo tempo necessário para cuidar da própria vida. Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho para garantir o próprio sustento, os parcos recursos não foram suficientes para conquistar uma vida confortável, uma casa ampla e sem os sobressaltos de quem vive no limite das dores e da dependência de terceiros para completar a velhice, com o mínimo de conforto possível.

Na primeira semana de fevereiro de 2012, a reportagem de A Plateia encontrou, no interior do bairro São Paulo, local considerado um dos mais carentes da cidade, Elvira Rodrigues, moradora de uma casa simples, que na manhã do dia 4 de fevereiro dividia o único cômodo da casa com as incontáveis goteiras que insistiam em alagar o local e deixar ilhada a sua cama.

Doente, precisando de atendimento, com um severo problema no quadril, depois de uma cirurgia que lhe rende dores quase que insuportáveis, Elvira Rodrigues chegou a dizer, na época, que poucos dias antes havia sonhado com Deus e que este havia lhe dado felicidade e momentos confortáveis. A casa, com pouco mais de 16 metros quadrados, não possuía instalação elétrica nem hidráulica, tampouco um banheiro que pudesse oferecer condições mínimas de subsistência. Deitada, com a expressão vazia, típica de quem tem poucas ou quase nulas perspectivas de mudar de vida, a dona de casa mal poderia imaginar que sua vida daria uma guinada, ou pelo menos se tornaria mais confortável, dentro das possibilidades.

Enfim, luz!

Alguns meses depois, através de um projeto que prevê a instalação de medidores e rede interna de energia elétrica sem custo, da AES Sul, Elvira recebeu a notícia de que sua residência seria incluída na rota das instalações feitas pelas equipes da concessionária.

Com brilho nos olhos, no dia em que os eletricistas trabalhavam, ela traçava planos para ter uma vida mais confortável.

A vida na TV

Agora, quatro meses depois de descoberta, está cada vez mais distante o olhar perdido e distraído.

Aquele olhar que pedia silenciosamente ajuda, agora sorri ao ver as mil faces dos personagens das novelas que assiste na pequena televisão de 14 polegadas, instalada ao lado da sua cama.

As dificuldades de locomoção ainda existem e a cadeira de rodas ainda é fiel parceira, mas Elvira já não está mais tão longe do mundo, uma vez que além da televisão, um rádio que funciona também com eletricidade está instalado na cabeceira. Em frente à cama, a mesma que estava ilhada em fevereiro, agora há uma geladeira, que a dona de casa faz questão de abrir para mostrar que tem água gelada para matar a sede e espaço para conservar alimentos.

A alegria da 1ª fatura de luz

“Minha primeira conta veio com um valor bem pequeno, mesmo assim, ainda não quis ligar o meu ventilador para não aumentar e ter uma despesa maior”, contou ela, com um largo sorriso. Ao irmão, fiel companheiro e cuidador, Elvira fez questão de pedir que abrisse, e pegasse, do interior da geladeira, a garrafa de água que está reservada para servir aos amigos e visitantes, que agora podem ir a sua residência, inclusive à noite, já que as velas passaram a ser coisa do passado e o pequeno cômodo agora é iluminado por duas lâmpadas econômicas. Já estocado, parte do material que será usado na reforma e pequena ampliação da casa que não mais abriga uma senhora sexagenária de olhar profundo, perdido com mágoas e desesperança, mas uma cidadã que aprendeu que solidariedade existe.

“A vida está se tornando um pouco mais diferente. Ainda sinto muitas dores e estou preocupada com a minha perna. Tem noites que mal consigo dormir, mas não perco a fé de que tudo isso vai passar e vou ter uma vida normal em breve”, diz Elvira, ao contar que ainda sofre com os parafusos que foram colocados na perna depois da cirurgia. Sem perder a esperança, a dona de casa faz questão de agradecer às pessoas que têm feito, ou fizeram, um pouco para ajudar a amenizar o seu sofrimento. “Agora, se Deus quiser, vou conseguir arrumar a minha casinha, acabar com as goteiras, colocar um piso e viver mais tranquila”, desabafou.

“Paguei a minha primeira conta de luz e estou tranquila. Agora, sei que vou poder ficar às claras, mesmo à noite, e que posso acompanhar um pouco do que acontece no mundo na minha televisãozinha”, finalizou.

 

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