O DIA QUE A BRIGADA APANHOU

Chorei. Mas como diz o samba, “pena de mim não precisava, alí onde eu chorei, qualquer um chorava”. A frase inicial deste comentário é o que disse o poeta e escritor Affonso Romano de Sant’Anna quando se reuniu, nos anos 80, com quarenta caciques, num auditório da Universidade do Mato Grosso do Sul, no Dia do Índio e o tema era o extermínio das nações indígenas.

Pois eu chorei ao ver na simbologia da farda da Brigada Militar a instituição sendo massacrada por um bando fascista, nas imediações da Prefeitura de Porto Alegre, na noite da última quarta-feira. Um sargento foi derrubado e por muito pouco não foi linchado ao tentar prender um marginal que queria derrubar uma porta do prédio que é a sede do governo municipal.

Chorei como cidadão que também estava sendo agredido com aquelas imagens chocantes do quase linchamento de um policial que apenas exercia o sagrado dever de prender um vândalo, em defesa da sociedade. Não fosse a pronta intervenção de outros três ou quatro PMs, seguramente, estaríamos – quem sabe? – lamentando o massacre do sargento.

Caído na calçada, o sargento foi chutado e espancado como mostram as imagens da Tv Record. Aquele homem fardado – notava-se com saliência o seu capacete branco – mais parecia um animal abatido prestes a ser devorado por hienas famintas.

Tão logo os colegas recolheram e salvaram o sargento, todos foram perseguidos pela turba que só não agrediram também os brigadianos pela ação de um pelotão que estava a uns cem metros do incidente e que revidou com bombas de efeito moral.

Estes são os fatos dessa noite trágica que nos meus mais de 40 anos de jornalismo jamais tinha presenciado e muito menos possível de ser sequer imaginado. Vivi a tragédia da degola do soldado Valdeci Lopes, 27 anos, que morreu sem saber dos motivos da agressão fatal dos assassinos do MST.

Nesta quarta-feira, no entanto, foi diferente. Há o testemunho inexorável das imagens gravadas no ato da violência e elas são chocantes pela fúria patológica dos agressores e pela sensação que passou a todos nós cidadãos decentes de que também estamos sujeitos a mesma agressão.

Antes já vimos cusparadas, ofensas verbais e ameaças físicas aos brigadianos em dias de manifestações “pacíficas”. Agora, estamos vivendo a segunda etapa do projeto fascista: o ataque violento aos policiais, sustentado por gente poderosa que garante a impunidade dos novos camisas pretas – uma cópia tosca da Itália de 1922.

Por isso tudo é que chorei em solidariedade aos bravos brigadianos que nos defendem todos os dias e que também choraram de vergonha quando viram a instituição apanhar de um grupo de marginais na pessoa daquele PM caído na calçada da Prefeitura.

O “APREENDIDO”

O adolescente que foi “apreendido” pelo sargento da BM, cujo incidente originou a agressão ao policial-militar, tem 17 anos é já era conhecido das autoridades. O comandante do 9º BPM, major André Luiz Córdoba, disse à Rádio Guaíba, que o jovem “é reincidente de outros protestos e alvo de investigação da Polícia Civil e teve conduta similar em outras manifestações”.

COMO EXPLICAR?

Quem vai dizer aos brigadianos que o incidente com o sargento foi um caso isolado e que não se repetirá? Alguém vai explicar o mesmo aos vândalos que agora estão se sentindo mais poderosos e – como sempre – impunes?

DE QUEM ENTENDE

Um oficial da Brigada Militar disse ao colunista que se as autoridades quisessem teriam as identidades de todos os líderes dos vândalos que promovem as arruaças em Porto Alegre. Bastaria usar o velho expediente do infiltrado. Em casos assim é um método infalível. Mas quem disse que as autoridades querem identificar os promotores da bagunça? Como iriam prender, em alguns casos, cabos eleitorais remunerados exatamente para fazer o que fazem?

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