Promotor de Justiça, advogados e o pai de Xirica falam sobre o caso

“Acredito, sim, na inocência do meu filho”, diz Sebastão Reina, uruguaio, de 70 anos de idade

A reportagem do Jornal A Plateia procurou ouvir, nestes últimos dias, os profissionais que terão a missão de provar a inocência ou culpabilidade do réu Edson Reina, Xirica, que vai a julgamento nesta terça-feira (28), acusado de homicídio duplamente qualificado, pela morte da professora Deise Charopen, ocorrido em 1998. Neste sentido, foram ouvidos o promotor de Justiça José Eduardo Gonçalves e os advogados Fernando Góes e Filipe Góes. Da mesma forma, foram também procurados os representantes das duas famílias, mas somente o pai de Xirica, Sebastião Reina, de 70 anos de idade, concedeu entrevista, sendo que os familiares da vítima preferiram não falar, a fim de não prejudicar o julgamento.

Promotor

A Plateia: Quais são os motivos que levaram ao terceiro julgamento do Réu?
José Eduardo Gonçalves: No primeiro julgamento, que ocorreu em dezembro de 2000, o acusado foi julgado pelo crime duplamente qualificado – nas qualificadoras de meio cruel e motivo torpe – e juntamente com outros dois crimes: vilipendio do cadáver e ocultação. Ele foi condenado em todos estes crimes, sendo que do primeiro julgamento, pelo crime de homicídio, a uma pena de 28 anos de reclusão em regime fechado, e nos outros crimes a dois anos e seis meses, cada um, totalizando mais de cinco anos, mais multa. Houve recurso da defesa, porque na época vigorava no Código de Processo Penal a possibilidade de um novo julgamento, quando o Juiz aplicasse uma pena superior a 20 anos só pelo crime de homicídio, que hoje felizmente não consta mais no nosso Código de Processo Penal. Então, desta forma, ele foi para um segundo julgamento perante o Tribunal do Júri, tão somente pelo crime de Homicídio duplamente qualificado, sendo que os crimes conexos foram objetos de recursos da defesa. Neste segundo julgamento, que ocorreu em março de 2001, ele foi absolvido por quatro votos a três, sendo que o Ministério Público recorreu, entendendo que este julgamento foi contrário à prova dos autos. Como a defesa já tinha recorrido do outro julgamento, com relação aos crimes conexos, esses dois recursos subiram em conjunto para o Tribunal de Justiça. Em 4 de maio de 2003, o Tribunal lavrou um acórdão mantendo a decisão condenatória dos crimes conexos, do primeiro julgamento e no segundo Júri, de que a decisão dos Jurados foi manifestamente contrária às provas dos autos. Como o Tribunal de Justiça não pode se sobrepor à soberania do Júri, determinou que o Réu fosse submetido ao novo Julgamento, o qual vai acontecer agora. Isso significa que o Réu, quando soube da decisão do Tribunal sobre sua condenação pelos crimes de Vilipendio e Ocultação de Cadáver, foragiu. Então ele está condenado a uma pena de cinco anos, a qual ele já está cumprindo.

A Plateia: Qual é a sua grande expectativa com este julgamento?
José Eduardo Gonçalves: A grande expectativa, que é a expectativa da Justiça, a qual em partes já foi feita, é que se concretize uma decisão soberana como foi do primeiro julgamento, mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado e demais órgãos que analisaram esta decisão, de que ele seja condenado e venha cumprir uma pena compatível com o bárbaro crime que cometeu. Então, eu pergunto se foi o Xirica que esquartejou, foi ele que ocultou o corpo da vítima, quem matou? É o que vai se decidir nesta terça-feira.

Advogados de defesa

A Plateia: De que forma vocês pretendem provar a inocência do Réu?
Fernando e Felipe: Não parte da defesa a solução do problema, a questão é saber como é que o promotor vai acusar, porque dentro deste processo que conhecemos, ele não tem absolutamente qualquer prova que indique a autoria do delito do homicídio qualificado contra a professora Deise Charopen Belmonte por parte de Edson Reina. Não existe nenhuma prova, mininamente confiável, que indique no sentido da condenação.

