Minha história em Santa Maria

Convidado por colegas jornalistas, e com o apoio da FADISMA (Faculdade de Direito de Santa Maria) e da Prefeitura do município, comandada por meu amigo César Schirmer, retorno a Santa Maria nesta quinta-feira, 22 de setembro. No auditório da Faculdade, a partir das 18,30 horas, vou falar sobre o livro “Caso Kliemann, a história de uma tragédia”, e conversar com estudantes, professores e tantos que gostam de literatura, jornalismo, livros. Depois, uma sessão de autógrafos.

Voltar à cidade plantada no coração do Rio Grande me remete, necessariamente, a um momento significativo da minha vida profissional.

Na edição de fim de semana de 21/22 de agosto de 1982, a manchete do jornal não deixa dúvidas: A Razão agora é de Santa Maria.

Luizinho e eu havíamos concluído as negociações com Paulo Cabral, presidente dos Diários Associados e o jornal passava a ser comandado pela recém fundada Empresa Jornalística De Grandi Ltda. Com isso, evitamos que esse veículo tradicional desaparecesse em meio aos escombros do espólio da outrora poderosa empresa de Assis Chateaubriand.

Além da manchete, assinamos dois artigos na primeira página, para explicitar os nossos propósitos. O texto do Luizinho, “Confiança e Fé”, lembrou sua identificação com a imprensa local e com a cidade: “temos hoje uma consciência muito clara de todos os problemas, anseios e aspirações da nossa comunidade”. E logo depois: “O não compromisso com qualquer grupo econômico ou político nos deixa inteiramente à vontade para lutar e defender, com denodo e firmeza, os interesses maiores de Santa Maria e da região”.

O Brasil vivia momento político importante. Encerrava-se um ciclo, respirava-se novos ares.

E no meu texto, “Talento e coração”, além de destacar esses predicados que entendo indispensáveis para a prática jornalística, falei sobre algumas outras ideias essenciais:

“Cabe-nos defender o princípio básico da liberdade de imprensa. Será nossa parcela – ainda que pequena – de contribuição para o processo de aperfeiçoamento das instituições democráticas”.

E mais:

“Não interessa a democracia àqueles que não sabem conviver com a verdade. Não a querem aqueles que se locupletam de regimes fechados. Não a desejam aqueles que ambicionam impor ideologias incompatíveis com o espírito, a formação e a vontade do povo brasileiro. Vamos ser, também, porta-vozes permanentes dos anseios e das reivindicações de Santa Maria e da região Centro-Oeste. Chegamos para contribuir. Aqui estamos para somar. E queremos construir juntos.

Seremos aliados de tantos quantos tenham responsabilidade político-social e, por consequência, participem do processo de construção de uma nova sociedade”. E assim foi. Nos meses e anos seguintes, praticamos esses ideais e o jornal tornou-se mais forte e respeitado.

Veio março de 1988. E com ele o absurdo e incrível assassinato de Luizinho, na madrugada de um sábado quente e abafado.

Não perdi apenas o irmão. Deixei de ter a meu lado o melhor amigo e o sempre parceiro de ideias e ideais.

Como escreveu Mário Quintana, “perdi um jeito de sorrir que eu tinha”.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.