Um novo e provocante desafio

Desde a publicação do livro “Caso Kliemann, a história de uma tragédia”, há três anos, leitores cobram-me um trabalho semelhante em relação ao chamado “Caso Daudt”, outra história real com todas as características de novela.
Para recordar e informar aos mais jovens: o médico e deputado estadual Antonio Dexheimer foi acusado de ser o autor dos disparos que mataram seu colega de Parlamento e de partido, o jornalista José Antonio Daudt. A motivação seria o envolvimento da ex-mulher do primeiro parlamentar com a vítima.
Ao longo de um quarto de século, a imprensa sempre se referiu ao episódio como o “Caso Daudt”, quem sabe o mais enigmático drama da moderna história político-policial do Rio Grande do Sul.
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Na noite de 4 de junho de 1988, aos 48 anos, José Antônio Daudt foi assassinado ao chegar à sua residência, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Caiu abatido por dois disparos de uma arma de caça calibre 12. Ainda sacou o revólver 38 do coldre, mas o chumbo dos cartuchos já havia se espalhado pelo seu corpo.
Enquanto ele agonizava, os amigos mais próximos encarregaram-se de difundir uma só versão: o autor do crime foi o deputado Antonio Dexheimer.

Até a absolvição do indiciado, pouco mais de dois anos depois, muitos episódios inquietantes envolveram o inquérito, incluindo briga de vaidades entre delegados responsáveis pela investigação e conflitos de interesse político.
Também no Judiciário houve profundas divergências. Um promotor não tem dúvida: Dexheimer é o assassino. Outro promotor tem certeza: ele é inocente.
Mais do que isso, o que importava para os círculos sociais fechados e para o grande público, foram os bastidores da vida pessoal dos implicados na história.
José Antônio Daudt era um combativo homem de rádio e televisão. Tinha por hábito dar socos na mesa para enfatizar suas opiniões. Mas nos meios jornalísticos e em pequenos círculos sociais, não era segredo a sua homossexualidade.
Revelações, maledicências e suspeitas sobre o mundo gay povoaram o imaginário dos gaúchos. E isso acabou atingindo, pelo menos em parte, a idealizada e mítica figura do homem másculo, montado em cavalos, capaz de lutar com bravura nas coxilhas e fronteiras, na defesa de seu território e de suas ideias.
Também os homossexuais eram capazes disso.
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Decidi enfrentar o provocante desafio de resgatar também esta história. Protelo alguns outros projetos e vou mergulhar nos documentos e testemunhos de quem possa, de uma ou outra forma, contribuir para esclarecer aspectos até hoje nebulosos do crime. Sem pressa. Porque continua sem resposta uma pergunta essencial, com a absolvição de Dexheimer:
- Quem matou José Antonio Daudt?

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