Interesses pessoais… Isso é coisa boa e justa

O sapateiro consertou minhas botas. Ficaram boas. Paguei. Tudo ok. Ele e eu satisfeitos. Ele realizou seus interesses e eu os meus. Lembrei-me de um artigo que li onde a expressão “interesses pessoais” foi tratada como se fosse sinônimo de malvadeza. Ora bola seis caçarolas, que mal há nisso? Interesses pessoais movem o mundo, giram a roda da história. A força integradora dos interesses é vista por alguns como força desagregadora.

Aqui na nossa fronteira, a integração entre brasileiros e uruguaios é movida, também, por interesses: há vantagens e desvantagens em se viver numa cidade conurbada binacional. Como há mais vantagens do que desvantagens, a experiência prossegue de forma satisfatória, integração de fato. Há, também, outros motivos, como os vínculos familiares entre brasileiras (os) e uruguaios (as) que se casam há décadas, mas o fator reciprocidade de interesses também ajuda.

A palavra interesse significa ganho, lucro, vantagem. De onde foi que tiraram que isso tudo seria sinônimo de egoísmo? Nada disso. Egoísmo é outra coisa. Aliás, são várias as palavras usadas injustamente em sentido negativo: preguiça, maquiavélico, lobby, etc.

Libertar as palavras das cargas negativas que lhes foram impostas ao longo dos anos é tarefa difícil, mas necessária. Assim como limpamos casas, quartos e carros, limpar palavras também faz bem.

Interesse não é sinônimo de interesses egoístas. “Ele é um lobista, defende os interesses daquela empresa lá… Um horror!”. Mas por quê? Ué, não podemos defender os interesses das empresas onde trabalhamos? Se a empresa vender remédio falsificado, aí não pode. Se a empresa vender remédio legalizado, ok, desde que os interesses da empresa sejam defendidos com métodos justos, legais, e não, por exemplo, comprando votos de parlamentares. Há lobby e lobby. Se lobby significa defender um interesse bom, de forma legal, ele é bem-vindo. Mas se lobby significar comprar a decisão do parlamentar, então não é lobby, é corrupção.

“Os interesses coletivos devem ser colocados acima dos interesses pessoais”, dizem uns. A frase é bonitinha, mas geralmente demagógica. Em prática, nas sociedades pluralistas, democracia significa método de harmonização de interesses pessoais, de pessoas físicas e pessoas jurídicas. Claro que há quem queira sempre colocar seu interesse pessoal acima dos interesses dos outros. Mas tal forma, além de chata pode ser improdutiva. Em período de eleições, nos perguntamos: “Qual seria a melhor pessoa para tal cargo?”. Um amigo, certa vez, me disse: “Fábio, geralmente as pessoas que querem um cargo, lutam por ele, são as que não deveriam assumir tal cargo”. Concordo. Escolho meus candidatos em base a tal critério. Depois, trabalho por eles, visto a camisa de cabo-eleitoral. Votar em pessoas que julgamos melhor preparadas, é uma forma de mantermos a estabilidade produtiva do lugar onde trabalhamos e, também, a nossa tranquilidade, pessoal. Afinal, de que serve salvar o camarote e deixar o navio afundar?

Os diplomatas defendem os interesses nacionais, dos países para os quais trabalham. Os cidadãos defendem também os interesses nacionais, de seus países. Mas como isso é feito? Com qual método? De forma produtiva ou com os famosos tiros nos pés? De que serve defender o interesse do camarote Brasil e deixar o navio América do Sul como se fosse uma jangada abandonada. Há formas e formas de se defender interesses pessoais, nacionais, regionais.

Interesse e amor combinam? Sim, se amar significar cuidar do interesse do outro como se fosse o meu, recordando que se fôssemos bons em amor próprio, não comeríamos demais, caminharíamos sempre, ninguém fumaria nem se drogaria. Se aprendermos a cuidar de nossos bons interesses pessoais, isso já seria muito positivo para o interesse geral da nação.

Fábio Régio Bento – sociólogo

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