As boas lembranças do Mercado

No último sábado, eu assistia ao depoimento do senador Pedro Simon (Dossiê Globonews), sobre bastidores da política brasileira nas últimas cinco décadas, quando meu filho, Rodrigo, ligou para alertar:
- O Mercado Público está em chamas.

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Impossível não ficar entristecido.
Desconheço porto-alegrense, da minha e de todas as gerações, que não tenha carinho especial por esse monumento histórico plantado no centro da capital gaúcha.
Cada um de nós tem alguma coisa para contar sobre o Mercado. Eu teria bem mais que uma história apenas e em tempos bem distintos.
Frequento-o há cinqüenta nos.
Nos tempos de moço, era quase sempre no restaurante Treviso, com portas abertas para a Av. Borges de Medeiros, que encerrávamos nossas noites de boemia.
Muitas vezes já madrugada, depois de “fechar” a edição do dia, deixávamos, em grupo, o prédio do Diário de Notícias, no quarto distrito, rua São Pedro, 733, e rumávamos para o centro.
A partir daí, repetia-se o roteiro, com pequenas variações: o inesquecível sanduíche de pernil, no Matheus da Praça da Alfândega, para alimentar o corpo, e a busca de acalentos para a alma, nos bares e boates das redondezas.
O bar símbolo da boemia era o Adelaide´s, na rua Marechal Floriano e o clube noturno mais requisitado o Marabá, na Siqueira Campos.
O Adelaide´s e o Treviso eram os preferidos dos músicos. No primeiro encontrávamos sempre Lupicinio Rodrigues e o segundo eternizou Chico Alves, pendurando na parede a cadeira onde ele costumava sentar. Quando o Treviso fechou, a peça foi para uma parede do Gambrinus, onde está até hoje.

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Nos últimos anos, com a alma um pouco mais serenada, vou regularmente ao Mercado em busca de peixe fresco, bacalhau de qualidade e as delícias da banca 43.
Ir ao centro de Porto Alegre, para mim, é revisitar lugares e sentir cheiros e sabores de um tempo inesquecível.
Difícil falar em tempos melhores. Sempre entendi que o importante é viver da melhor forma possível todas as etapas da vida, cada uma delas com bônus e desprazeres inevitáveis.
É certo, isso sim, que no início da década de 60 do século passado, vivia-se uma Porto Alegre sem os medos de hoje. Era possível caminhar à noite, no centro da cidade, sem sobressaltos e sem qualquer preocupação com segurança.

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Estamos, todos os porto-alegrenses, na expectativa de que as ações e as promessas de tantas autoridades se concretizem.
E que o Mercado reabra com a máxima brevidade, pleno de pulsações, com homens e mulheres de todos os matizes circulando em seus corredores, em meio a bancas coloridas, numa celebração diária de vida.
Vou, então, fazer a minha parte: convidar Rodrigo para comermos um peixe no Gambrinus.

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