Natais sem limites

Nos anos que precederam esta veloz tecnologia a saborear as alegrias do consumo, faz a época dos nossos avós superior às que os sucederam. Podia-se conversar infinitamente em grandes rodas nas calçadas para saber-se do dia-dia dos vizinhos e até, se eram ou não felizes. No tempo presente, comenta-se as dificuldades dos sentimentos e manda-se cartão de natal pela Internet como testemunho da maior perda do sentido do sagrado da amizade ao jogar-se conversa fora nas noites quentes de verão.

Estamos vivendo num contexto que se inventa uma religião que desconstrói religiões históricas e se introduz sobre os escombros das mesmas, novas religiões que prometem felicidade: o consumismo. Renovam-se mitos e crenças de que tem de se comprar todo tipo de quinquilharia chinesa. Aprisionados pela propaganda, acredita-se até na volta da juventude com cirurgias e produtos de beleza caríssimos. Se paga a programas de TV com “Grande audiência e mediocridade geral” para fazer a fortuna de poucos. No advento do futuro a materialização de pontes do dinheiro com as religiões assusta. O medo ou insegurança do futuro é consenso da maioria das pessoas, que pensa numa nova trilha a esse comportamento social. Talvez por se imaginar que estamos numa prisão ao ar livre possa ser verdade.

Não é possível que nesta nova sociedade o cão é mais valorizado que crianças e o corpo dos envelhecidos é objeto de repulsa: o velho é feio. Os mais jovens não esperam a degradação do corpo. Uma vez assegurado o corpo desejado, a ressurreição é pelo suicídio do culto a beleza. O objetivo de preparar o “advento do futuro” em falsos pilares de luxo e prazer é loucura. Há indagações incontornáveis, como a questão do amor, e a mais perturbadora é a do hedonismo que parece não ter aparado todas as arestas. As transformações sociais conquistadas parecem não preencher alguns vazios que inesperadamente se intrometem nesta festa sem ser convidados.

Um conto é utópico de outro, não aponta para o sonho, revela um pesadelo com o passado. Contudo, à medida que o remorso identifica o sonho, pode-se lutar para que ele se efetive. O curioso nisso tudo é a lição das histórias contadas por nossos avós, onde retratam melhor a nossa liberdade pela experiência da prisão que eles se livraram. É algo como naqueles natais sem dinheiro, onde tudo era feito em casa. Mantinham à maior distância possível do egoísmo. Tudo servia de consolo: a árvore de natal era de galho seco prateado com algodões e só algumas bolinhas coloridas, o saquinho de bolitas feito a mão por minha avó era o mais lindo dos presentes, a xícara de leite com uma fatia de bolo, o doce de figos, o perfume do pão doce assando ao lume do fogão, renovava o ambiente…

Para eles, o Natal era um novo dia, de esperança e de escutar as almas queridas que estivessem com Jesus, cujo valor maior era: “pouco com Deus é muito e muito sem Deus é nada”. Tudo era calmo e simples. E assim, ao viver mais um Natal de intenso consumo, tudo que eu queria, não posso ter mais. Mas me conforto com os natais enternecedores que vivi e a bela família que constituí. Feliz Natal!

Carlos Alberto Potoko

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