O mate e o morocho!

A necessidade é a mãe da invenção. Esse é um ditado popular antigo. Conhecido de norte a sul. Pode-se acrescentar, por conta e risco, o uso de licença poética para adaptar este último adágio para: a necessidade ensina os meios para a sobrevivência. É o que mais vem acontecendo em Livramento, inclusive gerando exemplos e reconhecimento. O leitor já parou para observar quantas pessoas vendendo lanche circulam pela cidade hoje?
É perceptível, um aumento ainda mais significativo nesse fenômeno. Evidentemente, há os esporádicos, mas existem aqueles que estão diariamente circulando em busca do sustento.
São santanenses e também pessoas que chegam de outras cidades e estados do País, buscando a sobrevivência com a dignidade que caracteriza as pessoas de bem, afinal, em uma realidade de baixo poder aquisitivo – como ainda é a de Sant’Ana (onde há concentração de riqueza, propriamente dinheiro, em determinados pequenos grupos, enquanto a maioria ainda não tem, pela vazão do trabalho a perspectiva de aumento de ganho – diferentemente do que acontece em outras cidades, onde existem empreendimentos significativos, como Rio Grande), não precisa, necessariamente estar empregado para trabalhar.
O importante é manter a dignidade de ganhar o próprio pão honestamente. Aliás, é preciso considerar. A grande questão é que não existe um equilíbrio de relações entre a mão de obra disponível, a necessidade de mão de obra qualificada e, especialmente, o pagamento oferecido/recebido. São necessárias muitas horas de trabalho para produzir resultado financeiro para o trabalhador. É a famosa mais-valia de Karl Marx com uma nova roupagem.
Em tempo. Mais-valia é o termo famosamente empregado por Karl Marx à diferença entre o valor da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista.
Na cidade onde não há fiscalização do Ministério do Trabalho por absoluta falta de fiscais, há, por um lado, situações diferentes e, por outro, criativas, embora, claro também sejam registráveis os excessos.
Trabalho há. Emprego para mão de obra qualificada existe – não em profusão, mas existe. Uma prova disso é o serviço público. Muitos, de nível técnico e superior, recusam funções na área pública porque paga pouco. O mesmo vale por aqueles que têm o entendimento de que sua hora de trabalho valeria mais do que o mercado paga. Então, partem para a informalidade ou, em outra perspectiva, para o microempreendedorismo.
Também existe trabalho para quem não está tão qualificado assim.
Porém, existe aquela gama que continua tomando chimarrão, em pleno inverno, às 16h, na porta de casa, sem se preocupar com o resto. Total!!! “O Bolsa” tá garantido. E nada contra o programa governamental.
Procure alguém para limpar um pátio. É raro de encontrar.
Tente encontrar um pedreiro – que não seja meia colher, como dizem na gíria da profissão. Os de colher cheia estão todos trabalhando.
Bem, se existem os que não querem trabalhar, cidadãos que – direito pleno assegurado – não desejam atividade laboral, há aqueles que querem arduamente e há os exemplos.
El morocho de La empanada é um desses exemplos.
Nem é daqui. Mas tornou-se santanense. Veio lá do Pará. É aluno do curso universitário de Relações Internacionais, na Unipampa. É um fronteiriço. E dos mais louváveis. Pelo trabalho. Pela atitude, pela postura. Sobretudo, pelo caráter.
O Rafael Castro, figura que ganhou projeção – como todos deveriam ganhar – simplesmente pelo trabalho. Pela vontade, pela “alma castelhana”. Um brasileiro que vai longe. Aliás, veio de longe, do seu Pará, para a Fronteira.
E, bem, a intenção aqui, não é falar sobre o Rafa, especificamente, o Rafael do Pastel e do sotaque diferente do nosso – que é bagual. A reportagem completa desta edição fala sobre a vida dele. Conta um pouco de sua história.
A ideia, aqui, não é falar sobre ele ser um exemplo a ser seguido. Embora o seja.
A idéia é recordar que aqueles que ainda não atingiram esse nível de determinação e entendimento, os quais podem continuar tomando chimarrão em pleno dia útil na frente da casa. Tranquilamente.
Mas cuidado. Um dia, a erva acaba.

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1 Comentário

  1. RafaelSantos

    Valeu Bachio. Tenha certeza que hoje o meu compromisso não é só comigo mesmo, mas também com toda a comunidade da fronteira. Os amo muito.

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