Tempo de desejos e saudades

As boas lembranças do Mercado Público, motivo do texto da semana passada neste espaço, provocou a manifestação de leitores de várias gerações, identificados por um mesmo sentimento: amor sem restrições ao “principal cartão postal de Porto Alegre”, como o definiu o artista plástico Paulo Amaral.
Outro bom amigo, Fernando Ernesto Corrêa, filho do inesquecível “major” Ernesto Correa, razão do meu livro “Diário de Notícias, o romance de um jornal”, foi dos primeiros a se identificar com as rememorações, tanto do Mercado como da vida boêmia dos jornalistas em meados do século passado.

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Houve outra unanimidade: o Adelaide´s, ponto central dos boêmios gaúchos durante aquele tempo.
A escritora Maria Moura Baptista adorava ir lá, na companhia saudosa do jornalista Rubens Torelly. Sempre havia alguém capaz de contar histórias da vida de Lupicinio ou cantar uma de suas músicas.
E Jorge Berg não esquece as “palhinhas” que ele próprio arriscava usando o violão de um mulato que rondava por lá, ao lado do Johnson e tantos outros.

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Pelo menos dois amigos – Eugênio Machado e Wilson Lermen – reclamaram: por que não citei o American Boate, aquele pequeno palacete da Voluntários da Pátria frequentado pelos melhores nomes da pecuária gaúcha, entre eles João Goulart?
Além das rumbeiras paraguaias, apresentavam-se músicos e cantores argentinos da melhor qualidade. Diz-se que a cantante Isabelita, antes de conquistar as graças de Perón e o poder na Argentina, muitas vezes andou por lá, tendo como agente um militante peronista que acabou ministro.
Do que lembro, com certeza, foi de quando fui pela primeira vez ao American Boite, numa noite de muito calor, levado por Sebastião Vasconcelos, uma espécie de preceptor que, sob o olhar recatado de meu pai, mostrou-me muitos dos caminhos e segredos da vida.
O “Tuco”, como Vasconcelos era conhecido, sabedor dos bastidores da noite – junto com o irmão, esbanjou em jornadas boêmias cariocas a fortuna deixada pelo pai em Passo Fundo – alertou-me quando a dançarina começou as provocações à frente de um solitário estancieiro, seu amante:
- Isso vai dar confusão.
Não demorou e o cavalheiro jogou a mesa, com copos e garrafas, sobre a bailarina.
Muito rapidamente, os seguranças encarregaram-se de colocar ordem na casa, enquanto alguém gritava “música, maestro”. E a festa continuou.

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Nada foi esquecido do Mercado, nem mesmo os gatos que circulavam certa época no segundo piso. E, claro, há quem recorde das percantas e vivandeiras que atendiam a preços módicos nas cercanias.
Gladis Dreizik lembrou da infância e se deu conta que precisa levar até lá os netos, quando o Mercado for reaberto; Victor Faccioni diz que só tem dele boas lembranças e Rosangela Negrini vai cobrar das autoridades a reabertura urgente.
O Mercado é sinônimo de desejos múltiplos e a boemia de anos atrás uma grande saudade.

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