Promotora santanense fala sobre o caso Bernardo de Três Passos

Dinamarcia Maciel responde críticas de rede social e lamenta o desfecho trágico do caso 

Promotora de Justiça, Dinamarcia Maciel de Oliveira, santanense que atuou no caso de investigação de maus tratos de Bernardo, morto no início da semana em Três Passos

O CRIME

Bernardo Uglione Boldrini, criança de 11 anos desaparecida desde o dia 4 de abril em Três Passos, interior do Rio Grande do Sul, foi encontrada morta dentro de um saco, nu, enterrado em uma propriedade rural de Frederico Westphalen, cidade a 80 km de Três Passos. O desfecho do caso aconteceu na madrugada do dia 14. 

No mesmo dia, o pai, o médico Leandro Boldrini, a madrastra, a enfermeira, Graciele Boldrini, e uma amiga, a assistente social, Edelvânia Wirganovicz, foram presos preventivamente suspeitos de participação no crime. Edelvânia indicou onde estava o corpo da criança como forma de delação premiada. Ela também contou à polícia que Graciele dopou o menino e depois aplicou uma injeção letal. 

Segundo investigações da polícia, a madrasta e a amiga teriam misturado pílulas dopantes no suco do menino, que adormeceu em seguida e foi assassinado. O pai, Leandro Boldrini, seria suspeito de ocultar informações sobre o crime e pistas que comprometiam Graciele.

PALAVRA DA PROMOTORA SANTANENSE

A promotora de justiça que atuou no caso de mudança de guarda judicial de Bernardo para a avó materna desde novembro de 2013, a santanense Dinamarcia Maciel de Oliveira, falou com a equipe da RCC e concedeu uma entrevista exclusiva sobre o caso.

A promotora também comentou as ofensas recebidas por meio de redes sociais e disse estar certa de ter feito o máximo pelo caso e que seria impossível prever que a apuração de possível descaso virasse um crime bárbaro de homicídio. Confira a sewguir trechos do depoimento da promotora Dinamarcia Maciel durante o programa Canal Livre, RCC.

Nós acompanhamos toda a problemática do Bernardo desde novembro de 2013.

O caso nos chegou como denúncia de negligência por parte do pai, que não lhe dava atenção e o filho vivia em casa de colegas e amigos da família.

Na palavra da promotora, desde o início o caso se mostrou delicado, “um pai médico há dez anos e sem nenhum registro de ocorrências policiais, o que podíamos fazer era uma investigação delicada e verificar com muito tato as denúncias e ver o que poderíamos fazer”. Foram buscadas informações na escola, conselho tutelar, parentes e vizinhos do casal.

Dinamarcia conta que o primeiro contato foi com a avó de Bernardo, que mora em Santa Maria e manifestou o desejo de ficar com o filho. “Enviei uma carta precatória para que a avó fosse ouvida, em fevereiro a resposta da avó ainda não tinha chegado. Tudo isto foi em janeiro”.

“Nesse meio tempo, talvez numa iniciativa inédita, Bernardo me aparece no Fórum muito articulado, senta na minha perna direita e me fala do desejo de mudar de família. Ele disse que era mal cuidado pelo pai que só trabalhava e a madrasta só xingava, ele xingava de volta, saía de casa e batia a porta e me pediu para arrumar outra família, ele inclusive já tinha escolhido essa família. Tudo isso no dia 24 de janeiro. Eu prometi: o que a Lei permitir que eu faça, eu vou fazer e te ajudar”.

“No dia 27 chegou a resposta da avó dizendo que queria ficar com ele. Eu ingressei com um processo em favor do Bernardo contra o pai pedindo a guarda da criança para a avó. O juíz despachou no dia 3 de fevereiro marcando audiência para o dia 11 de fevereiro. Para proteção da verdade e de Bernardo, eu não ouvi o pai antecipadamente para não trazer represálias para a criança e esperei pela audiência”.

Lembro que na audiência o pai se mostrou perplexo, e não concordou com a guarda de Bernardo para a avó, ele disse que era o seu único filho homem e que trabalhava muito e pediu mais uma chance.

“Foi aberto um período de experiência e se marcou uma audiência pra o dia 13 de maio, tudo vinha caminhado numa aparente normalidade, até quando o menino desapareceu no dia 4 de abril e o pai só comunicou no dia 6 de abril”.

“No dia 7 de abril pedi a interrupção do estágio e pedi que Bernardo assim que localizado fosse entregue a avó. O casal ainda me procurou para atendimento e saber o que as autoridades estavam fazendo para encontrar o filho, eu expliquei que estávamos fazendo o impossível. Mas hoje percebo que foi apenas uma encenação”.

A promotora de Justiça Dinamarcia Maciel finalizou afirmando que está direcionando todas as suas energias para colaborar com a delegada de polícia e ajudar a desvendar o caso. “Lamento que a criança tenha a vida interrompida por quem tinha o dever de zelar por ela, embora eu esteja promovida para outra comarca, me coloco à disposição da justiça para ficar designada no caso”, comentou a promotora emocionada.

Com relação às críticas, Dinamarcia comentou que se trata de pessoas desinformadas e que não conheceram do caso em profundidade, mas é preciso saber lidar com esta nova modalidade de crítica, embora muitas vezes precipitada. “Transformo essa energia negativa nula mola propulsora para trabalhar infelizmente não tenho poderes para saber o futuro e não poderia prever que um caso de verificação de descaso poderia chegar a homicídio. Estou convicta que agora não mais poderá existir impunidade”.

 

 

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.