“Não te fresqueia”

“Frescura, bobagem” – como diria aquele gauchão do tempo antigo, lá do Rincão dos Tauras, se lhe fosse pedido que começasse a usar protetor solar, afinal de contas, não é qualquer ‘cremezito’ que vai demover uma prática secular na pampa: com o calorão da primavera e verão, os torenas se atracam à lida no campo e na lavoura, com o sol pelo lado de laçar, em toda sua intensidade.
Pode até ser cultural qualificar como frescura passar a “pomada contra queimadura do sol”, mas por mais lombo duro que seja o bagual, a insolação, a intensidade dos raios solares e a sensação deixam o taura mal, assoleado.
Tem razão o presidente do Sindicato Rural de Livramento quando estimula os criadores e pecuaristas ao uso e também a cederem para seus funcionários – especialmente os que fazem a lida diária no sol – protetor solar para uso nas recorridas e na rotina de trabalho. Em reportagem do Caderno Rural de hoje, Luiz Claudio Andrade aborda esse assunto.
Mesmo que não faça parte da tradição, é uma necessidade nos tempos de hoje.
Basta olhar para o passado, para que seja possível verificar o que pode ocorrer com o não uso. Com 63.000 novos casos em 2002, o câncer de pele é o que mais ocorre no País e crescendo à taxa de 8% ao ano. Hoje, 11 anos depois, o problema continua. Cerca de 80% de rugas e manchas da pele são provocadas pelo sol e 2/3 dos brasileiros ainda não usam o filtro protetor solar. Os agricultores, por trabalharem ao sol, são os mais prejudicados. Também estão expostos: os pescadores, os pecuaristas, os que trabalham com reflorestamento e outros.
Está certo que taura com guardassol é que nem carroça com párabrisa, mas protetor solar é essencial para a saúde do povo rural.
Homens e mulheres que trabalham de sol a sol, literalmente, precisam tomar cuidados e, sobretudo, voltar ao passado, ao natural dos primórdios. O famoso banho na sanga e a água de poço bebida a la farta em tempos de calor nada mais são do que elementos preventivos, quais sejam para hidratar o corpo. Agora, com as tecnologias – e o protetor com filtro solar é uma delas – basta deixar de lado eventual não entendimento e até pré-conceito e utilizá-lo.
Afinal de contas, na campanha, é sabido que a lida é dura, mas é buerana. Mas nem por isso, o índio velho precisa andar de lombo ardido.
Diante disso, fica evidente que a modernidade salutar, ou seja, aquela que preserva a saúde do vivente precisa estar presente no campo.
A parte do corpo mais sensível ao sol é o rosto, cuja pele tem menos de 1 mm de espessura, cerca de 100 vezes mais fina que a do braço, por exemplo.
O pessoal da lavoura, mais modernamente, sabe que o sol é o elemento mais diferenciado que possa haver. Ele vai tostando o taura devagarzinho, como quem assa chancho no rolete.
De resto, é torcer para que a ideia tome conta de todos aqueles empreendedores e instituições em que seus colaboradores trabalham no sol intenso cotidianamente para que adotem a ideia.
E para os mais resistentes, utilizando bem apropriadamente o linguajar coloquial, popular, de Fronteira: “Não te fresqueia, cristão, e passa o creme antes da lida”.

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