O CONFLITO PAPELEIRO

O conflito diplomático entre Uruguai e Argentina por causa de uma fábrica de celulose no rio Uruguai já teve até clima de um confronto armado, temido pelo então presidente uruguaio Tabaré Vasquez, em 2006. O rio separa os dois países e duas cidades: Gualeguaychú, no lado argentino e Fray Bentos, no lado uruguaio.

Em Fray Bentos foi construída a fábrica Botnia, de capital finlandês, iniciando a sua produção de pasta de celulose, em 2006, dando início a uma disputa internacional que já teve de tudo: denúncias na OEA, no Banco Mundial, negociações em Nova York, mediação sem resultado do Rei da Espanha, além de um permanente protesto dos moradores do lado argentino que de vez em quando bloqueiam a ponte internacional que liga as duas cidades.

O Uruguai parece não dar muita importância aos protestos argentinos e tanto isso é verdadeiro que o atual presidente José Mujica acaba de autorizar a Botnia (hoje rebatizada de UPM) a aumentar a sua produção anual (1,1 milhão de toneladas) em mais 100 mil toneladas. O anúncio oficial da autorização ocorreu no último dia 2 deste mês, pois se a UPM não conseguisse aumentar sua produção iria suspender suas atividades, algo inimaginável para as autoridades uruguaias.

Para que se tenha uma idéia da importância da empresa para economia uruguaia, a fábrica finlandesa é o maior investimento estrangeiro direto já realizado no Uruguai no valor de US$ 1, 8 bilhão. O Uruguai garante que a produção de pasta de celulose tem um controle ambiental realizado pela Caru (Comissão Administradora do Rio Uruguai), um órgão binacional argentino-uruguaio, criado no início de 2011, mas que até agora não divulgou qualquer resultado, por pressão dos técnicos argentinos.

Se a Caru está silenciosa, a Direção de Meio Ambiente do Uruguai informa em seus relatórios que a UPM está sob controle e não causa poluição no Rio Uruguai. O caso esquentou outra vez no lado argentino por que as eleições legislativas marcadas para o final deste mês poderão acabar com o projeto de um terceiro mandato para Crstina Kirchner.

O conflito com o Uruguai não provocará uma declaração de guerra, mas servirá nestes últimos dias de campanha eleitoral para desviar a atenção dos eleitores argentinos da insegurança pública, da inflação e da corrupção do governo” K”. Alejandro Borensztein, humorista do jornal Clarin, de Buenos Aires, debocha da poluição no rio Uruguai, dizendo: “Não podemos permitir que eles (os uruguaios) contaminem os nossos rios. Ninguém sabe fazer isso melhor do que nós mesmos”.

TEM POLUIÇÃO? (1)

O presidente uruguaio José Mujica rebate as acusações argentinas sobre a poluição do rio Uruguai, garantindo que seu país tem relatórios de técnicos canadenses negando qualquer contaminação da fábrica UPM nas águas que separam os dois países.

TEM POLUIÇÃO? (2)

O chanceler argentino Héctor Timerman culpa a UPM pelo lançamento de dejetos preocupantes de fósforo e outras substâncias tóxicas. A temperatura do rio Uruguai subiu e já prejudica o balneário de Ñandubaysal, no município de Gualeguaychú.

TEM POLUIÇÃO? (3)

Em Gualeguaychú, no distrito industrial com 27 fábricas funcionando, dejetos são lançados no rio de mesmo nome, um afluente do rio Uruguai. O presidente José Mujica disse que o pesticida Endosulfan foi encontrado em grande quantidade e o chanceler Timernan ficou calado.

TEM POLUIÇÃO? (4)

Moradores de Gualeguaychú falam em aumento de incidência de câncer e do nascimento de bebês prematuros, mesmo que não existam estudos sobre o assunto. Do lado uruguaio a resposta é que os argentinos inventam essas histórias. “Nosso único problema é um cheiro forte de enxofre que de vez em quando invade a nossa cidade”, disse uma moradora que apóia a presença da fábrica em Fray Bentos.

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