A Plateia: O seu cliente está condenado em quais crimes?
Fernando e Felipe: Ele vai a julgamento pelo crime de homicídio qualificado, é isso que vamos discutir e mais nada. A comunidade de Sant’Ana do Livramento, através dos Jurados, vai se pronunciar sobre a culpabilidade ou inocência neste crime, e quanto a isso não há provas no processo que possa incriminá-lo.

A Plateia: Mas o Xirica não está condenado nos crimes de Vilipendio e Ocultação de Cadáver da professora Deise?
Fernando e Felipe: Isso não está em discussão no momento, o que está se discutindo é o homicídio qualificado.

A Plateia: Quantas testemunhas a defesa arrolou para o Julgamento?
Fernando e Felipe: Três testemunhas de Plenário; duas testemunhas que já tinham prestado depoimento no Inquérito Policial e uma que ainda não tinha prestado depoimento.

A Plateia: Passados tantos anos dos fatos, os senhores acreditam que isso contribuirá para a defesa?
Fernando e Felipe: O tempo que decorreu favorece o Réu, porque as coisas estão mais amadurecidas, a comunidade teve tempo de pensar, enfim. O primeiro julgamento que enfrentamos foi no calor dos fatos. Naquele momento, a Polícia pegou somente uma linha de investigação contra Edson Reina e a comunidade queria uma resposta para aquele horrendo homicídio. Dois meses depois, com o protesto do novo julgamento, ele foi absolvido, porque os jurados pensaram melhor, examinaram melhor as provas.

A Plateia: Na hipótese do Réu ser condenado, qual será a posição da defesa?
Fernando e Felipe: Nós não cogitamos esta possibilidade, ele vai ser absolvido. Já no início dos debates, assim que o Promotor Público começar a falar, a comunidade de Livramento já vai ver que o Xirica vai ser absolvido, porque não existem provas para condená-lo.

Pai do Réu

A Plateia: Qual a sua expectativa neste terceiro julgamento de Edson Reina?
Sebastião Reina: Eu estou muito bem preparado para a nossa vitória. Temos que ganhar.

A Plateia: O senhor acredita na inocência do se filho?
Sebastião Reina: Acredito, sim, na inocência do meu filho.

A Plateia: Por que o senhor acha que ele ficou foragido da cidade?
Sebastião Reina: Ele não ficou foragido, meu filho estava em liberdade, e só depois que ele foi embora para trabalhar é que saiu a última sentença. Sendo assim, ele não fugiu.

A Plateia: Alguma vez vocês conversaram com relação a este crime?
Sebastião Reina: Muitas vezes, e até recentemente, lá na cadeia. Ele me disse que está pagando por um crime que não cometeu.

A Plateia: O Xirica chegou a comentar com o senhor sobre as suspeitas de quem teria cometido este crime?
Sebastião Reina: Não, nunca me falou nada a respeito disso.

A Plateia: Quais são suas palavras para ele, durante seus encontros; quais são seus conselhos?
Sebastião Reina: Os conselhos são de pai para filho e como um homem direito como eu, não posso dar conselhos errados para ele, apesar dele ser um homem com 46 anos.

A Plateia: A sociedade chegou a condenar a sua família, por causa da repercussão deste crime?
Sebastião Reina: Não. Graças a Deus, mantive a minha vida normal. Não me escondo de ninguém e tampouco vou me esconder se ele for condenado de novo.

A Plateia: O que o senhor gostaria de dizer para a comunidade?
Sebastião Reina: A comunidade já sabe quem fez o crime ou quem não fez.

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2 Comentários

  1. adirgodoy

    Pena que la pena máxima sea solo de 30 años porque un individuo de esos en los EUA ya estaría sentado en la silla eléctrica o encerrado de por vida pero la sentencia está sufriendo en carne propia ya que nunca tuvo descanso después del crimen que cometió. 

  2. rak

    TEM QUE CONTINUAR NO FUNDO DA CADEIA!!NÃO TEM COMO INOCENTAR UM MONSTRO DESSE TEM QUE MORRER NA CADEIA….

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