Menos discursos

Os números da balança comercial, do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do País), da inflação e as oscilações do dólar, sempre que atualizados, representam importantes termômetros que indicam as direções tomadas pela economia. Ter essa visão com antecedência ajuda os governos e as corporações empresariais a planejar suas ações e a tomar decisões com graus variáveis de possibilidade de acerto. Ninguém gosta de errar. E estar atento aos indicadores da economia é um dos meios para levar a conclusões que, por sua vez, levam às grandes decisões.
A performance da balança comercial brasileira e o governo da presidente Dilma Rousseff estiveram em voga nos noticiários dos últimos dias. A União informou que a balança comercial registrou em maio o melhor resultado do ano, com um superávit de US$ 712 milhões. Isoladamente, este valor pode parecer motivo de comemoração. Mas é o contrário. Nada de vibração. Segundo o governo, este foi o pior desempenho para o comércio exterior para um mês de maio desde 2002.
De fato, o resultado ficou acima do esperado por especialistas, que projetavam um déficit de US$ 75 milhões. E o governo, que faz projeções otimistas num ano que terá eleições presidenciais, prevê resultado positivo na balança comercial com o exterior. No entanto, não informa o valor desta perspectiva. Nos dados que contribuíram para o saldo de maio, o governo contabiliza a melhora nos negócios com petróleo, mas leva em conta também a redução nas vendas de soja, minério de ferro, autopeças e carros como dificuldade da reação das exportações brasileiras. Por exemplo, a Argentina diminuiu sua demanda e isto teve reflexo na queda das exportações do Brasil de automóveis e autopeças.
Igualmente aos outros setores de atividade, na economia, os departamentos que reúnem as diferentes atividades produtivas também sentem os reflexos de outras partes. Basta lembrar que a indústria e os investimentos recuaram desde maio de 2013, o que desencadeou no fraco desempenho da economia no início deste ano.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que os investimentos caíram 2,1% no trimestre passado, comparado com os três meses anteriores, marcando três trimestres seguidos de queda. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, a taxa de investimentos na indústria em relação ao PIB recuou a 17,7% no primeiro trimestre deste ano, o pior resultado para o primeiro trimestre desde 2009, e a confiança industrial está no menor nível desde 2009.
A economia tem apresentado crescimento tímido desde 2011, apesar dos incentivos do governo ao setor produtivo. Isso deixa a indústria e outros setores em compasso de espera. Uma das possibilidades que mexem com os investidores é de ocorrerem anúncios de novos incentivos, mas o governo não dá sinal de que isto irá acontecer. O mais provável, segundo analistas de mercado, é que este cenário se estenda até 2016. Sem contar que ainda há o desafio do governo na luta pelo controle da inflação. Dentro desse objetivo, no fim do mês passado, o governo manteve a taxa Selic em 11% ao ano. Tudo somado, certamente o governo de Dilma Rousseff fará todo o possível para controlar o desempenho da economia nos níveis otimistas, apesar deles serem constantemente impactados pela realidade difícil. O período eleitoral é um fator que faz a diferença, pelo menos por enquanto. Dilma deverá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter a esperança dos brasileiros de que no fim das contas tudo vai dar certo. Medidas urgentes têm que ser tomadas para evitar que tenhamos sinal vermelho. Mas para isso é preciso muito mais do que discursos.

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