Para não ter medo

Não há como falar em desenvolvimento social quando a sociedade não tem tranquilidade para dedicar-se às ações efetivas em favor desse desenvolvimento. Sabidamente, um dos itens que mais contribuem para essa falta de tranquilidade é a insegurança provocada por uma série de aspectos negativos do cotidiano, sendo um dos principais a questão da criminalidade. Nesse sentido, a Fronteira vem sentindo com regular e infeliz frequência os efeitos da criminalidade, especialmente na forma de homicídios. Ainda que se possa atribuir a muitos dos casos causas emocionais, passionais, sabe-se que muitos deles têm igualmente ligação com o crime organizado – leiam-se drogas, tráfico de armas e de pessoas, abigeato, entre outros. Não se pode, a princípio, envolver nesse diapasão casos como o ocorrido na madrugada deste domingo, no qual uma briga generalizada no interior de uma residência na vila Argiles resultou em diversas pessoas feridas. Mas é importante ressaltar: apenas, a princípio. Ainda não são conhecidas as causas dessa briga, e em uma Fronteira onde têm sido frequentes os crimes envolvendo o consumo e o tráfico de drogas, é justificado imaginar que tanto um quanto outros casos, tudo acaba de uma forma ou de outra tendo algum tipo de relação com a droga – até mesmo crimes passionais ou de fundo emocional. O tráfico de drogas aparece como o principal fator causal associado às altas taxas de violência homicida. O cidadão, em geral, tem esse tipo de entendimento, conforme voz corrente. Além da fragilidade institucional, que se expressa na desconfiança popular em relação às instituições, ajuda a explicar o quadro descrito ao fracasso das políticas de populismo penal implementadas nos últimos anos. Também são motivo de preocupação a persistência das violações aos direitos humanos, o crônico abandono dos sistemas penitenciários, a privatização da segurança e até mesmo o uso recorrente das Forças Armadas em tarefas de segurança pública.Um estudo recente do Banco Mundial sobre a violência em 7 países da América Central identifica três de suas causas principais, a saber: o tráfico de drogas, a violência juvenil e a disponibilidade de armas de fogo. Dentre todas, a droga é a mais importante quantitativamente. O ranking das 50 cidades com maior violência homicida do mundo ratifica o narcotráfico como seu elemento causal mais importante. Ainda que aparentemente se situem os efeitos da ação do tráfico em um ambiente “distante” do cidadão – em relação a seu lar, seu círculo de amizades, de trabalho, de estudos, enfim – o sentimento de insegurança que passa a predominar no ambiente coletivo não lhe permite a tranquilidade de que poderia usufruir estando de fato distante dela. Não está, infelizmente. O perigo mora ao lado, ou na rua vizinha, ou no bairro, mas com certeza na cidade onde ele vive com sua família. Ou seja, não há como usufruir da segurança quando se sabe que qualquer cidadão está sujeito e à mercê das consequências do tráfico e – talvez pior, neste caso – do consumo de drogas. Com os sentidos entorpecidos pela droga, ou pela falta dela, muita gente “de bem” pode infelizmente tornar-se um agente do mal, um braço da criminalidade, fazendo chegar ao mais consciente e precavido cidadão os lamentáveis efeitos da falta de segurança pública. As autoridades têm demonstrado preocupação nesse sentido. As ações e inovações político-administrativas no ambiente que rodeia o território brasileiro, trazem para a sociedade santanense, especialmente, a ciência de que mais fácil do que se pensa, os efeitos do narcotráfico podem se fazer – ainda mais – presentes. Por isso é justa e necessária a preocupação – e a ação – das autoridades. Livramento está no meio desse ambiente e tem percebido seus efeitos cada vez mais cotidianamente. Pode até que não tenha nenhuma relação com isso, por exemplo, o caso de polícia ocorrido na madrugada deste domingo, mas foi mais um caso a se somar aos crescentes números da criminalidade. Está na hora de que sejam adotadas medidas preventivas para evitar que a sociedade ainda tenha muitos motivos a chorar – e para continuar desconfiando das instituições.

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