Planejamento, gestão e muito trabalho: os segredos da Império

Diretoria da escola que voltou a vencer após 15 anos o Carnaval de rua de Sant’Ana do  Livramento, contou em detalhes os passos da vitória

O presidente da Império da Zona Sul, radialista Dagberto Reis

Champagne, a bebida da celebração, da vitória. ” E quem quer provar, vai ter que pagar o preço para ser campeão”, diz a letra do samba enredo da Império da Zona Sul, escola de samba campeã do Carnaval 2012, com o tema “Tim Tim Viúva Cliquot, o teu champagne me encantou. A Império brinda a bebida da alegria”.

Para o presidente da campeã, Dagberto Reis, o preço para ser campeão pago pela Império foi muito trabalho dos diretores, colaboradores, apoiadores e especialmente da comunidade da Vila Municipal Nepomuceno “Cholo” Ilha, em Livramento e dos bairros Missiones e Povo Novo, em Rivera. Tudo isso precedido de um planejamento estratégico, esboçado em março de 2011 com o firme propósito de conquistar o título e uma gestão eficiente em meio às dificuldades financeiras, que na verdade nunca foram motivo para o esmorecimento da diretoria, que sempre buscou de forma organizada alternativas para solucionar os problemas.

A utilização de ferramentas de gestão, trabalhando cada quesito em disputa no carnaval, aliada a um trabalho planejado com relação aos investimentos necessários, foram fundamentais para a conquista, atesta o presidente. O trabalho na quadra com as tradicionais rodas de samba, aos domingos, mesmo no período de inverno e o “Mocotó da Império” e a captação de recursos junto a empresários simpatizantes, ajudaram a escola a conseguir os recursos necessários para a construção de carros alegóricos próprios, adquirir um som para a quadra e boa parte do tecido para as fantasias, além de novos instrumentos para a bateria.

Segundo Dagberto Reis, a Império arrecadou em torno de R$ 25 mil com o trabalho na quadra, o que ajudou muito no orçamento previsto inicialmente para R$ 50 mil, mas que acabou chegando na última semana a um valor próximo dos R$ 60 mil, dotando a escola da estrutura necessária para chegar ao título, conquistando nota 10 em todos os quesitos.

Nas duas noites de desfile a Império perdeu apenas um décimo no quesito mestre-sala e porta bandeira, sob alegação da jurada do quesito de que o mestre-sala Robson “Feijão” havia ajoelhado na pista. ” Injustiça, o Robson é professor de danças, sabe muito bem que não pode ajoelhar, não fez isso, estava próximo dele e não vi em nenhum momento ele ajoelhar”, lamentou o presidente.

Os segredos da campeã

Esconder os segredos do barracão na confecção de carros alegóricos e nos ensaios da comissão de frente é prática comum das escolas de samba no jogo da disputa do carnaval. A Império até fez o seu mistério, embora todos soubessem que apresentaria alegorias diferenciadas. O verdadeiro segredo, que muitos não perceberam ou não acreditaram, na expectativa de superá-los estava mesmo no trabalho planejado ao longo do ano, após a definição do tema.

O presidente Dagberto divide este planejamento em quatro etapas, a aquisição de novos instrumentos para a bateria e de um sistema de som próprio para a escola, a montagem de carros alegóricos, a aquisição do tecido para as fantasias e a contratação de um especialista em esculturas para as alegorias. “Depois disso bastou trabalhar os quesitos, conscientizar os componentes de que era preciso seguir fielmente o regulamento e fazer um desfile com alegria, evoluindo corretamente com a letra do samba na ponta da língua”, revela o presidente campeão do carnaval, lembrando que em meio a tudo isso sempre respeitou as escolas adversárias, nunca subestimando as concorrentes.

A superação

A morte do patrono da escola Nepomuceno “Cholo” Ilha abalou a Império e não poderia ser diferente. Cholo sempre esteve muito presente na organização da escola, como um conselheiro e profundo conhecedor do carnaval.

Dagberto lembra dos momentos difíceis enfrentados pela família Ilha e os diretores com a saudade do velho mestre. Todos no entanto estavam convictos de que era preciso se desdobrar para colocar a escola na avenida, já que este sempre foi o desejo do patrono, que nunca escondeu a sua felicidade com o retorno da Império em 2010. Aliás, uma promessa cumprida pelo presidente Dagberto Reis, após ter deixado o comando da Liga Independente das Escolas de Samba. ” Disse ao Cholo de que se tivesse apoio aceitava o desafio de promover o retorno da Império. Este apoio nunca faltou e nos permitiu ficarmos entre as quatro grandes em 2011 e foi fundamental para a conquista do título em 2012″, destaca Dagberto Reis, agradecendo a matriarca Dona Geneci, a guerreira Carminha, ao Jairo, ao Cláudio e ao Galo, pela confiança nele depositada.

A inovação

O trabalho com isopor não é nenhuma novidade em carnaval, mas em Livramento a utilização de esculturas com este material ainda é restrita. A Império da Zona Sul foi buscar em Artigas, que realiza o maior carnaval do Uruguai, um especialista na técnica de transformar o isopor em verdadeiras obras de arte. Ao criar carros de fórmula 1, o personagem Seninha e garrafas gigantes de champagne, além da imagem do patrono Cholo Ilha em isopor, o gordinho Fabio, começou a ajudar a Império a ser campeã, justificando o investimento feito pela escola que foi buscá-lo na Escola de Samba Rampla, após a realização do carnaval artiguense.

Em uma visita ao barracão da Rampla ao apreciar a habilidade do escultor, Dagberto manifestou ao carnavalesco Edis Elgarte o desejo de trazer Fabio para trabalhar na Império. ” Dag, se tu levares este cara para o nosso barracão e ele fizer estas esculturas, nós ganhamos o Carnaval”, disse Edis na ocasião, o que acabou acontecendo. “Inovamos na utilização deste material e este foi o diferencial do nosso carnaval”, afirma o presidente.

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